Sistema financeiro do Brasil está pronto para mudança de juros nos EUA, diz diretor do BC

Otavio Damaso recomenda aos bancos que reforcem investimentos em cibersegurança na atual digitalização dos serviços

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São Paulo

A redução dos estímulos e um possível aumento da taxa de juros nos Estados Unidos já concentram as atenções dos investidores e devem balizar a tomada de decisões para 2022.

O cenário com essas mudanças também está no radar do BC (Banco Central) no Brasil, afirmou o diretor de regulação da instituição, Otavio Damaso.

Durante sua participação em evento online da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), nesta quarta-feira (13), Damaso disse que o processo de normalização das condições monetárias e financeiras internacionais traz desafios para as economias emergentes, na medida em que eventuais descompassos entre a expectativa dos agentes financeiros e as ações das autoridades econômicas avançadas podem trazer volatilidade aos mercados.

No entanto, o diretor do BC afirmou que todos os exercícios realizados pela autoridade monetária apontaram que o sistema financeiro nacional está bem preparado para lidar com esse cenário de maior volatilidade nos mercados globais. “Inclusive em virtude da baixa dependência de capital externo no nosso sistema”, afirmou Damaso.

Sede do Banco Central em Brasília
Sede do Banco Central em Brasília - Adriano Machado - 29.out.2019/Reuters


De toda forma, apesar da resiliência identificada entre as instituições financeiras, o diretor do BC recomendou também que, diante das incertezas no cenário internacional, a “destinação de lucros se faça conservadora”.

Sob uma ótica dos riscos de caráter mais estrutural enxergados pela autoridade monetária, Damaso destacou a necessidade de as instituições financeiras locais investirem de maneira permanente na prevenção de incidentes cibernéticos, que têm crescido —especialmente quando se considera que a agenda do BC busca aumentar o processo de digitalização para elevar a competição do setor, afirmou o diretor.

“O sistema financeiro deve manter o nível máximo de resiliência cibernética, requisito fundamental para assegurar a manutenção da credibilidade”, disse Damaso.

Ele enfatizou também a importância de as instituições financeiras estarem atentas para incluir métricas de avaliações relativas aos riscos sociais e ambientais do negócio.

“Ainda estamos nos primeiros passos da jornada para entender melhor como os riscos sociais e climáticos se materializam de fato”, afirmou o diretor do BC, acrescentando que os bancos precisam ter em mente que essa nova agenda ESG irá trazer diversas oportunidades para a realização de bons negócios.

Presidente da Febraban, Isaac Sidney apontou, por sua vez, que os bancos brasileiros conseguiram navegar bem o ambiente desafiador dos últimos meses, com cerca de R$ 1,4 trilhão em ativos líquidos de alta qualidade no fim do ano passado.

Desse total, Sidney assinalou que aproximadamente R$ 450 bilhões são recolhidos compulsoriamente junto ao BC. “Os compulsórios representam custos adicionais aos bancos e redução da sua capacidade de alavancagem. Nossa expectativa é que os novos mecanismos de assistência financeira de liquidez possam, no médio e longo prazo, levar a uma redução estrutural dos depósitos compulsórios. Vamos perseverar nesse pleito do setor”, disse o presidente da Febraban.

Ex-diretor de relações institucionais do BC, Sidney afirmou que a autoridade monetária tem se mostrado sensível para uma transição suave da saída dos instrumentos para combater os efeitos da crise, sobretudo diante de um ano eleitoral e seus naturais efeitos de incerteza e volatilidade sobre os mercados.

Ele ressaltou ainda que a assimetria regulatória é um tema caro para o setor. "Temos tratado desse tema com toda transparência e continuaremos determinados a buscar o equilíbrio na indústria em relação aos players que tem o mesmo tamanho, exercem as mesmas atividades e oferecem risco semelhante”, afirmou Sidney.

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