O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu que a Comissão Federal de Comércio (FTC na sigla em inglês) investigue se as maiores companhias de petróleo do país, incluindo ExxonMobil e Chevron, estão envolvidas em "conduta potencialmente ilegal" que resulta no aumento dos preços da gasolina para os americanos.
Em uma carta à presidente da FTC, Lina Khan, Biden disse que há "crescentes evidências de comportamento anticonsumidor" no mercado, comentando que as duas "maiores companhias de petróleo e gás... conforme medido pela capitalização de mercado" estavam planejando "bilhões de dólares em recompra de ações e dividendos", enquanto os preços nas bombas continuam subindo.
As duas principais companhias americanas de gás e petróleo em avaliação de mercado são a Exxon e a Chevron.
Biden disse que as empresas estão "gerando [lucros] significativos", e acrescentou: "A conclusão é esta: os preços da gasolina na bomba continuam altos, apesar de os custos das companhias de petróleo e gás estarem diminuindo".
A intervenção do presidente ocorre enquanto ele enfrenta crescente pressão política sobre o aumento dos preços do combustível e da inflação. Seu índice de aprovação caiu nas últimas semanas, com uma parcela maior de americanos adotando uma visão negativa de sua condução da economia.
O governo Obama também recrutou a FTC para investigar o aumento dos preços da gasolina como parte de um "grupo de trabalho sobre fraude no preço do petróleo e do gás" anunciado em 2011. A comissão determinou que o principal fator dos preços do combustível era o preço do petróleo cru.
Em 2006, o presidente George W. Bush pediu uma investigação sobre possível manipulação de preços pelas companhias de petróleo.
O governo Biden está considerando liberar petróleo cru do estoque estratégico federal na tentativa de fazer baixar o preço do combustível, e pediu diversas vezes que a Arábia Saudita, a Rússia e outros países da Opep+ aumentem a produção de cru.
"A FTC está preocupada com essa questão, e a estamos estudando", disse o órgão regulador.
A Exxon não respondeu imediatamente a pedidos de comentários. A Chevron remeteu o Financial Times ao grupo setorial Instituto Americano do Petróleo, que disse que a carta de Biden foi uma "distração da mudança fundamental do mercado que está ocorrendo" e culpou o governo por restringir os suprimentos de petróleo americano.
Os preços do petróleo cru caíram a pisos recordes no ano passado enquanto os lockdowns por causa da pandemia devastavam a demanda, mas mais que duplicaram desde que os resultados da vacinação foram divulgados em novembro passado e as restrições sociais foram atenuadas.
O aumento dos preços do cru também pressionou os preços do petróleo nos EUA, com um galão (3,78 litros) de gasolina vendido hoje em média por US$ 3,41 (US$ 1,10 por litro, ou R$ 6,11) —um aumento de 60% nos últimos 12 meses—, segundo o grupo automobilístico AAA.
A carta de Biden a Khan marca uma escalada na retórica da Casa Branca sobre a concorrência na indústria de petróleo e gás. Brian Deese, diretor do Conselho Econômico Nacional, enviou uma carta a Khan em agosto pedindo que a FTC reprimisse qualquer conluio no mercado de petróleo dos EUA.
Os críticos de Biden no setor de petróleo culpam o governo, devido a suas políticas climáticas e os limites a novas prospecções, pelo aumento dos preços, mas analistas dizem que a pressão de Wall Street sobre as operadoras para saldar dívidas atrasadas e capital prejudicou a recuperação da prospecção depois da queda dos preços no ano passado.
A produção de petróleo dos EUA é de aproximadamente 11,5 milhões de barris/dia, segundo a Administração de Informação sobre Energia, cerca de 12% abaixo de seus picos pré-pandemia. O consumo de petróleo nos EUA atingiu um piso de aproximadamente 5 milhões de barris/dia durante os lockdowns no ano passado, mas quase duplicou desde então.
Analistas disseram que a carta de Biden à FTC seguiu um manual político conhecido para presidentes que buscam culpados pelo aumento do preço dos combustíveis, e que teria pouco impacto nos preços.
"Quantas vezes a FTC investigou preços de gás e não deu em nada? É um truque político", disse Robert Campbell, chefe de produtos de petróleo na consultoria Energy Aspects.
"A maior influência nos preços da gasolina é o preço do cru. O mercado global está apertado. Não há muito que os EUA possam fazer sobre isso neste momento", disse Campbell.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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