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Pesquisadores da Nova Zelândia buscam reduzir emissões de metano da pecuária

Estudos avaliam desde inibidores na ração até a criação de uma vacina que age no intestino dos animais

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Neil Sands
Palmerston North (Nova Zelândia) | AFP

Situado no interior da Nova Zelândia, um centro de pesquisa se esforça para reduzir os gases de efeito estufa liberados pelo gado na atmosfera.

Bovinos e ovelhas são colocados em um curral de acrílico por dois dias por sessão. Durante esse tempo, os cientistas analisam cuidadosamente cada arroto e flatulência que eles emitem no Centro de Pesquisa de Gases de Efeito Estufa da Agricultura da Nova Zelândia.

"Nunca teria acreditado que ganharia a vida medindo gases de animais", brinca o diretor do local, Harry Clark.

Considerado um líder mundial em pesquisa de emissões de gado, o centro é financiado publicamente em 10 milhões de dólares neozelandeses (cerca de US$ 7 milhões, ou R$ 38,9 milhões) anualmente.

80 vezes maior em CO2

De acordo com as Nações Unidas, a pecuária é responsável por 14,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa gerados pela atividade humana.

A origem do problema está nos intestinos dos ruminantes, que usam micróbios para digerir parcialmente a comida, fazendo-a fermentar em um compartimento do estômago antes de regurgitá-la para mastigar.

Esse processo gera grandes quantidades de metano, gás cujo "potencial de aquecimento global" é 80 vezes maior que o dióxido de carbono em um período de 20 anos, segundo a Comissão Econômica da ONU.

Estima-se que haja 1,5 bilhão de vacas no planeta, e cada uma delas é capaz de produzir 500 litros de metano por dia.

Além disso, a urina do gado contém óxido de nitrogênio, outro poderoso poluente climático.

Na Nova Zelândia, um país que depende fortemente da agricultura, cerca de metade das emissões de gases de efeito estufa vêm desse setor. O metano produzido pelo gado constitui 36% das emissões totais do país.

"A Nova Zelândia tem um problema específico e é imperativo que forneçamos aos agricultores as ferramentas e tecnologias para reduzir suas emissões", disse Harry Clark à AFP.

Vacina antimetano

O centro de pesquisas, sujeito à aprovação de um comitê de ética, estuda, por exemplo, programas de criação seletiva para desenvolver linhagens de animais que produzam menos gases naturalmente.

Clark explica que criaram ovelhas que produzem 10% menos metano que a média, e que os pesquisadores buscam resultados semelhantes com bovinos.

Outros projetos buscam adicionar aditivos inibidores de emissões à ração animal, ou colocar um arnês ou máscara que filtre o metano antes que ele saia da boca do animal.

Mas, para Clark, a perspectiva mais promissora desenvolvida neste momento em Palmerston North é uma vacina que reduz o metano, tendo como alvo os micróbios no intestino que produzem esse gás.

"Estamos muito próximos da meta, funciona em laboratório, mas ainda não no animal", afirma, destacando que essa vacina poderia ser facilmente administrada em rebanhos de todo o planeta com impacto imediato nas emissões globais.

"Se encontrarmos soluções aplicáveis em outro lugar, a Nova Zelândia, uma pequena nação, pode dar uma grande contribuição para o esforço global de redução de emissões", estima Clark.

Mas os críticos dessa abordagem acreditam que ela oferece apenas vantagens de curto prazo e soluções "improvisadas" para grandes problemas.

"Reduzir a produção de metano e criar mais animais que o produzem é ignorar o sofrimento animal, o desmatamento e o aumento do risco de doenças, todos associados à pecuária", disse Aleesha Naxakis, porta-voz da ONG Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais).

O governo da Nova Zelândia se comprometeu a reduzir o metano emitido pelo gado em 10% até 2030, e passar de 24% para 47% até 2050, a partir dos níveis de 2017.

Mas alguns se perguntam por que o lucrativo setor agrícola está sendo tratado de maneira diferente do restante da economia, que tem uma meta de zero emissões líquidas até 2050.

O portal de monitoramento Climate Action Tracker considera as políticas climáticas da Nova Zelândia "muito insuficientes", citando a exclusão do metano como uma das principais razões para sua baixa classificação.

"Com a aproximação da COP26, se os governos não tomarem medidas imediatas para garantir a transição de nosso sistema alimentar global de animais para plantas, destruiremos a única casa que temos", avisa Naxakis.

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