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Índices de confiança desaceleram e explicam perda de fôlego da retomada

Comércio e serviços devem trilhar caminhos diferentes no 2º semestre

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Rodolpho Tobler

Coordenador das Sondagens do Comércio e Serviços do FGV Ibre

Os Índices de Confiança de Serviços e do Comércio voltaram a cair no resultado de setembro de 2021, após um período de forte recuperação daquele momento crítico da pandemia, na virada do primeiro para o segundo trimestre deste ano, quando as medidas restritivas voltaram. Apesar da trajetória parecida nos últimos meses, os resultados sugerem algumas diferenças entre os dois setores.

Pelo lado do comércio, a recuperação vinha sendo muito influenciada pela percepção de melhora da demanda, com as flexibilizações das medidas restritivas, efeito do avanço da vacinação. Porém, desde agosto, já começavam a surgir sinais de desaceleração desse ritmo de retomada, e os empresários se mostraram mais cautelosos na avaliação sobre as expectativas.

Comércio na Rua Melchior Giola, em Paraisópolis, São Paulo - Eduardo Knapp - 14.set.2021/Folhapress

A inflação, a lenta recuperação do mercado de trabalho, a dificuldade da retomada da confiança do consumidor e o elevado nível de incerteza contribuem para esse cenário. Além disso, neste ano, o setor do comércio volta a ter certa concorrência com o de serviços, algo que não ocorreu em 2020, quando ainda se tinham mais restrições para esse setor.

Olhando mais para o setor de serviços, o momento positivo observado nos últimos meses foi muito puxado por alguns segmentos, que sofreram mais ao longo da pandemia, como alojamento, alimentação fora de casa e serviços ligados ao turismo também sendo puxado pelas expectativas.

É possível imaginar um miniboom de serviços a partir desta segunda metade de 2021, considerando o controle da pandemia e a possibilidade da volta das atividades sem restrições para o setor. Ainda não acredito que esse resultado de queda em setembro que seja uma reversão da tendência positiva observada anteriormente, mas já liga o sinal de alerta sobre o ritmo de crescimento do setor nos próximos meses.

Olhando para os próximos meses, os dois setores podem andar por caminhos diferentes. A confiança do comércio dá sinais de desaceleração e não sugere que possa ter uma retomada no curto prazo, ainda mais com o patamar baixo da confiança do consumidor, além das questões macroeconômicas já citadas. Por outro lado, a confiança no setor de serviços ainda tem espaço para avançar, dado que apenas recentemente ele voltou a ficar em nível acima do período pré-pandemia, porém podendo ser em ritmo menos intenso do que esperado anteriormente.

A importância da retomada da confiança de serviços é o reflexo desses dados no mercado de trabalho e na economia brasileira. O setor que mais emprega e com maior peso no PIB ainda se encontra com muita dispersão dentro dele mesmo. As atividades que são mais intensas em tecnologia ou que não contam com práticas que necessitem da presença física das pessoas conseguiram se sobressair desde o início da pandemia.

Olhando para o médio e o longo prazo, os fatores que podem a celerar a recuperação dos serviços e colocar o setor do comércio de volta na trajetória positiva são justamente o controle das variáveis de risco. Em primeiro lugar, é imprescindível o controle da pandemia, pois, caso ocorra novas medidas restritivas, esses setores podem não ter o fôlego que tiveram antes. Além disso, o controle da inflação, a aceleração do mercado de trabalho, a redução da incerteza e a retomada da confiança dos consumidores também se tornam fundamentais.

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