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Impacto econômico da variante ômicron deve ser pequeno, dizem analistas

Capacidade de adaptação a restrições impostas pela pandemia e programas de vacinação são razões para otimismo

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Chris Giles
Londres | Financial Times

Os economistas de modo geral esperam que a economia mundial supere com relativa facilidade qualquer nova onda de infecções por coronavírus causadas pela variante ômicron, mesmo que a versão mais recente do vírus tenha nublado o panorama econômico com incertezas.

Uma razão central para sua avaliação inicial relativamente otimista é a capacidade cada vez maior das economias de se adaptarem às restrições anteriores impostas pela Covid-19, juntamente com os programas de vacinação.

Qualquer nova onda do vírus, portanto, dificilmente conteria o aumento da inflação, disseram os economistas, mas levantaria dúvidas entre os banqueiros centrais sobre a decisão de restringir a política monetária o quanto antes.

Imagem em microscópio do Sars-CoV-2 - National Institute of Allergy and Infectious Diseases/AFP

Dentre a grande variedade de analistas que publicaram notas e previsões na manhã de segunda-feira (29) —fossem de bancos de investimento ou consultorias—, todos enfatizaram a incerteza gerada pela capacidade da variante ômicron de escapar das vacinas existentes, causar doenças graves e se espalhar mais rapidamente do que a variante delta.

Ao mesmo tempo, porém, poucos pensaram que houvesse necessidade de rasgar suas projeções econômicas atuais.

Paul Donovan, economista-chefe do UBS Global Wealth Management, disse que viagens e turismo podem ser duramente atingidos em alguns lugares, mas essa geralmente é uma pequena parte da atividade econômica total. É "improvável que [a variante ômicron] mudasse a narrativa econômica mais ampla nesta fase", acrescentou ele.

Holger Schmieding, economista-chefe do Banco Berenberg, disse: "De onda em onda, o dano econômico diminuiu".

Ele indicou o contraste entre a primeira e a segunda ondas europeias de Covid-19. Enquanto a primeira eliminou 15% da atividade econômica na zona do euro no segundo trimestre de 2020, a adaptação geral para viver com o vírus levou a uma queda de apenas 0,7% no PIB (Produto Interno Bruto) na segunda onda mais severa, no início de 2021.

Além disso, mesmo que a variante ômicron tenha maior resistência às vacinas atuais, a visão que prevalece é que a inoculação contra ela ajudará a reduzir o impacto econômico.

Daniele Antonucci, economista-chefe do Quintet Private Bank, disse: "O mundo desenvolvido agora pode contar com altas taxas de vacinação, aumentou sua capacidade de desenvolver e produzir vacinas e mostrou que pode ajustar os padrões de trabalho com bastante flexibilidade e se adaptar de maneira mais geral".

A maioria dos economistas acredita que qualquer desaceleração na atividade econômica também dificilmente conterá o recente aumento da inflação, especialmente em bens onde a demanda superou a oferta global, que foi dilacerada por interrupções.

Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, disse: "Um aumento relacionado ao vírus nos gastos com bens, ou fechamentos de portos, exacerbaria as tensões de oferta existentes e adicionaria pressão ascendente à inflação dos bens".

"Não está claro se [a variante ômicron] é desinflacionária", disse Jordan Rochester, estrategista de câmbio da Nomura em Londres.

Embora reconhecendo que há uma enorme incerteza, os economistas do Goldman Sachs produziram quatro cenários possíveis para qualquer onda ômicron que se aproxime, incluindo um que é um alarme falso e a nova variante não se mostra mais contagiosa do que a Delta.

Seu principal cenário negativo sugeria que haveria apenas um pequeno impacto econômico do vírus em 2022, porque o impacto de cada bloqueio subsequente no passado havia sido mais fraco. Essas restrições reduziriam o crescimento global significativamente no primeiro trimestre, até que chegassem novas vacinas, trazendo uma recuperação robusta.

Ao longo do ano como um todo, Daan Struyven, economista global sênior da Goldman Sachs, disse que o crescimento global cairia de 4,6% em 2022 para 4,2%. No entanto, haveria um aumento correspondente no crescimento de 2023 à medida que a recuperação se firmasse novamente.

Em seu cenário mais severo, a gravidade da doença e a imunidade contra hospitalizações foram substancialmente piores do que para a variante delta. Mas, acrescentou Struyven, há também um cenário positivo em que a gravidade da infecção é menor e a economia global pode "se normalizar".

A incerteza deve encorajar os bancos centrais, particularmente o Federal Reserve e o Banco da Inglaterra, a parar e esperar um pouco mais antes de decidir se apertarão a política monetária, seja reduzindo a desaceleração das compras de ativos nos EUA ou atrasando o aumento das taxas de juros no Reino Unido.

Em uma nota na sexta-feira, os economistas europeus do Citi escreveram que a nova incerteza seria "um grande alerta" para os bancos centrais e que "o caminho da recuperação talvez não seja tão simples quanto se pensava originalmente".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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