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Fed deve começar a recuar no programa de estímulo de US$ 120 bilhões por mês

Expectativa de inflação transitória orienta redução lenta da compra de ativos iniciada na pandemia

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Colby Smith
Nova York | Financial Times

O Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) informou que começará a reduzir gradualmente neste mês seu programa mensal de compra de títulos de US$ 120 bilhões (R$ 680 bilhões), um marco crítico para a economia dos EUA, que se recupera da pandemia e enfrenta inflação em alta.

A decisão é o cume de meses de discussão entre as autoridades do Fed sobre o nível de apoio necessário para a maior economia do mundo, à medida que as pressões dos preços começam a se estender além dos setores mais sensíveis à reabertura pós-pandemia.

A medida correspondeu a ações repentinas de vários bancos centrais em todo o mundo para endurecer a política monetária, incluindo o Reserve Bank da Austrália e o Banco do Canadá.

Sede do Federal Reserve em Washington, nos Estados Unidos - Daniel Slim - 6.ago.2021/AFP

​Os mercados preveem que o Banco da Inglaterra, que se reúne na quinta (4), aumentará as taxas de juros pela primeira vez desde 2018. Os investidores estão apostando que o Banco Central Europeu poderá fazer o mesmo no ano que vem, apesar do recente recuo de sua presidente, Christine Lagarde.

A demanda disparada dos consumidores nos EUA colidiu com interrupções agudas na cadeia de suprimentos, fazendo com que os preços disparassem em alguns setores por mais tempo do que os bancos centrais tinham previsto. O aumento dos aluguéis, juntamente com as pressões salariais e uma grave escassez de trabalhadores, gerou preocupações de que a inflação se mostre mais persistente do que o Fed inicialmente esperava.

Contra o pano de fundo de uma recuperação robusta, a Comissão Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) encerrou sua reunião de políticas de dois dias com a promessa de reduzir a compra de títulos do Tesouro em US$ 10 bilhões (R$ 56,6 bilhões) por mês.

O banco central também reduzirá sua compra de títulos de agências lastreados em hipotecas em US$ 5 bilhões (R$ 28,3 bilhões) por mês.

O Fomc disse que é capaz de retirar o estímulo porque alcançou "progresso adicional substancial" na direção de seu objetivo duplo de emprego máximo e inflação média de 2%.

O processo de redução está programado para começar em meados de novembro, o que sugere que o programa de estímulo terminará em junho de 2022. As compras seriam reduzidas na mesma quantidade em dezembro, e outras reduções foram consideradas "provavelmente apropriadas" a cada mês seguinte.

A comissão do Fed disse que está "preparada para ajustar o ritmo" do processo de redução gradual "caso se justifique por mudanças na perspectiva econômica". Em entrevista coletiva após o anúncio, Jay Powell, presidente do Fed, disse que o banco central está preparado para "acelerar ou desacelerar" conforme necessário.

"Se sentirmos que algo parecido está acontecendo, seremos muito transparentes. Não queremos surpreender os mercados", afirmou, acrescentando que mesmo depois que o Fed parar de expandir seu balanço seus títulos continuarão a "apoiar as condições financeiras acomodatícias".

Na quarta-feira, o Fed também modificou a linguagem usada para descrever a perspectiva inflacionária em uma admissão tácita, embora sutil, de que preços mais altos poderão persistir por mais tempo do que havia previsto originalmente. Powell declarou que os fatores que impulsionam a pressão de alta sobre os preços "devem ser transitórios", enquanto as declarações anteriores diziam que a inflação estava sendo impulsionada principalmente por "fatores transitórios".

Na entrevista coletiva, Powell destacou a gravidade dos desequilíbrios de oferta e demanda que contribuíram para "aumentos consideráveis de preços em alguns setores". Ele enfatizou que a visão do Fed é que esses gargalos acabarão diminuindo e ajudando a baixar os preços, mas que persistirão "até boa parte do próximo ano".

Ele observou que é "altamente incerto" quando a inflação acabará se moderando, mas disse que poderá baixar no segundo ou terceiro trimestre do próximo ano.

O indicador de inflação preferido do banco central, o índice básico de despesas de consumo pessoal --que exclui itens voláteis como os preços de alimentos e energia--, subiu 3,6% em setembro em relação ao ano anterior.

Nenhum ajuste foi feito na principal taxa de juros do Fed, que está amarrada perto de zero, e Powell reiterou que a barreira econômica para o aumento dos juros é muito mais alta do que para sua redução.

"É hora de diminuir, pensamos, porque a economia alcançou um progresso substancial em direção aos nossos objetivos", disse Powell.

"Não achamos que já seja a hora de aumentar as taxas de juros. Ainda há um terreno a percorrer para alcançar o pleno emprego, tanto em termos de emprego quanto em termos de participação."

"Achamos que podemos ser pacientes", acrescentou ele mais tarde.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em audiência no Capitólio, em Washington, nos Estados Unidos - Sarah Silbiger - 30.set.2021/Reuters

Powell enfatizou que o Fed estará observando "cuidadosamente" para garantir que a economia está evoluindo de acordo com as expectativas do banco central, e "não hesitará" em usar suas ferramentas, caso necessário.

Também na quarta, o Tesouro anunciou que reduzirá a quantidade de dívida que emitirá neste trimestre, uma vez que as necessidades de financiamento para projetos fiscais diminuíram. É o primeiro corte nos tamanhos de leilões de títulos do Tesouro em cinco anos, e fornece um contrapeso para a redução do Fed, dizem analistas.

"É quase fortuito que esteja acontecendo assim. É certamente bom para o mercado de Tesouros --ajudará a compensar parte da perda de demanda", disse Gennadiy Goldberg, estrategista sênior de taxas dos EUA na TD Securities.

As negociações ficaram agitadas no mercado de dívida do governo após o anúncio, com o maior movimento em rendimentos de longo prazo e sensíveis à inflação. As ações fecharam em altas recordes.

Os futuros do eurodólar, uma medida muito observada das expectativas de taxas de juros, estavam precificando um aumento nas taxas a partir do terceiro trimestre de 2022.


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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