EUA e outros países fazem inédita ofensiva para derrubar preços do petróleo

China, Índia, Reino Unido e outras nações farão uso de suas reservas estratégicas

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Aurelia End
Washington | AFP

Em uma aliança inédita, os Estados Unidos e outros países, entre eles a China, farão uso de suas reservas estratégicas de petróleo para tentar provocar uma queda nos preços desta commodity —anunciou a Casa Branca nesta terça-feira (23).

O presidente Joe Biden informou hoje que ordenou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas dos Estados Unidos.

"Esta decisão será tomada em paralelo com outras nações que têm um consumo importante de energia, como China, Índia, Japão, República da Coreia e Reino Unido", disse a Casa Branca.

A decisão surge em um momento em que os preços nos postos de gasolina continuam subindo nos Estados Unidos. Este quadro representa um grande problema político para Biden, especialmente na véspera do Dia de Ação de Graças, feriado em que os americanos se deslocam para se reunir com seus familiares.

Bomba de extração de petróleo impressa em 3D sobre cédulas de dólar - Dado Ruvic - 23.nov.2021/Reuters

Apresentada como inédita pelos americanos, a iniciativa conjunta busca fazer os preços caírem de forma mecânica diante do aumento da oferta.

O petróleo bruto aumentou em meio à reativação econômica na esteira da suspensão das restrições pela pandemia da covid-19.

Diante dos rumores desta operação coordenada, os preços chegaram a cair cerca de 10% nos últimos dias. Na manhã desta terça-feira (23), porém, o mercado quase não reagiu e, às 10h (horário de Brasília), a queda era de apenas 0,39%, em comparação com o fechamento do barril americano WTI na véspera.

Nos três meses anteriores, entre 19 de agosto e 22 de novembro, o WTI havia aumentado 20,5%.

Para chegar a esse acordo, Washington e Pequim puseram sua rivalidade de lado, já que a China também é um dos maiores consumidores de petróleo do mundo.

Cartel de consumidores

As tentativas dos Estados Unidos de pressionar os países produtores, especialmente a Arábia Saudita, para que aumentem sua oferta até agora não funcionaram.

Louise Dickson, analista da Rystad Energy, explica que "esta ação histórica e pouco ortodoxa é claramente uma mensagem que diz à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que ela não é o único ator no mercado de petróleo".

"Esse esforço coordenado forma uma aliança informal do lado dos países consumidores", em resposta ao cartel dos países produtores, afirma.

O presidente dos Estados Unidos também tem na mira as grandes empresas do setor, acusadas de transferirem para os postos de gasolina apenas a alta dos preços, enquanto registram lucros gigantescos.

Há alguns dias, a Casa Branca pediu à autoridade de concorrência que se pronuncie "imediatamente" sobre o comportamento "eventualmente ilegal" das companhias petroleiras, e não descarta ações judiciais.

As reservas americanas são o maior estoque de emergência do mundo.

Segundo um funcionário de alto escalão do governo americano, a liberação começará entre meados e final de dezembro. É possível que novas intervenções para estabilizar o mercado sejam feitas, "em resposta a uma pandemia única no século".

"Como disse o presidente, os consumidores estão sofrendo agora nos postos de gasolina", acrescentou a mesma fonte.

"O presidente está pronto para tomar ações adicionais, se necessário, e está preparado para usar toda sua autoridade, trabalhando em coordenação com o restante do mundo para manter um abastecimento adequado, à medida que se deixa a pandemia para trás", acrescentou.

Dos 50 milhões de barris que os Estados Unidos vão liberar, 18 milhões serão vendidos diretamente nos próximos meses. Os outros 32 milhões entrarão no mercado em regime de "troca", pois serão devolvidos às reservas em alguns anos.

As reservas dos EUA estão armazenadas em locações subterrâneas nos estados de Louisiana e do Texas, com 714 milhões de barris, de acordo com um relatório divulgado pelo Departamento de Energia no final de agosto.

É bastante incomum que grandes quantidades sejam retiradas de lá, salvo em caso de urgência. É o que acontece, por exemplo, quando grandes furacões afetam o Golfo do México, crucial para a produção de petróleo, ou em resposta a crises internacionais.

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