Descrição de chapéu férias

Burocracia e dólar alto impedem venda de viagem internacional de decolar

Regras para receber turistas estrangeiros variam muito entre os países, especialmente na Europa

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Brasília

No mundo pós-Covid, o passaporte não é suficiente para garantir a entrada do viajante estrangeiro. Também é preciso atestar que recebeu as duas doses da vacina contra o novo coronavírus.

Mas se você vai para a Europa e foi imunizado com a Coronavac, prepare-se para não ser aceito em ambientes fechados em locais como Paris –na opinião das autoridades europeias, a vacina da Sinovac não é segura o suficiente.

Além de estar completamente imunizado, países também podem exigir que o visitante faça o teste anti-Covid antes de viajar ou ao aterrissar, como a Holanda. Ou, pelo menos, que preencha um formulário de controle sanitário, caso da Espanha. Há ainda quem nem tenha aberto fronteiras aos brasileiros, como a Itália.

Para viajar aos Estados Unidos, onde voltaremos a ser bem-vindos nesta segunda-feira (8), a dificuldade maior está em atualizar o visto. Há uma longa fila de espera para quem está com o documento vencido. Fora o "detalhe" de pagar ​estadia, alimentação e passeios em dólar:

Com a moeda americana beirando R$ 5,70, só o passaporte individual para três dias em parques temáticos da Disney, por exemplo, passeio preferido do brasileiro, custa R$ 2.500.

Apesar do avanço da vacinação no Brasil, e do fim das barreiras em diversos países, companhias aéreas e agências de turismo não estão animadas com as próximas férias no tocante a viagens internacionais. O dólar caro torna passeios proibitivos, o preço das passagens subiu por conta do aumento de custos como combustível, enquanto as restrições sanitárias diferentes de país para país deixam muitos viajantes confusos e inseguros.

Passageiros e malas se amontoam no saguão do aeroporto, com terminais indicando as próximas viagens
Movimento no terminal 3 do aeroporto internacional de Guarulhos (SP), às vésperas do feriado de Finados. - Eduardo Anizelli/ Folhapress

"Só vamos voltar a ter o mesmo fluxo de viagens internacionais em 2023", afirma Diogo Elias, diretor de vendas e marketing da Latam Brasil, a aérea brasileira líder na oferta de voos internacionais.

Antes da pandemia, em 2019, eram 309 decolagens semanais rumo a 26 destinos do exterior. Hoje, são 104 decolagens para 16 destinos. Os voos internacionais, que antes respondiam por 33% da receita, hoje representam 12%.

"Temos boas expectativas quanto à retomada dos voos aos Estados Unidos, para Nova York, Miami e, especialmente para Orlando, o destino mais procurado pelos brasileiros", diz Elias, que tem percebido o aumento na procura depois que a maior economia do mundo anunciou o fim da barreira a brasileiros.

A empresa volta a voar para Miami e Nova York este mês e para Orlando em dezembro, quando também retoma a rota para Londres.

"Mas apesar do avanço da vacinação, o passageiro tem receio de se contaminar durante o voo, por ficar muito tempo em um avião. Também existe a confusão acerca do tipo de teste anti-Covid que precisa ser feito e das restrições para circular nos diferentes países", afirma Elias.

Ele lembra que o custo da viagem é só uma parte do passeio –que inclui estadia e alimentação em um momento de real muito desvalorizado. "Tudo isso limita as vendas de voos internacionais".

Do ponto de vista econômico, inflação e desvalorização cambial não têm sido só um problema nacional; atinge também os hermanos. Com o peso argentino valendo cerca de R$ 0,57, pode valer a pena aos brasileiros visitar Buenos Aires. Mas a recíproca não é verdadeira para qualquer destino brasileiro, o que faz com que a oferta de voos para a Argentina também seja restrita.

"Antes da pandemia, nós fazíamos 55 voos semanais para a Argentina. Hoje fazemos 16", diz o executivo da Latam Brasil.

A Azul nem sequer retomou os voos para o país vizinho. "A situação econômica na Argentina está pior que a do Brasil e não vamos voltar agora", diz Vitor Silva, gerente de planejamento de malha da Azul "Lá, tem agência parcelando passagens em até 36 vezes".

Para a companhia, a menor das brasileiras a operar na Argentina, é mais interessante concentrar os esforços internacionais nos EUA. "Em dezembro, a frequência para a Flórida será diária, temos muitos passageiros com residência na região", diz Silva.

No mês que vem, também retornam os voos da Azul para Orlando, mas o executivo avalia que a demanda para a cidade será mais contida, por conta dos preços para visitar os parques da Disney.

"Hoje tenho dez voos diários para Porto Seguro. Se o dólar estivesse a R$ 1, teria dez voos por dia para a Flórida", diz o executivo, destacando também o interesse dos passageiros por Lisboa, destino para o qual a Azul voltou a voar em outubro.

"Nos Estados Unidos, mesmo contratando o seguro viagem, existe ainda o temor do viajante em relação à contaminação, uma vez que a saúde no país não é pública".

Na opinião de Bruno Balan, gerente de planejamento estratégico de malha aérea da Gol, a série de restrições impostas por EUA e Europa deve contribuir para a busca de destinos para o Caribe, com destaque para Punta Cana, na República Dominicana, e Cancún, no México, para os quais a empresa volta a voar este mês.

"A viagem para um resort all inclusive [refeições e serviços incluídos] nestes destinos pode ser mais bem planejada pelo consumidor, além de não exigir quarentena", diz Balan, afirmando que o preço das passagens internacionais está entre 20% e 30% mais caro em relação a 2019, por conta do dólar e do combustível (querosene de aviação).

A companhia aérea volta a oferecer este mês voos para a capital uruguaia, Montevidéu, e no mês que vem para Buenos Aires. Cada trecho dos destinos internacionais da Gol custa hoje entre US$ 400 e US$ 500 (entre R$ 2.200 e R$ 2.800).

Aos Estados Unidos, a empresa acaba de decidir que só volta no segundo trimestre de 2022, com viagens para Miami e Orlando. "Não adiantava voltar antes, por conta da dificuldade de obtenção de vistos e também por conta do câmbio alto", diz Balan.

"Se uma única pessoa de uma família não tem visto, isso impede a viagem de todos".

Segundo o diretor comercial do grupo Air France-KLM para a América do Sul, Steven van Wijk, toda vez que um mercado europeu reabre suas fronteiras há um impacto positivo imediato nas reservas feitas no Brasil e, consequentemente, na taxa de ocupação dos voos.

"A ocupação tem melhorado significativamente desde junho de 2021 e está hoje no seu maior nível desde o início da crise, mas ainda não nos níveis de 2019", diz o executivo, ressaltando que as reservas da Europa para o Brasil também estão crescendo.

Até o fim do mês, o grupo estará com 27 ligações semanais em operação a partir do Brasil para Paris e Amsterdã. Antes da pandemia, o grupo tinha eram 44 operações semanais.

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