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Giraffas troca filé mignon por coxão duro no cardápio por causa da inflação

Rede de fast food aumenta opções de pratos para compartilhar e aposta em delivery de marmita

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Brasília

Quando começou o fast-food Giraffas em 1981, o empresário Carlos Guerra tinha que lidar com uma inflação que beirava os 100% ao ano. No fim daquela década, se aproximou dos 100% ao mês.

"Era uma loucura, a gente encomendava produtos do fornecedor sem saber quanto iria pagar, seria cobrado o preço do dia", afirma. A adrenalina de lidar com a hiperinflação no varejo só foi contida a partir de 1994, com o Plano Real.

As remarcações no valor dos pratos —que sua maioria levam arroz, feijão, carne grelhada e ovo frito—, feitas até então a cada 15 dias, passaram, ao longo dos anos, a serem realizadas a cada seis meses.

Mas neste ano o Giraffas acendeu o sinal de alerta: já foi feita a terceira remarcação de preços em 2021. E o cardápio precisou ser modificado: sai de cena o prato feito com filé mignon e entra o Churrasquito com coxão duro.

Segundo Guerra, é a inflação voltando a dar as caras com mais força, especialmente nos alimentos. "Não tenho nenhuma saudade da hiperinflação, mas a minha experiência na época está sendo aproveitada agora de novo, já que muitos dos executivos da rede, mais jovens, não têm esse histórico", diz.

O presidente da rede de restaurantes Giraffas, Carlos Guerra, na sede da empresa, na Avenida Paulista, em São Paulo. - Danilo Verpa/Folhapress

As carnes chegaram a cair 0,31% em outubro, segundo o IPCA-15, do IBGE —considerada a prévia da inflação oficial do país—, o primeiro recuo em 16 meses. Mas acumula alta de 22,06% no acumulado dos últimos 12 meses. O cenário fez o Giraffas renegociar contratos com fornecedores e fazer mudanças no cardápio.

A rede lançou uma promoção de três produtos com frango, todos abaixo de R$ 20 (o sanduíche sai a R$ 9,90), e tirou o filé mignon do cardápio.

"Estava vendendo pouco e era muito caro para o nosso público. Por outro lado, estamos vendendo muito bem o Churrasquito. É um produto de boa qualidade, macio e com um custo bem competitivo, R$ 21,90", diz ele.

O Churrasquito para dois —mas que atende até três, segundo o empresário— foi uma das novidades para lidar com os preços em alta.

"Ampliamos as opções de pratos para compartilhar durante a pandemia, o que aumenta o nosso tíquete médio", afirma. A rede conta ainda com a promoção do dia, a R$ 19,90. "Estamos em um ambiente competitivo e vai se destacar quem for mais eficiente em conseguir reter o repasse".

Outra iniciativa para lidar com a inflação e os hábitos do consumidor no pós-pandemia foi o lançamento das marmitas para delivery, com pratos entre sanduíches e refeições, o Safari Marmitas. "Uma marca feita dentro da cozinha do Giraffas, mas apenas para o delivery, como se fosse uma dark kitchen", diz Guerra.

Cada marmita custa R$ 19,90, um pouco acima do prato mais popular da rede, o Brasileirinho, de R$ 15,90, com arroz, feijão, proteína e batata frita. O empresário atribui a diferença ao custo de entrega e embalagens. "Mas a nossa marmita é muito bem servida, pesa 600 gramas".

Até 2019, o serviço de entregas representava entre 6% e 7% das vendas da rede, segundo Guerra. Chegou a 25% durante a pandemia, e hoje estacionou entre 12% e 14%.

O empresário planeja lançar em breve uma outra marca apenas para o delivery de hambúrguer.

O tíquete médio entre 20% e 25% maior do delivery animou a rede a aderir a uma empreitada com outros restaurantes, como Outback, Pizza Hut e Rei do Mate, e lançar o próprio aplicativo de entrega de comida, o Quiq, ainda em fase de testes. O app será aberto a outros restaurantes, uma maneira de brigar pelo mercado de entregas de comida com os gigantes iFood e Uber Eats.

Empresário torce para novo governo em 2023

O Giraffas soma cerca de 380 pontos de venda, todos franquias. "Cerca de 10% disso pertence aos sócios que compõem a holding, mas todos atuam como franqueados", diz ele. Segundo o empresário, foram fechados 17 restaurantes durante a pandemia e abertos outros 22.

Para o ano que vem, a meta é abrir 30 unidades. "Vamos investir R$ 54 milhões, sendo R$ 20 milhões em marketing e R$ 34 milhões em novos restaurantes e reforma de lojas".

No Sudeste, Norte e Nordeste, o foco será em shoppings. Já no Sul e no Centro-Oeste, serão mais lojas de rua. "Também temos um projeto de loja contêiner, voltado a cidades menores do interior, especialmente nos estados de Goiás, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná", afirma.

A previsão de faturamento este ano é de R$ 615 milhões, uma alta de 40% em relação ao 2020, mas um recuo de 18% sobre os R$ 747 milhões de 2019.

"Ainda sentimos a retração no consumo da baixa renda. Nossos produtos são voltados para a classe C, um público muito impactado pela crise econômica e pelo aumento do desemprego", diz o empresário, um crítico do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Espero que, em 2022, o eleitor vote com mais consciência do que da última vez", diz Guerra. Para ele, o Brasil precisa de um governo que termine as reformas, volte a inserir o Brasil no cenário mundial e traga investimentos.

"O governo atual não governou, criou muitos conflitos, não contribuiu no controle da pandemia", diz ele, que viu o filho Alexandre Guerra, ex-presidente e ex-conselheiro do Giraffas, se envolver no ano passado em uma polêmica a respeito da adesão à quarentena. Em vídeo divulgado em suas redes sociais, Alexandre afirmou que "as pessoas estavam preocupadas com o coronavírus, mas deviam se preocupar com seus empregos".

Ex-candidato ao governo do Distrito Federal pelo partido Novo, Alexandre acabou deixando sua posição como membro do conselho do Giraffas e vendeu para a holding o 1% que detinha no grupo. "Hoje ele está muito bem, como diretor e conselheiro da rede de produtos naturais Bio Mundo", diz Guerra.

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