Descrição de chapéu Financial Times Evergrande

Ações da Evergrande despencam diante de novo prazo para pagamento da dívida

Deputados entram em novo comitê de risco, enquanto banco central corta depósito compulsório

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Financial Times

O grupo Evergrande, da China, a mais endividada incorporadora de imóveis do mundo, mais uma vez flertava com uma moratória formal nesta segunda-feira (6), enquanto o prazo final do período de 30 dias para o pagamento de suas dívidas de US$ 82,5 milhões (R$ 469 milhões) se aproxima.

As ações do grupo despencaram quase 20%, na primeira negociação desde que a Evergrande revelou que teria dificuldade para cumprir uma obrigação de US$ 260 milhões (R$ 1,47 bilhão) e que seu presidente, Hui Ka Yan, tinha sido convocado pelos reguladores.

A Evergrande também disse que tinha formado um novo comitê de gestão de riscos com membros de grandes companhias controladas pelo estado.

Homem caminha diante de complexo habitacional da Evergrande em Guangzhou, na China
Homem caminha diante de complexo habitacional da Evergrande em Guangzhou, na China - Noel Celis - 20.set.2021/AFP

As ações da empresa negociadas em Hong Kong caíram 19,6% em relação ao fechamento na sexta, chegando a 1,81 dólar de Hong Kong (R$ 1,31), seu piso histórico.

Em um comunicado na segunda à noite, a Evergrande disse que o novo comitê "teria um papel importante na mitigação e eliminação de futuros riscos do grupo". O grupo, chefiado por Hui Ka Yan, inclui representantes de empresas estatais controladas pelos governos central e da província de Guangdong, como a China Cinda Asset Management.

Liu Zhihong, executivo sênior da Guangdong Holdings, servirá como copresidente do comitê. Analistas esperam que uma reestruturação da Evergrande inclua empresas estatais que poderão assumir muitos de seus projetos imobiliários.

A Evergrande acrescentou que "os recursos [que os membros do comitê] poderão usar serão benéficos ao grupo para superar os desafios que enfrenta hoje".

Os órgãos reguladores da China tentaram tranquilizar os investidores domésticos e internacionais de que poderão conter os efeitos colaterais da Evergrande. O banco central disse que depois do fechamento dos mercados ele ajudaria a liberar o equivalente a US$ 188 bilhões (mais de R$ 1 trilhão) em liquidez para o sistema bancário, cortando a porcentagem de depósitos que as instituições financeiras devem manter como reserva em 50 pontos básicos, acrescentando estímulo monetário à economia em desaceleração.

Enquanto o Banco Popular da China disse que não vai "inundar" a economia com estímulos, o órgão diretor do Partido Comunista Chinês prometeu manter uma política fiscal proativa e uma política monetária "flexível" no próximo ano, segundo a mídia estatal.

Chaoping Zhu, estrategista na JPMorgan Asset Management, disse que o corte reflete o desejo do governo de "alcançar um equilíbrio entre a estabilidade em curto prazo e reformas de longo prazo".

A Evergrande disse na sexta que tinha recebido uma demanda relativa a uma garantia de US$ 260 milhões (R$ 1,5 trilhão) que tinha emitido. Ela não disse a que se relacionava ou deu maiores detalhes, mas advertiu que se não conseguisse cumprir a garantia "poderia levar os credores a exigir a aceleração do pagamento" de outras dívidas.

Não ficou imediatamente claro se a garantia tinha sido divulgada anteriormente pela Evergrande, ou quando seria seu vencimento.

Em agosto, a Evergrande disse que tinha emitido garantias fiscais em nome de compradores de imóveis e sócios empresariais totalizando US$ 87,4 bilhões (R$ 497,3 bilhões).

A Evergrande, cuja crise de dívida começou a sair do controle em setembro, tem pelo menos quatro pagamentos de títulos no total de US$ 610 milhões devidos para o final de fevereiro. Os dois maiores, de US$ 255 milhões (R$ 1,45 bilhão) e US$ 235 milhões (R$ 1,33 bilhão), vencerão em 28 de dezembro e 24 de janeiro, respectivamente. Um período de graça de 30 dias sobre o pagamento de cupons de US$ 82,5 milhões (R$ 469 bilhões) deverá expirar na segunda-feira (13).

Em setembro, a empreiteira sediada em Shenzhen foi obrigada a reestruturar repagamentos para clientes no varejo que tinham comprado seus produtos de investimento de alto rendimento. Ela também ofereceu pagar aos investidores e fornecedores com apartamentos prontos em vez de dinheiro.

A Evergrande mais tarde perdeu os prazos iniciais de pagamento de títulos, mas em cada caso conseguiu cumprir suas obrigações antes do fim dos períodos de graça subsequentes, evitando uma moratória formal.

Pouco depois da declaração da Evergrande na sexta, o banco central da China reiterou suas críticas anteriores à gestão da companhia, acusando-a de "má administração" e de perseguir a "expansão cega".
Além de convocar Hui na sexta, o governo provincial de Guangdong também enviou uma equipe à sede do grupo para supervisionar suas finanças. A fortuna de Hui caiu mais de 70% no último ano, chegando a US$ 11 bilhões (R$ 62,59 bilhões).

Os preços dos imóveis em muitas cidades grandes da China atingiram um platô ou caíram nos últimos meses —fato apreciado pelas autoridades hoje encarregadas de implementar a nova agenda de políticas de "prosperidade comum" do presidente Xi Jinping, destinada a reduzir a desigualdade social.

Mas com o setor imobiliário chinês avaliado em até um terço da produção econômica total há cada vez mais preocupação de que a segunda economia do mundo possa crescer menos de 5% no próximo ano.
A demanda por terrenos urbanos caiu acentuadamente, ameaçando uma fonte de receitas crítica para governos locais que também lutam para financiar o investimento em infraestrutura, que promove o crescimento.

"O maior obstáculo ao crescimento será a recessão imobiliária", disse Larry Hu, principal economista para China da Macquarie. "Os tropeços do setor imobiliário representam um contágio significativo para a economia chinesa."

O Partido Comunista Chinês deverá realizar sua reunião anual de planejamento econômico nas próximas semanas. Os políticos deverão endossar algumas medidas que reforçarão moderadamente o crescimento, mas também continuarão a policiar rigidamente os limites de alavancagem impostos às empreiteiras no ano passado.

(Colaborou Xinning Liu, em Pequim)

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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