Descrição de chapéu inflação

'Vamos ter um plano para Lula, outro para Bolsonaro', diz presidente da Lojas Colombo

Eduardo Colombo quer ampliar presença da rede gaúcha no Nordeste e proteger Sul do avanço de rivais

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Brasília

Eduardo Colombo tinha apenas 5 anos quando seu avô, Adelino Colombo, lhe deu um crachá de "diretor presidente neto".

"Era uma coisa enorme, maior que o meu peito, mas eu desfilava com ele por todo canto, muito orgulhoso", disse à Folha o executivo de 39 anos, que desde o mês passado, com a morte do avô, passou a estampar o crachá real de diretor presidente da varejista de móveis e eletrônicos Lojas Colombo, a maior do Sul do país.

Muita coisa mudou desde a época em que Adelino levava Eduardo, o neto mais velho, para passear aos sábados pelas lojas da varejista fundada por ele em 1959, em Farroupilha (RS), até hoje, quando o varejo passa por uma verdadeira revolução digital, acelerada pela pandemia.

Com 306 lojas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o grupo Colombo tem 4,6 mil funcionários e faturou R$ 1,95 bilhão em 2020, quando apurou lucro líquido de R$ 231,7 milhões. Além da rede de lojas, é dono de uma financeira, a Crediare, um varejo de motocicletas, a Colombo Motors, e um varejo pet, a Colombo Casa Pet.

Em 2022, os investimentos totais somam R$ 50 milhões, o que inclui a inauguração de um novo centro de distribuição no Recife. A ideia era também abrir 50 lojas na região Sul, mas o grupo freou os planos.

homem branco, de óculos, e terno escuro, sorri, sentado a uma mesa de escritório, com uma caneta na mão
Eduardo Colombo, diretor presidente do grupo Colombo, assume o comando aos 39 anos - Divulgação

"Se tudo correr bem e as condições macroeconômicas não atrapalharem, vamos ter uma boa Black Friday e um bom Natal", diz ele, referindo-se à incerteza econômica fruto da instabilidade política.

"Vamos investir entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões para inaugurar 30 lojas, uma expectativa mais pé no chão com a atual realidade do país", diz Eduardo, que destaca o desafio de vender com a inflação em disparada.

"Um televisor custa hoje praticamente o dobro do que custava antes da pandemia", afirma.

Em relação ao próximo ano, o executivo vê um grande ponto de interrogação sobre a atividade econômica. Mais dúvidas ainda pairam sobre 2023.

"Temos dois planos estratégicos diferentes, a depender de quem ganhar as eleições no ano que vem", diz ele, referindo-se ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido), sem, no entanto, dar detalhes.

"O Brasil é muito pobre do ponto de vista político", diz ele. "É como o futebol no Rio Grande do Sul: ou você é Grêmio ou você é Inter", afirma, referindo-se aos dois grandes times gaúchos, Grêmio e Internacional, caracterizados, respectivamente, pelas cores azul e vermelha.

Para manter a empresa competitiva em um ambiente em que grandes redes nacionais e multinacionais como Magazine Luiza, Americanas, Via (Casas Bahia e Ponto), Mercado Livre, Aliexpress e Amazon avançam com uma logística azeitada, capaz de chegar a todas as regiões do país, Eduardo vai ter que mesclar as lições acumuladas pelo avô em mais de seis décadas de varejo com uma nova postura, mais aberta à inovação e ao pensar "fora da caixa".

Não é tarefa fácil. Adelino Colombo comandou por 62 anos com mãos de ferro a varejista, ao ponto de não conseguir emplacar executivos de fora da família no comando da rede. Tentou por duas vezes, em 2002 e 2011, deixar a presidência executiva, mas cada saída durou menos de um ano.

Mesmo passar o bastão dentro da família Colombo se mostrou uma decisão complexa: a filha Gissela chegou a ser nomeada no início de 2018 como nova presidente, mas ficou cinco meses no cargo. Adelino voltou ao comando e, seis meses depois, anunciou Eduardo como futuro sucessor —filho de Carlos Alberto, único filho homem de Adelino, que também foi pai de Gissela e outras duas filhas.

"Acredito que eu consegui traduzir melhor para o meu avô as demandas do varejo moderno e, ao mesmo tempo, levar para a diretoria da rede os anseios dele em relação ao futuro da empresa", afirma Eduardo.

A fama de "turrão" de Adelino, porém, lhe rendeu conquistas importantes: há 12 anos, o prestígio da Lojas Colombo no Sul foi um dos principais responsáveis pela debandada da Casas Bahia no estado gaúcho. "Não caiu bem uma varejista chamada Casas Bahia no Rio Grande do Sul, uma região que valoriza muito os produtos e serviços locais", diz o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial.

Só em 2015 a Via começou a voltar à região e agora, em 2021, está abrindo ao menos 12 novos pontos da Casas Bahia no estado gaúcho.

fachada de loja de móveis e eletrodomésticos em azul, com o emblema Lojas Colombo em branco
Lojas Colombo, a maior varejista do Sul do país, vai investir R$ 50 milhões em 2022, entre expansão de lojas físicas e novo centro de distribuição - Divulgação

É justamente neste momento que Eduardo Colombo pretende reforçar as suas trincheiras. "Faz sentido para nós fortalecer a operação física no Sul, onde ainda tem muito espaço para crescer nas cidades do interior", diz o executivo, que não descarta aquisições.

Foganholo concorda. "O Sul do país, especialmente o Rio Grande do Sul, tem redes de pequeno porte relevantes no contexto local, algo diferente de outros estados do país, onde as grandes redes dominam", diz o consultor.

Mas o neto do Seu Adelino também está disposto a desbravar novas regiões por meio do comércio eletrônico. "Nosso ecommerce é uma operação madura, lançada há 21 anos. Temos quatro centros de distribuição –em Porto Alegre, Palhoça [SC], Curitiba e Serra [ES]– e ano que vem vamos inaugurar o quinto CD em Recife", diz o executivo. O mercado nordestino é o terceiro maior em vendas digitais da Colombo, depois da região Sul e de São Paulo.

"Nós conseguimos essa representatividade basicamente sem propaganda nenhuma, só com o nosso atendimento, que é o nosso diferencial diante das grandes redes", afirma Eduardo, que começou no almoxarifado da Colombo aos 14 anos, até chegar à diretoria comercial da rede, antes de assumir a presidência.

Segundo o consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, a diferenciação da empresa no mercado vem do crédito, uma grande alavanca para a fidelização do cliente. "Nos móveis, a Colombo tem boa margem de lucro e menos comoditização", afirma Serrentino, para quem a empresa entendeu a mudança de jornada do cliente, ao trabalhar as vendas físicas e digitais.

"O mercado em geral está muito prostituído, com foco em preço baixo, mas o consumidor também está em busca de um bom atendimento", afirma Eduardo.

Hoje, a Lojas Colombo soma 150 sellers (vendedores) dentro do seu marketplace. "Já chegamos a ter 300, mas fizemos uma seleção, buscando agregar apenas quem oferece um bom serviço", diz o executivo, que também levou a Colombo a se tornar seller do Mercado Livre. "Aumenta a nossa exposição".

Segundo Eduardo, as vendas digitais chegaram a representar 48% do total de vendas no auge da pandemia, mas agora estão em 30%, dois pontos percentuais a mais em relação ao que era em 2019. Este ano, o faturamento do grupo deve atingir R$ 2,1 bilhões.

Eduardo pretende preparar a companhia para uma abertura de capital. Até hoje, a empresa foi muito conservadora ao direcionar a expansão apenas com recursos próprios –uma vontade do fundador, mas que aos poucos foi sendo alterada por Eduardo, que vê a necessidade de ampliar o leque de alternativas de crescimento da companhia.

"Sempre tivemos essa cultura, de não termos sócios de fora da família. Aqui é o nosso ganha-pão: se os negócios forem mal, eu não perco só o emprego, eu perco tudo", afirma. "Zelamos muito pelo lucro, é o único ponto em que toda a família concorda em ficar no azul", diz ele, um gremista convicto.

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