Descrição de chapéu Financial Times União Europeia

Visa responde crítica da Amazon sobre taxa alta do cartão de crédito

Plataforma proíbe pagamento com cartão da empresa para clientes do Reino Unido

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Imani Moise Dave Lee Siddharth Venkataramakrishnan
NOVA YORK, SAN FRANCISCO e LONDRES | Financial Times

O executivo-chefe da Visa chamou a decisão da Amazon de proibir em sua plataforma os cartões de crédito emitidos no Reino Unido de "estranha" e "infeliz", mas disse esperar que a disputa seja resolvida por meio de negociação.

"Claramente, estamos em uma negociação desafiadora", disse Al Kelly ao Financial Times. "A diferença aqui é que a Amazon infelizmente decidiu levar a público os problemas na negociação que estamos tendo, e estranhamente optou por ameaçar punir os consumidores."

Logotipo da  Amazon na fachada de centro de distribuição da empresa em Nova York
Logotipo da Amazon na fachada de centro de distribuição da empresa em Nova York - Brendan McDermid -25.nov.2020/Reuters

A Amazon avisou os clientes na quarta-feira (17) que a partir do próximo ano deixará de aceitar cartões de crédito Visa emitidos no Reino Unido, e ofereceu aos clientes afetados 20 libras (R$ 148) de desconto em sua próxima compra usando um método de pagamento alternativo. A varejista também disse que está avaliando abandonar a Visa como parceira em seu cartão de bandeira mista nos Estados Unidos.

"Isso não deve ser considerado um choque, já que a Amazon tem usado todas as táticas de negociação disponíveis para reduzir o custo de processamento dos pagamentos", escreveu em nota o analista Kenneth Suchoski, da Autonomous, afirmando que a decisão da Amazon teria pouco impacto nos resultados financeiros da Visa.

A Amazon disse aos clientes do Reino Unido que estava agindo por causa das altas taxas da Visa. No entanto, Mastercard e Visa estabeleceram taxas de transação quase idênticas no Reino Unido, de acordo com a empresa de pagamentos Bambora.

"Acho muito estranho que eles afirmem que fizeram isso por causa do alto custo de aceitação desses produtos no Reino Unido", disse Kelly. "É absolutamente impreciso."

Visa e Mastercard anunciaram aumentos nas taxas de intercâmbio aplicáveis a pagamentos entre o Reino Unido e a União Europeia após a formalização do Brexit neste ano. Para pagamentos digitais sem a presença de cartão físico, as taxas foram aumentadas de 0,2% para 1,15% em transações de débito e de 0,3% para 1,5% em transações de crédito.

Uma pessoa familiarizada com a posição da Amazon disse que as taxas de intercâmbio são apenas um ponto de conflito entre vários que envolvem a Visa. A pessoa disse que o aumento dos custos era uma preocupação antes do Brexit, e os executivos sentiram que o provedor de pagamentos "não estava agregando muito valor".

Antes do aumento da taxa de intercâmbio da Visa em outubro, a Amazon havia agido para limitar sua utilização em mercados como Cingapura, onde uma sobretaxa de 0,5% em transações de crédito com Visa foi adotada este ano, e na Austrália. Nos dois países, foram oferecidos cupons aos clientes que mudaram para outras formas de pagamento.

A Amazon não considera razoável que a Visa cobre taxas adicionais para se proteger de fraudes nas vendas online, diante de sua grande quantidade de dados e conhecimento sobre os consumidores. "A Amazon investe pesadamente para proteger nossos clientes de fraudes e abusos", disse um porta-voz.

"Mesmo assim, os preços da Visa continuam altos, enquanto os comerciantes continuam responsáveis pelas fraudes."

O embate com a Amazon é o problema mais recente da Visa, que enfrenta ameaças crescentes ao seu negócio principal de roteamento de pagamentos.

"Estes não são os dias mais felizes para a Visa", disse Dan Dolev, analista da Mizuho. "Eles estão sendo atacados em várias frentes."

Visa e Mastercard detêm um duopólio efetivo dos pagamentos globais há décadas, devido à popularidade dos cartões como método de pagamento. No entanto, a competição das fintechs e as pressões geopolíticas ameaçam reduzir sua influência.

A ação da Amazon contra a Visa é apenas o exemplo mais recente de comerciantes que buscam reduzir as taxas de intercâmbio. Eles citam estudos que mostram que o custo de processamento das transações caiu drasticamente, mas as taxas cobradas continuaram as mesmas.

As redes de pagamento e os emissores desfrutam de margens de lucro de 30% a 50%, enquanto as margens do varejo são de aproximadamente 3%, de acordo com a consultoria CMSPI.

Embora as operadoras de cartões estabeleçam taxas de intercâmbio, elas apontam que não recebem a maior parte do dinheiro arrecadado.

"Na Visa, temos a responsabilidade de definir os preços nos mercados em que eles não são regulamentados, e ninguém nunca está contente conosco", disse Kelly. "Se o preço cai, as instituições financeiras não ficam satisfeitas, o preço sobe e os comerciantes não ficam satisfeitos."

Os comerciantes têm protestado contra as taxas de transação há décadas, mas estão ganhando força nas negociações por causa da proliferação de métodos de pagamento alternativos.

Os pagamentos de conta para conta, por exemplo, operam em novas rotas de pagamento --ao contrário dos sistemas tradicionais de cartões Visa e Mastercard. Eles estão crescendo em popularidade --respondem por 13% dos checkouts na Europa, segundo um novo relatório da Accenture--, e Visa e Mastercard também oferecem serviços próprios de pagamento conta a conta.

Empresas de serviços financeiros como PayPal vêm construindo seus próprios sistemas de pagamento que não dependem das redes estabelecidas. No mês passado, o Citigroup lançou um programa que permite que os varejistas acessem o banco para solicitar pagamentos diretamente dos consumidores, contornando o sistema de cartão.

"Novas opções estão surgindo todos os dias, reduzindo a taxa de intercâmbio, tornando mais eficiente para os fornecedores e melhor para os consumidores", disse Anthony Thomson, presidente no Reino Unido da Zip, empresa australiana de "compre agora, pague depois".

Muitos desses pagamentos são feitos através de interfaces de programação de aplicativos, ou APIs, como o Plaid, que facilitam conexões seguras com dados financeiros de consumidores para terceiros.

"Está claro que o futuro são conexões baseadas em API, usando contas bancárias como um hub de roteamento, em vez de usar cartões de crédito", disse Keith Grose, diretor de internacional da fintech Plaid.

Preocupações com o futuro dos negócios de débito levaram a Visa a fazer uma oferta de US$ 5,3 bilhões (R$ 29,7 bilhões) pela Plaid no ano passado, mas o negócio foi abandonado depois que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos se opôs por razões antitruste. Visa e Mastercard também começaram a construir suas próprias redes API e a investir em tecnologia de open banking.

A Amazon tem experimentado métodos de pagamento alternativos que evitam os cartões. Em agosto, a empresa disse que ofereceria facilidades de BNPL (sigla em inglês de "compre agora, pague depois") para consumidores dos EUA por meio do provedor terceirizado Affirm, permitindo que compras de US$ 50 ou mais sejam parceladas.

Uma opção semelhante foi criada na Alemanha com o Barclaycard, enquanto na Polônia e na Holanda a companhia trabalhou com várias empresas para oferecer transferências bancárias diretas para a compra de mercadorias.

Além da resistência dos comerciantes, também há pressão sobre as taxas de transação de governos em todo o mundo.

O Regulador de Sistemas de Pagamentos do Reino Unido disse este mês que estava examinando a questão das taxas de intercâmbio e que "intervirá para resolver quaisquer problemas que identificarmos".

O Federal Reserve dos EUA disse que revisaria as regulamentações de intercâmbio para abordar os avanços em tecnologia de pagamentos, e os analistas esperam que novas regras sejam publicadas no próximo ano.

O duopólio também enfrenta a concorrência de redes de pagamentos domésticas na China, Índia, Austrália, Alemanha e Rússia --que estão sendo apoiadas pelos governos para manter os custos baixos e aumentar a segurança nacional, disse James Booth, chefe de parcerias do grupo fintech PPRO.

Enquanto isso, esforços estão em curso para construir uma Iniciativa de Pagamentos Europeia, que enfrenta obstáculos significativos.

"Existem muitos métodos alternativos de pagamento, mas devido à forma como o mercado de pagamentos mais amplo está definido há uma série de conflitos que fazem que alternativas novas e preexistentes lutem para competir com os cartões", disse Alex Ellwood, vice-presidente sênior da CMSPI.

"Os pagamentos com cartão alimentam várias partes interessadas com receitas de taxas."


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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