Inflação reduz entusiasmo na Bolsa com a PEC dos Precatórios

Ibovespa fechou em alta de 0,4%; dólar subiu 0,18%

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Bolsa de Valores subiu 0,40% nesta quarta-feira (10), a 105.967 pontos, em um dia em que o ânimo do mercado com a aprovação em segundo turno na Câmara da PEC dos Precatórios, proposta que dá calote em dívidas judiciais da União, foi contido pelas divulgações de dados sobre a aceleração na inflação no Brasil e nos Estados Unidos. O dólar subiu 0,18%, a R$ 5,5010.

O Ibovespa, índice de referência do mercado de ações brasileiro, chegou a superar os 107 mil pontos no decorrer do pregão. A alta ocorreu enquanto o mercado ainda celebrava o avanço da PEC que, apesar de driblar o teto de gastos, é avaliada por investidores como uma solução para que o governo consiga pagar o Auxílio Brasil de ao menos R$ 400 e, com isso, fechar o Orçamento de 2022.

Edifício-sede da Bolsa de Valores, em São Paulo (SP) - Yasuyoshi Chiba- 8.ago.2011/AFP

Ainda pela manhã, porém, o Ibovespa chegou a ficar negativo com a repercussão da alta da inflação oficial do país, que acelerou para 1,25% em outubro. É a maior taxa para o mês desde 2002. Analistas passaram a projetar uma alta de preços acima de dois dígitos para este ano.

À tarde, o mercado passou a digerir os dados da inflação nos Estados Unidos, a mais alta em três décadas. Nos 12 meses até outubro, o índice aumentou 6,2%, o maior avanço anual desde novembro de 1990, após salto de 5,4% em setembro.

O avanço da inflação pode levar o Fed (Federal Reserve, o banco dos Estados Unidos) a antecipar a elevação dos juros básicos, o que resultaria em uma fuga de capital em direção aos títulos do Tesouro americano, comenta Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos

"O mercado chegou a atingir uma alta de 1,74%, mas, após a divulgação dos dados de inflação ao consumidor nos EUA, cresceu a expectativa de que o Fed antecipe a elevação da taxa de juros", diz.

Apesar da volatilidade, a Bolsa manteve o viés de alta. O final do pregão, porém, foi marcado pela repercussão da queda nos preços do petróleo, derrubando as ações da Petrobras —os papéis preferenciais caíram 0,79%—, segundo Rafael Ribeiro, analista de investimentos da Clear.

O barril do Brent recuou 2,58%, a US$ 82,59 (R$ 450,80).

Além disso, os papéis das siderúrgicas recuaram refletindo mais um dia de desvalorização do minério de ferro. "A commodity caiu 4% no porto de Qingdao [na China], aos US$ 89 [R$ 486], com as preocupações com a demanda se intensificando devido às restrições à produção de aço da China", diz Ribeiro.

As ações ordinárias da Vale cederam 0,38%.

Alguns veículos chegaram a publicar que um dos períodos de alta da Bolsa durante a tarde estaria relacionado ao discurso favorável ao mercado do ex-juiz Sergio Moro durante a cerimônia da sua filiação ao Podemos.

Analistas consultados pela reportagem disseram que, apesar da coincidência quanto ao horário do discurso e um dos picos do Ibovespa, não é possível afirmar que a fala de Moro impactou o pregão.

"Enquanto o ex-juiz Sergio Moro fazia seu discurso, a Bolsa realmente superava as máximas e o dólar recuava, mas é difícil traçar um nexo de causalidade entre esses fatos", diz Felipe Vella, analista técnico da Ativa Investimentos.

"Definitivamente não podemos dizer que o discurso de Moro fez preço porque o dia foi marcado por várias notícias que animaram o mercado quanto à possibilidade de conclusão rápida da aprovação da PEC dos Precatórios", afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Um dos principais responsáveis por oscilações positivas da Bolsa nesta quarta foi o Bradesco, cujas ações subiram 5,65% após o presidente-executivo do banco, Octavio de Lazari, estimar crescimento nas receitas de tarifas acima da inflação em 2022. O Itaú Unibanco avançou 2,53%.

Em Wall Street, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,66%, 0,82% e 1,66%, respectivamente.

O temor de uma elevação mais acelerada dos juros básicos pelo Fed também reduziu o apetite do mercado aos investimentos de risco, uma vez que aplicações seguras vinculadas ao Tesouro poderiam se tornar mais atrativas.

"Embora o Federal Reserve acredite que a inflação é transitória, as evidências estão começando a mostrar que isso não é verdade", disse Rick Meckler, sócio da Cherry Lane Investments.

"O Fed fez poucos movimentos fora do que eles disseram aos mercados que planejam fazer, mas acho que até eles devem estar um pouco preocupados com a força do aumento."

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.