Seca, geada e incêndios reduzem produção de cana em São Paulo

Com menor oferta, entressafra deve ser mais longa; indústria diz não haver risco de desabastecimento

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Ribeirão Preto

O clima desfavorável na maior parte do ano, com uma severa seca e geadas, aliado aos incêndios registrados no interior paulista, fizeram a produção de cana-de-açúcar despencar em São Paulo neste ano.

Como resultado, mais de cem usinas já finalizaram a produção de açúcar e etanol no interior paulista, o que fará com que a entressafra seja mais longa, já que a próxima safra só começará em abril. A entidade que representa as usinas alega que não há risco de desabastecimento.

As adversidades climáticas fizeram a previsão inicial de safra para o centro-sul do país cair de 605 milhões de toneladas para 520 milhões, ou 14%, com predominância do recuo em São Paulo, conforme a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).

Imagem feita com drone mostra lavoura de cana-de-açúcar cortada por uma estrada de terra, por onde passa um caminhão
Caminhão carregado de cana trafega em lavoura próxima a usina em Luiz Antônio, no interior de São Paulo - Joel Silva - 12.mai.2017/Folhapress

Das 85 milhões de toneladas de cana a menos, 55 milhões estão em São Paulo. O prejuízo no interior paulista, como comparação, praticamente equivale à produção de Minas Gerais ou de todo o Nordeste.

"A questão climática, com a seca, foi geral, mas a geada foi localizada, com maior incidência em São Paulo, assim como o fogo", disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.

No total, 150 usinas já terminaram a produção no centro-sul até outubro, muitas com reduções superiores a 20% na moagem de cana. Sete em cada dez delas são de São Paulo.

"Algumas até começaram a safra mais tarde, em média 15 dias, já tinham a expectativa de disposição [menor de cana], que foi acelerada pela geada principalmente. Parte do fogo foi em área já colhida, mas também atingiu cana a colher. Essa redução foi potencializada com geada e fogo", disse.

No acumulado da safra, a produção de açúcar alcançou, também até a primeira quinzena do mês, 30,35 milhões de toneladas, ante 34,68 milhões de toneladas no mesmo período da safra passada, o que representa queda de 12,49%.

A produção de etanol, por sua vez, totalizou 24,03 bilhões de litros, com cenários diferentes. Enquanto do hidratado (vendido nos postos) foram produzidos 14,55 bilhões de litros (queda de 17,93%), do anidro (misturado à gasolina antes da comercialização) a produção chegou a 9,48 bilhões, com alta de 19,86%.

Docente da USP (Universidade de São Paulo) especializado em agronegócios, Marcos Fava Neves afirmou que a quebra da safra gerou perdas num momento em que os preços estavam excelentes para o açúcar e o etanol.

"Ou seja, produto que foi feito investimento, que teve custo de produção, fertilizantes, defensivos usados e que não se realizou. Neste momento de crise energética, todo este bagaço adicional, todo o etanol adicional e o açúcar ajudariam bastante a sociedade brasileira", afirmou o especialista.

Com o cenário climático, houve redução de oferta de ATR (Açúcar Total Recuperável), que é a soma dos açúcares da planta, de 15%.

"Em grande parte, sem dúvida alguma, o preço compensou. Mas o custo também aumentou, como a questão do consumo de diesel na mecanização das lavouras, além da quantidade de cana perdida por não ter havido brotação. O fogo devastou muita coisa, exigiu mais investimentos na lavoura", afirmou o diretor da entidade.

Padua atribui ao câmbio a elevação do preço da gasolina e, consequentemente, do etanol hidratado e anidro. "Quem formou esses preços foram as consequências do mercado. Câmbio, petróleo e restrição de oferta de açúcar."

A elevação dos preços do etanol já vinha sendo acompanhada com atenção nos últimos meses. No fim de setembro, a pesquisadora Ivelise Rasera Bragato Calcidoni, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, publicou artigo em que citava o clima desfavorável e a quebra da produção como motivos para impulsionar os preços dos biocombustíveis no país.

"Com menos matéria-prima a ser processada e a baixa produtividade por hectare, o período de entressafra deve ser mais longo do que em anos anteriores", disse a pesquisadora.

A próxima safra só começará em abril, mas a Unica alega que não há risco de desabastecimento de etanol. "O produtor trabalha com cenário de ter estoque de passagem, especialmente de anidro. O produtor priorizou o anidro e vai formar estoque que vai garantir o abastecimento de abril independentemente de quanto vai produzir em março e abril", afirmou o diretor técnico.

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