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Bolsa fecha em leve alta e dólar fica estável após atingir R$ 5,50

Acordo sobre dívida nos EUA reduz temor sobre riscos globais e domésticos

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira fechou em leve alta nesta quarta-feira (6), depois de passar todo o pregão em baixa devido à tensão do mercado com a escalada da inflação e o crescimento baixo que afetam o mundo, além dos riscos específicos do Brasil.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, subiu 0,09%, a 110.559 pontos, após ter recuado à mínima de 108.179 ainda na abertura do mercado.

O dólar, que chegou a superar R$ 5,50 pela manhã, recuou à tarde até fechar perto da estabilidade, com ligeiro avanço de 0,01%, a R$ 5,4860.

Painel registra variação de índices na Bolsa de Valores brasileira
Painel registra variação de índices na Bolsa de Valores brasileira - Yasuyoshi Chiba - 23.mai.2012/AFP

A recuperação dos negócios domésticos acompanhou a virada do mercado acionário dos Estados Unidos que, após uma abertura em queda, fechou em alta, com investidores mais otimistas pela perspectiva de congressistas democratas e republicanos chegarem a um acordo para evitar o calote da dívida do governo.

O principal republicano do Senado dos EUA, Mitch McConnell, disse que seu partido apoiará uma extensão do teto da dívida federal até dezembro. Isso evitaria um calote histórico com o potencial de gerar graves impactos econômicos.

Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,30%, 0,41% e 0,47%, respectivamente.

De acordo com o gestor da Galapagos Capital Ubirajara Silva, o mercado teve uma sessão bem volátil, pressionado na primeira etapa por preocupações com a inflação no exterior e queda de mais de 1% do S&P 500, mas revertendo o movimento com a melhora em Nova York após notícias sobre as discussões do teto fiscal nos EUA.

A ligeira alta da Bolsa brasileira também contou com a ajuda da recuperação das ações da Vale, segundo Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

Os papéis da mineradora subiram 2,82% porque, segundo o analista, estavam baratos em relação ao setor, considerando que a demanda por minério de ferro permanecerá alta no curto prazo.

Apesar das altas desta quarta, a volatilidade seguirá presente devido a um horizonte cheio de incertezas devido à escalada generalizada de preços, o que tem forçado bancos centrais de países desenvolvidos a discutirem a elevação das taxas de juros básicos.

Nos Estados Unidos, a inflação tem ampliado a expectativa de que a taxa de juros básicos, que hoje está perto de zero, seja elevada a partir de 2022.

Ruim de modo geral para as Bolsas, a alta de juros em economias sólidas tem ainda mais impacto em países emergentes, situação agravada no Brasil por um cenário fiscal preocupante.

“A curva de juros futuros nos Estados Unidos já está na casa de 1,5% e, com uma economia considerada sem risco remunerando melhor, o risco do Brasil é precificado em algum lugar, e isso aparece no dólar e na Bolsa”, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.

A dificuldade do governo em fechar o Orçamento de 2022 e a pressão pelo aumento de gastos com a aproximação das eleições do próximo ano são, segundo a economista, os principais motivos de preocupação do mercado em relação ao Brasil.

Em comentário a clientes, o diretor de investimentos da TAG Investimentos, Dan H. Kawa, destacou que o Brasil está entrando neste ambiente mais desafiador no exterior em situação bastante delicada e frágil.

Um dos elementos internos de forte pressão sobre a inflação é a alta no preço dos combustíveis, que tende a se intensificar com o atual cenário de aumento na cotação do petróleo.

Na última segunda-feira (4), o preço do petróleo alcançou o maior valor em três anos porque os países membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e aliados decidiram não aumentar o atual nível de produção.

O barril do Brent, referência para o mercado, caiu 2,17%, a US$ 80,77 (R$ 445,01). A alta acumulada no ano, porém, é de quase 56%.

Para tentar aliviar essa pressão, nesta terça-feira (5), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), propôs a partidos da base e da oposição um acordo segundo o qual o ICMS (imposto estadual) incidiria sobre o preço médio dos combustíveis nos últimos dois anos para reduzir o valor da gasolina.

Os governadores, porém, já sinalizaram que são contra a proposta, reforçando o clima de embate entre Brasília e estados, o que piora o cenário político interno do país.

De acordo com Rachel de Sá, independentemente de qual medida está em discussão, o fato de a Petrobras estar no foco de agentes políticos amplia o temor de intervenções na estatal.

Os papéis da empresa (PETR4) caíram 2,65% neste pregão, sendo o segundo maior volume de negociações do dia, pesando significativamente no resultado da Bolsa.

“Os preços dos combustíveis já estão abaixo do mercado internacional devido à alta do petróleo”, diz a analista.

Desde 2017, a Petrobras adota o PPI (preço de paridade de importação), sistema que vincula os preços praticados pela companhia à cotação internacional do petróleo.

A elevação do preço do petróleo ocorre em um momento de aumento da demanda por insumos necessários à geração de energia, situação fortemente influenciada pela redução da produção de carvão mineral na China, segundo Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

O gigante asiático segue firme em seu propósito na substituição da queima de combustíveis fósseis por fontes limpas, como a eólica e a solar.

Durante a pandemia, porém, cadeias de abastecimento do mundo todo foram prejudicadas e, em um cenário de escassez generalizada, faltam também componentes para equipamentos necessários à expansão de turbinas eólicas e placas de células fotovoltaicas, por exemplo.

Na Europa, um outono mais frio também aumentou a demanda por energia, pressionando os preços do gás natural.

Desabastecimento e alta da energia, em um momento de retomada econômica nos países desenvolvidos com a pandemia perdendo força devido à vacinação, são os principais elementos da inflação mundial.

Situação agravada porque um quadro inflacionário ligado à escassez também impede o crescimento, lançando sobre o mercado o temor de uma estagflação.

Estrangeiros tiram R$ 4,8 bi da Bolsa em setembro

O fluxo de capital estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira foi negativo em R$ 4,8 bilhões em setembro, segundo relatório da XP Investimentos divulgado nesta quarta-feira (6).

O saldo mensal voltou a ser negativo, em comparação com o mês anterior, que registrou um saldo positivo de R$ 8,5 bilhões. O saldo de 2021 ainda é positivo, com alta de R$ 71,8 bilhões.

Para evitar a perda de mais investidores e trazer de volta aqueles que saíram, o país precisa solucionar a trajetória os riscos fiscal e político, recuperar o crescimento da economia, contar com um cenário positivo para as commodities e os mercados emergentes, segundo o relatório da XP assinado pelo seu estrategista-chefe, Fernando Ferreira, e pela estrategista Jennie Li.

Os analistas ainda apontam que para um cenário favorável ao capital estrangeiro é necessário que as empresas brasileiras ampliem as iniciativas ESG, que consideram aspectos ambientais, sociais e de governança nas análises de investimento.

Os investidores pessoas físicas também tiraram mais dinheiro do mercado de ações do país em setembro. A queda mensal foi de 4,3% na posição total dos investidores pessoas físicas, o equivalente à redução de R$ 23,4 bilhões. O total investido por esse grupo passou de R$ 537,2 bilhões para R$ 513,9 bilhões.

Ainda assim, na comparação de setembro com a posição no final de 2020 (R$ 452,6 bilhões), houve um aumento de 13,5%.

O cenário de piora da economia brasileira foi renovado nesta quarta com a divulgação do fraco desempenho do comércio.

O volume de vendas do setor varejista do país caiu 3,1% em agosto, na comparação com julho, revelou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A retração é a maior para agosto desde o começo da série histórica, em 2000. O desempenho ficou bem abaixo das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam elevação de 0,6% nas vendas.

O resultado é mais um sinal das dificuldades do país em retomar o crescimento, situação que tende a piorar devido à necessidade do Banco Central em elevar os juros básicos para conter a inflação.

Em relatório divulgado nesta quarata, o Citi projetou que os riscos fiscais domésticos são provavelmente o principal fator para a desvalorização da moeda brasileira, e com a perspectiva de que o ambiente global para mercados emergentes fique menos benigno, o real deve encerrar este ano em R$ 5,47 por dólar.

Há pouco menos de duas semanas, o banco estimava taxa de câmbio de R$ 5,33 por dólar no término de 2021.

Segundo o Citi, a divisa brasileira já tem sido negociada em patamares subvalorizados desde o início da pandemia de Covid-19, uma vez que, "com exceção do prêmio de risco, todas as outras variáveis estão em níveis que deveriam ter ajudado uma valorização do real".

Entre esses fatores, o relatório apontou a alta dos preços das commodities, os patamares mais baixos do índice do dólar atingidos durante a pandemia e o aumento recente do diferencial de juros entre Brasil e economias avançadas.

Isso, por sua vez, sugere que "riscos domésticos relacionados principalmente a incertezas fiscais podem ser a grande força mantendo o real desvalorizado", escreveram no documento Leonardo Porto (economista-chefe do Citi no Brasil), Thais Ortega e Paulo Lopes (economistas).

Com Reuters

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