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América Latina deve evitar trocar Odebrecht por empresas chinesas, diz chefe do BID

Presidente do banco de desenvolvimento diz que companhias são subsidiadas pela China e questiona integridade

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Alfons Luna
Madri | AFP

O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o americano Mauricio Claver-Carone, criticou a presença de empreendimentos chineses na América Latina.

O problema seria que a região trocasse "a era da Odebrecht pela era das empresas chinesas", disse Claver-Carone.

A construtora brasileira esteve no centro de escândalos políticos envolvendo o pagamento de propinas a políticos no Brasil e em outros países da região.

O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Mauricio Claver-Carone - Gabriel Bouys - 11.nov.2021/AFP

"As empresas chinesas deturpam os mercados. Por quê? Porque são empresas subsidiadas pelo Estado e, francamente, são empresas sem padrões de integridade", disse o presidente do BID.

Segundo Claver-Carone, a preocupação é como estas empresas afetam "um ecossistema que já tem muitos problemas, burocráticos, de corrupção, de transparência etc. É como uma tempestade perfeita".

Nos últimos 20 anos, a China ganhou terreno frente aos Estados Unidos nas Américas, transformando-se no principal parceiro comercial de quase todos os países sul-americanos, concedendo créditos com juros baixos e investindo em projetos de infraestruturas, como transmissão e produção de energia, portos e estradas.

A China representa 12% das exportações e 18% das importações de toda a região da América Latina e do Caribe, segundo um relatório do think tank BSI Economics, sediado em Paris. Entre 2004 e 2019, as exportações e importações da região frente à China se multiplicaram por dez e por oito, respectivamente, segundo a mesma fonte.

Apesar de o BID ser sediado em Washington, Claver-Carone se tornou, há um ano, o primeiro americano no comando da instituição, um dos maiores bancos regionais de desenvolvimento em nível mundial, após ter seu nome proposto pelo governo de Donald Trump.

Nascido em Miami e com raízes cubanas, ele afirma não ser contrário à presença de empresas chinesas na América Latina, mas pede que isso seja feito "sob um marco transparente e em um campo de disputa igual para todos".

Como principal sócio financeiro da região, o BID busca investimentos que possam gerar crescimento sustentável, inclusivo e de longo prazo, diz. "E as melhores empresas para fazê-lo são as americanas, europeias, japonesas, coreanas etc", defende.

Claver-Carone assinala que, no passado, algumas das empresas desses países podem até ter ignorado esses critérios na América Latina, mas diz que o mundo empresarial evoluiu muito e, atualmente, tem outros padrões.

O presidente do BID também atribui parte da culpa no problema de abastecimento que afeta o comércio mundial ao fato de que grande parte da produção está radicada na China, e avalia que é preciso fazer uma descentralização da indústria, que poderia beneficiar a América Latina.

Nesse sentido, segundo Claver-Carone, se os países da América Latina e do Caribe fossem responsáveis por 10% das exportações chinesas para os Estados Unidos daqueles mesmos produtos que eles também exportam para a nação norte-americana, a região receberia US$ 72 bilhões adicionais, quantia que classificou como transformadora.

Além disso, o presidente do BID reivindicou que sua instituição seja dotada de maior capacidade de financiamento. Assim que assumiu o cargo há um ano, Claver-Carone estabeleceu como meta que essa capacidade passasse de US$ 11 bilhões para US$ 23 bilhões anuais.

"Não vamos conseguir cumprir as missões de amanhã com os recursos de ontem. Por isso é preciso fortalecer" o BID, defendeu.

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