Dona da Telhanorte aposta em retomada de hotéis e escritórios

Para Javier Gimeno, presidente do grupo Saint-Gobain na América Latina, 2022 ainda será ano com inflação alta

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São Paulo

Desde julho na presidência para a América Latina da multinacional francesa Saint-Gobain, especializada no setor de construção civil, o espanhol Javier Gimeno afirma que melhorias no processo industrial permitiram que o grupo segurasse parte do repasse da inflação ao consumidor. Ainda assim, foi preciso subir os valores dos produtos. "Acredito que 2022 ainda será um ano inflacionista", diz.

O grupo planeja terminar este ano com crescimento de 40% no faturamento no Brasil, e alcançar 15% no próximo. Para fomentar esse aumento, o executivo aposta em uma retomada do mercado de construção civil não-residencial, como o de escritórios e hotéis. Com a volta do trabalho presencial, ou pelo menos híbrido, "as equipes precisam de um nível de conforto, saúde e segurança maior do que antes", analisa.

A multinacional, que tem entre suas marcas Brasilit, Quartzolit e Telhanorte, vai investir 100 milhões de euros (R$ 627 milhões) no país até dezembro, em ações como a construção de uma nova linha de placas de gesso, em Mogi das Cruzes (SP), uma nova fábrica de telhas de fibrocimento em Abadiânia (GO) e a ampliação da produção desse produto em Recife.

A linha de Mogi promete aumentar em 50% o reaproveitamento interno de resíduos e vai atender o mercado de construção a seco, que gera menos desperdício de água.

Homem branco de terno, sorrindo para foto
Javier Gimeno, presidente da Saint-Gobain para a América Latina - Jean Chiscano/Divulgação

Qual o impacto da alta da inflação nos negócios da companhia? Ela está sendo repassada aos produtos? Inflação é um problema mundial. A demanda explodiu e os fornecedores não têm possibilidade de seguir essa demanda, então, como consequência, os preços sobem. Neste contexto, é necessário compreender se esta inflação é conjuntural ou estrutural. Não tenho como responder, mas acredito que 2022 ainda será um ano inflacionista.

Na Saint-Gobain, temos cultura industrial muito forte e isso nos permite compensar uma parte da inflação com melhorias nos processos de fabricação. Mas a inflação foi tão importante nos últimos meses que, para preservar nossa rentabilidade, tivemos que aumentar os preços, de forma mais limitada do que a inflação, mas esse aumento aconteceu e creio que vai continuar ainda em 2022.

A construção civil apresentou bons resultados no Brasil neste ano, esperam que isso se mantenha no ano que vem? A indústria de construção está tendo um ano fantástico no Brasil, na América Latina. A primeira razão para isso é que estamos comparando com a demanda de 2020, que foi baixa por causa da pandemia. A segunda é que a pandemia acelerou a demanda por tipos de produtos que a Saint-Gobain produz, que têm relação direta com saúde, conforto e sustentabilidade. A terceira é que as pessoas têm gastado mais do que nunca na renovação das suas casas, porque passaram muito mais tempo nelas e ganharam consciência da necessidade de melhorar seu habitat doméstico.

As reformas vão continuar mesmo com o arrefecimento da pandemia? Não vejo uma degradação dessa tendência, ela segue estável e é de longo prazo, porque é uma mudança cultural.

A renovação vai continuar a ser elemento de crescimento importante para a Saint-Gobain, porque o mercado residencial novo não deverá ser muito dinâmico em 2022. Acredito que o número de novos prédios vai ficar mais ou menos igual [a 2021].

Para 2022, o que eu espero também é uma reativação do mercado não-residencial, dos escritórios e hotéis, que esteve muito fraco em 2021. Agora, as equipes estão voltando [a trabalhar presencialmente] e precisam de um nível de conforto, saúde e segurança maior do que antes. Elas precisam de espaço maior.

Vocês tiveram que mudar planos de expansão no país por causa dos efeitos da pandemia? Neste ano, anunciamos três novas fábricas que estão em processo de construção e que devem começar sua atividade industrial até 2023. Tudo isso é um investimento de dinheiro considerável [100 milhões de euros], mas é o que precisamos fazer para continuar crescendo no ritmo que queremos crescer aqui.

No ano passado, vocês projetavam 17% de crescimento no faturamento para 2021. Qual resultado devem atingir e qual a expectativa para 2022? Teremos de 35% a 40% de crescimento neste ano em relação ao ano passado, na América Latina, e 40% no Brasil. Nós estávamos otimistas no começo do ano, mas fizemos melhor do que esperávamos. Já a taxa de crescimento em 2022 não deverá ser tão alta porque vamos comparar com um ano mais exigente, mas queremos crescer dois dígitos.

Qual a situação da Saint-Gobain nos outros países da América Latina? Estamos crescendo muito no México, na Colômbia, no Peru e no Chile. Mas o Brasil está mais avançado, tem demanda mais sofisticada, e a presença da Saint-Gobain é maior. O Brasil representa quase dois terços das vendas na América Latina.

Nós temos uma estratégia muito ambiciosa para a América Latina: é uma região que precisa de uma regeneração urgente do espaço urbano. A taxa de urbanização é muito alta, mas sem levar em conta necessidades em termos de sustentabilidade, conforto e bem-estar. A reforma desses espaços urbanos vai trazer crescimento extremamente importante para empresas como a Saint-Gobain, que propõem esse tipo de solução.

Qual o interesse do mercado brasileiro em construção mais sustentável? Há resistência à mudança do método tradicional? A construção é uma indústria muito tradicional, no Brasil e em todo lugar. A inovação precisa de longo tempo, mas creio que as condições aqui são muito boas para uma aceleração do uso do tipo de produto e serviço proposto pela Saint-Gobain, vejo que a classe média brasileira está esperando esse tipo de produto.

Creio que há duas tendências importantes: a primeira é uma necessidade de produtividade, a indústria precisa construir mais rápido e mais barato, e para isso precisamos pôr à disposição dela soluções mais fáceis em termos de instalação. A segunda é que, em termos de sustentabilidade, precisamos de soluções menos custosas na utilização de recursos e emissão de CO2.

A diferença com outros países é que no Brasil tudo depende da demanda dos clientes finais, porque, por enquanto, a legislação não define como necessária a utilização desse tipo de produto. Na França, você tem obrigação de construir prédios com baixa emissão de CO2, e no Brasil isso não existe. Mas creio que, com os países mais orientados a ser sustentáveis, essa legislação vai chegar.

O que te faz pensar isso? Por duas razões: a primeira é porque é o que quer a sociedade brasileira. As pessoas ficam preocupadas com a mudança climática, com o nível de conforto e bem-estar das suas casas, e vão demandar esse tipo de produto. A segunda é que as autoridades políticas do Brasil têm compromisso com outros países em termos de sustentabilidade.

Como é possível fazer essa redução de emissões? Com soluções em termos de isolamento térmico e solar. Se você isola um prédio e não há intercâmbio de temperatura entre o interior e exterior, não precisa de aquecimento nem de ar-condicionado. Hoje estamos em condições de isolar completamente um prédio. Mas é um investimento em termos de redução de gasto de energia e de emissão de CO2. Se você olhar o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa, isso é tendência.


Javier Gimeno, 56

Formado em economia pela Universidade de Navarra (Espanha), com MBA pela IE Business School, de Madri, ingressou na Saint-Gobain em 1990. Já ocupou os cargos de vice-presidente de marketing e vendas da Saint-Gobain Sekurit Internacional, presidente da Saint-Gobain Glass Solutions da França, presidente da Saint-Gobain Sekurit Ásia-Pacifico, diretor-executivo e vice-presidente do grupo Saint-Gobain para Ásia-Pacífico.

Raio-x da Saint-Gobain

Ano de fundação 1665, na França (início de operações no Brasil em 1937)
Funcionários 180 mil no mundo, sendo 12 mil no Brasil
Áreas de atuação Construção civil, indústria e varejo
Receita Estimativa de R$ 12,1 bilhões em 2021, no Brasil

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