Com o resultado divulgado hoje, mais uma vez o IPCA acumulado em 12 meses reforça a tendência de alta persistente da inflação. Desde maio de 2020, quando o índice acumulado em 12 meses foi de 1,88%, somamos 17 altas seguidas, atingindo agora no mês de outubro o valor de 10,67%.
De fato, não se trata apenas de uma alta momentânea global e nem deve ser exclusivamente atribuída aos efeitos colaterais das restrições impostas pela Covid-19 no Brasil e no mundo.
No Brasil atual, a inflação encontrou um terreno fértil para se espalhar. Começou ainda no final do ano passado com aumentos pontuais e localizados em combustíveis e foi cultivada com uma política monetária mais frouxa durante todo o primeiro semestre deste ano.
A partir da metade do ano, o ambiente de desalinhamento institucional entre os três poderes proporcionou uma desvalorização cambial ainda mais forte do que quase qualquer outra moeda no mundo. Como exemplo, podemos citar que desde junho de 2021 até agora, o real se desvalorizou mais do que o peso argentino frente ao dólar.
Os três fatores acima contribuíram para disseminar a inflação em todos os nove grupos de produtos e serviços medidos pelo IBGE.
Agora, vivemos sob o risco da volta de um fenômeno antigo que tanto perseguiu a economia brasileira: a memória inflacionária.
Mesmo depois do Plano Real, o Brasil manteve em várias concessões e contratos, cláusulas de indexação, ou seja, reajustes automáticos a partir da variação de IPCA, IGPM, INCC e outros indicadores de inflação. Desde pedágios até dissídios coletivos de trabalho.
Assim, com a inflação persistindo em dois dígitos anuais, será mais difícil combatê-la, pois ela se retroalimenta de forma automática e inercial.
Com o cenário descrito acima, o que devemos esperar para os próximos meses? Uma ação mais forte de elevação de juros do Banco Central, que infelizmente, embora necessária, não será suficiente para diminuir a inflação.
Entraremos 2022 num ambiente bastante desafiador e desfavorável para combater a inflação. Provavelmente, a tarefa ficará, como mais um legado maldito, para o próximo governo a partir de 2023.
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