Descrição de chapéu The New York Times

Criptomoeda inspirada em 'Round 6' quebra e gera dúvidas no setor

Squid, criptoativo baseado na série, chegou a atingir US$ 2.856, mas perdeu quase todo o valor em cinco minutos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

John Yoon
Seul | The New York Times

Milhões de dólares desapareceram em questão de minutos depois que investidores atraídos por uma nova criptomoeda inspirada na popular série da Netflix "Squid Game" (intitulada "Round 6" no Brasil) viram seu valor despencar a quase zero em poucas horas.

A criptomoeda, chamada Squid, começou a ser negociada no início da semana passada ao preço de apenas US$ 0,01 (R$ 0,06) cada. Nos dias seguintes, ela chamou a atenção de vários canais de mídia da corrente dominante. Na segunda-feira (1º) de manhã, era negociada a US$ 38 (R$ 215,41)por token em uma bolsa de criptomoedas chamada Pancakeswap.

Então a Squid entrou numa viagem de montanha-russa. Em um período de dez minutos na tarde de segunda, o valor da ficha subiu de US$ 628,33 (R$ 3.561,88) para US$ 2.856,65 (R$ 16.193,77), segundo a CoinMarketCap, site de rastreamento de criptodados. Então, cinco minutos depois, ela valia US$ 0,0007.

Pessoas em fila vestida de verde e outras com capuz e mascara de com triangulo
Cena da série sul-coreana 'Round 6', da Netflix - Reprodução

Mais de 40 mil pessoas ainda detinham o token depois da quebra, segundo a BscScan, máquina de buscas de blockchain e plataforma analítica. Um deles foi John Lee, 30, de Manila, nas Filipinas. Ele disse que gastou US$ 1.000 (R$ 5.669) em tokens da Squid, pensando "meio instintivamente" que ela tinha sido autorizada pela série da Netflix.

Lee disse que ficou surpreso quando soube que não poderia vender os tokens imediatamente. Ele pode vendê-los agora, mas ficaria com "quase nada", segundo disse.

Sharon Chan, porta-voz da Netflix, não quis comentar.

Os motivos por trás do colapso da Squid, relatado mais cedo por Gizmodo, não ficaram claros. Tampouco a identidade de seus criadores. Seu site na web parecia estar fora do ar. Um email enviado para seus desenvolvedores foi devolvido. Seus canais nas redes sociais pareciam ter sido fechados. Sua conta no Twitter não aceitava mensagens diretas ou respostas.

A plataforma de corretagem Pancakeswap não respondeu a um pedido de comentários.
Na sequência, o mundo das criptomoedas está se perguntando se a Squid era o que Molly Jane Zuckerman, chefe de conteúdo na CoinMarketCap, chamou de "puxada de tapete", em que os apoiadores de uma criptomoeda efetivamente deixam o mercado e levam consigo os fundos dos investidores.

"Não estou vendo os desenvolvedores aparecendo online e dizendo: 'aguentem conosco, desculpem, vamos resolver isso', que é o que acontece quando há algum tipo de problema não malicioso", disse ela.

A quebra da Squid salienta as brechas regulatórias sobre criptomoedas, enquanto agências do governo e firmas privadas correm para entender o investimento volátil, mas cada vez mais popular.

Os desenvolvedores de moedas meme como Squid raramente se identificam, disse Yousra Anwar, editora da CoinMarketCap. Se os investidores suspeitam de desvios financeiros, eles podem ser passados de país para país, ou de um órgão regulador para outro, para investigação.

A Squid chegou com algumas funções incomuns que podem ter alarmado os investidores, disse Anwar. Os desenvolvedores exigiam que os compradores fossem em número maior que os vendedores de dois para um para permitir uma venda.

Os desenvolvedores chamavam o limite de vendas de mecanismo "anti-dump", segundo um documento que já esteve online, no qual os desenvolvedores descrevem as características e as bases técnicas de sua criptomoeda. Anwar disse que esses mecanismos tinham o objetivo de conter quebras, e não de evitar que os detentores vendessem no curso normal do pregão.

Os desenvolvedores também exigiam que os usuários obtivessem tokens de uma segunda criptomoeda, chamada Marbles, para vender suas fichas de Squid, segundo o documento. Marbles só podiam ser ganhas participando de um jogo online inspirado pelo seriado. Para participar do primeiro jogo, por exemplo, os jogadores precisavam pagar uma taxa de 456 tokens Squid. Os níveis seguintes custavam milhares de tokens para entrar.

Essas características impediram que muitos detentores vendessem quando o valor despencou, disse Zuckerman.

A quantia investida e perdida nas fichas é difícil de calcular, disse ela. Mas a BscScan rotulou dois endereços cripto como associados ao que ela chamou de "puxada de tapete" da Squid. Um deles trocou US$ 3,38 milhões em Squids por uma cripto popular chamada BNP, mostrou a página da BscScan. Para completar as transações, os dois endereços usavam Tornado Cash, que é um "liquidificador de moedas", ou uma companhia de software que serve de intermediária entre as partes e torna difícil rastrear transações, segundo Zuckerman.

"Qualquer um pode inventar o nome de uma criptomoeda", disse ela. "Você poderia inventar uma ficha 'Mad Men', ou uma 'Succession'. Por isso é realmente importante fazer sua própria pesquisa."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.