Ações de tecnologia nos EUA precisam ser olhadas com cuidado, diz presidente da Santander Asset

Gestora do banco prevê início da alta dos juros nos EUA no 3º trimestre de 2022

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São Paulo

Com o nível elevado de incertezas sobre o panorama doméstico para 2022, muitos investidores têm se voltado para as oportunidades vistas como mais atraentes hoje no mercado global.

No entanto, isso não quer dizer que o ambiente internacional não tenha também seus riscos com os quais é preciso ter atenção.

Presidente executivo da Santander Asset Management, Carlos André avalia que alguns setores nas bolsas americanas que já tiveram forte valorização ao longo dos últimos meses, como o de tecnologia, podem estar em níveis relativamente salgados.

"A gente tem viés positivo em relação à bolsa americana para o ano que vem. A observação que eu ressalto aqui é que esse viés positivo tem que ser ponderado pela valorização de alguns ativos. Ou seja, para alguns ativos em especial, o nível de preço tem que ser olhado com cuidado porque, em alguns casos, temos a interpretação de que está caro, basicamente", afirmou Carlos André, durante almoço com a imprensa nesta quarta-feira (8).

Carlos André, presidente da Santander Asset Management
Carlos André, presidente da Santander Asset Management - Divulgação

Ele acrescentou que o grupo dos papéis de tecnologia, que foi um dos que mais subiu desde que a pandemia começou, está entre os que demandam atenção maior por parte dos investidores.

"Tecnologia foi o que puxou [a alta das bolsas nos EUA] e, sem dúvida nenhuma, tecnologia no mercado americano tem que ser olhado com cuidado", afirmou Carlos André, que lembrou-se da pressão que o setor tem sofrido mundo afora ao longo das últimas semanas.

Com a precificação das ações prevista para esta quarta na Bolsa de Nova York (NYSE), nos EUA, o banco digital Nubank teve de reduzir as pretensões de capital a ser levantado junto ao mercado devido a esse menor apetite dos investidores por novos negócios de tecnologia.

Parte deste momento mais difícil atravessado pelas ações tem relação com o início do ciclo de alta dos juros pelo Federal Reserve (banco central dos EUA), que aumentará o custo de capital das empresas em escala global.

A gestora do banco espanhol trabalha com um cenário base em que a autoridade monetária americana deve promover o primeiro aumento nos juros no terceiro trimestre de 2022.

A previsão da Santander Asset é a que a taxa de juros nos Estados Unidos encerre dezembro do próximo ano em 0,6%, passando para 1,6%, em 2023, e para 2,5%, em 2024.

"O mercado global vai continuar entregando crescimentos de atividade robustos, ainda que a gente perceba uma desaceleração em relação aos números que vamos encontrar em 2021", afirmou Carlos André.

Após um crescimento estimado pela Santander Asset para o PIB (Produto Interno Bruto) global de 5,9% em 2021, muito por conta da fraca base de comparação, o avanço deve desacelerar para 3,9% e 3,1% em 2022 e 2023, respectivamente, de acordo com as contas da gestora.

Passando para o Brasil, Carlos André prevê que, frente ao cenário desafiador projetado para os próximos meses, com crescimento econômico baixo e incertezas sobre as eleições, e com juros bem mais altos do que no passado recente, o fluxo de saída de Bolsa em direção à renda fixa deve seguir como a tendência norteadora dos mercados.

"Um dos pontos de maior incerteza e de maior preocupação é como que vai ser conduzida a política fiscal, não só ao longo do ano que vem, mas que tipo de sinalização será transmitida pelos candidatos", disse o presidente da Santander Asset, que antes de assumir o cargo esteve à frente da gestora do BB (Banco do Brasil).

Ele chegou a ocupar por um breve período —entre o final de 2020 e abril de 2021— o posto de vice-presidente de gestão financeira do banco estatal.

"Nossa experiência pregressa mostra que, mais do que o partido ou o nome do candidato, é muito mais o que o mercado vai ouvir em relação aos planos e programas de economia dos candidatos", afirmou o presidente executivo da Santander Asset.

A gestora de recursos prevê um crescimento do PIB do Brasil de 4,6% neste ano, e de 0,5% em 2022.

Para a inflação, a expectativa é que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) encerre 2021 em 10,4%, e, no ano que vem, em 5,4%, acima do teto de 5% da meta do BC (Banco Central).

A Selic necessária para trazer os preços de volta à normalidade deve ser de 11,25%, segundo as previsões da Santander Asset.

Nesse contexto turbulento, Carlos André disse que ações de empresas com características de maior resiliência e com potencial de atuarem como consolidadoras em seus respectivos nichos de atuação tendem a se destacar frente aos pares.

O setor financeiro e o de utilidades públicas, formado por empresas de saneamento e de energia, foram citados entre os segmentos que tendem a ter uma performance superior à média dos pares.

Com os juros mais altos, papéis do setor imobiliário, por outro lado, podem estar entre os mais penalizados pelos investidores, afirmou. "O setor imobiliário como um todo está bem aquecido neste momento, mas acho que é um ponto de atenção."

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