Descrição de chapéu juros copom inflação

BC deve reduzir ritmo de aperto diante de alívio inflacionário e queda da atividade, projeta BofA

Credor privado acredita que inflação ao consumidor atingiu seu pico em novembro, com alta de 10,74%

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luana Maria Benedito David Lawder
São Paulo e Washington | Reuters

O Bank of America espera que sinais de alívio na frente inflacionária e evidências de desaceleração do crescimento econômico levem o Banco Central do Brasil a reduzir a dose de aperto monetário já na próxima reunião do Copom, em fevereiro.

David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do BofA, disse a jornalistas nesta quarta-feira (15) que o credor privado acredita que a inflação ao consumidor brasileiro atingiu seu pico em novembro, quando o IPCA registrou alta de 10,74% em 12 meses.

"Embora o Banco Central tenha dito que vai fazer mais uma elevação de 150 pontos-base, a gente acredita que a evolução do cenário até lá vai permitir ao BC já reduzir a intensidade para aumento de 100 pontos-base em fevereiro", afirmou Beker, prevendo taxa Selic de 10,75% ao ano ao fim do atual ciclo de aperto monetário.

Prédio do BofA em Los Angeles - Reuters

Atualmente, os juros básicos estão em 9,25% ao ano, após elevação de 1,5 ponto percentual na última reunião do Copom na semana passada.

Para o IPCA, a expectativa do BofA é de taxa em 12 meses de 10,1% ao fim de 2021 e de 5,0% em 2022 —teto da meta do ano que vem, de 3,5% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

"Haverá desinflação, mas não será o suficiente para trazer inflação para perto do centro da meta, o que, na nossa visão acontece somente no ano seguinte." O BofA espera alta de 3,5% dos preços ao consumidor ao fim de 2023, ano cuja meta é de 3,25%.

Além da percepção de que o IPCA em 12 meses deve arrefecer adiante, Beker afirmou que uma forte desaceleração econômica prevista para o ano que vem também será um fator determinante para o Banco Central na decisão de desacelerar a alta dos juros.

O BofA espera que o crescimento do Brasil registre expansão de 4,9% em 2021 e desacelere para 1,1% em 2022, com riscos baixistas para a projeção.

Embora a taxa prevista pelo BofA para o ano que vem represente piora expressiva ante o ano anterior, ainda é bem mais otimista do que a mediana das projeções na mais recente pesquisa Focus do BC, que aponta para expansão do PIB de 4,65% em 2021 e de apenas 0,5% em 2022.

Beker disse que a visão mais promissora do BofA reflete expectativa de alguma melhora no setor de serviços, que tem um peso importante na economia. "E a gente não pode esquecer que houve muita concessão que foi feita nos últimos anos que gera um 'pipeline' (canalização) de investimentos", acrescentou.

Ainda assim, o ano que vem trará "um mundo desafiador", principalmente sob a ótica de países emergentes, segundo Beker, devido ao processo de contenção da liquidez e aumentos de juros nos Estados Unidos, o que "cria uma dificuldade em termos de apreciação de moedas de mercados emergentes".

Além disso, no Brasil, as eleições presidenciais representarão fortes incertezas, já que provavelmente atrapalharão o andamento de reformas vistas pelos participantes do mercado financeiro como essenciais, em meio ainda a uma deterioração na credibilidade fiscal do Brasil.

Sobre essa frente, Beker afirmou que o que mais gera preocupação sobre a saúde das contas públicas é que "temos um Orçamento muito rígido, temos uma dificuldade de fazer cortes (de gastos) e temos reformas pendentes; a administrativa, por exemplo, está atrasada".

Ele também afirmou que, no futuro, uma combinação de crescimento baixo com juros mais altos também é motivo de receio, uma vez que levaria a dificuldades na estabilização da relação dívida/PIB.

"A visão do mercado é de que teve um enfraquecimento da estrutura fiscal. Nosso risco fiscal, no limite, vai depender muito do resultado eleitoral e qual vai ser a agenda do novo presidente", disse Beker.

Altas nos juros trazem riscos com dívida global em US$ 226 tri, diz FMI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou nesta quarta-feira que a dívida global subiu para US$ 226 trilhões no ano passado, o maior salto em um ano desde a Segunda Guerra Mundial, e estará em risco se as taxas de juros globais aumentarem mais rápido do que o esperado e o crescimento for instável.

No blog da instituição, autoridades do FMI disseram que a pandemia de Covid-19 fez com que a dívida atingisse 256% do PIB global em 2020, um aumento de 28 pontos percentuais. Empréstimos do governo foram responsáveis ​​por pouco mais da metade da elevação de US$ 28 trilhões, mas a dívida privada entre empresas não financeiras e famílias também atingiu novas máximas.

Economias avançadas e a China foram responsáveis ​​por 90% do aumento da dívida, possibilitado pelas baixas taxas de juros. A dívida avançou menos em outros países em desenvolvimento, que foram prejudicados por custos de empréstimos geralmente mais altos e acesso limitado a financiamento, disse o FMI.

placa com inscrição International Fund Monetary em azul espelhado
Logotipo do FMI (Fundo Monetário Internacional) na fachada do prédio da instituição, em Washington (EUA). - Brendan SMIALOWSKI / AFP

O Diretor de Assuntos Fiscais do FMI, Vitor Gaspar, e outras autoridades disseram que taxas de juros mais altas diminuirão o impacto da elevação dos gastos fiscais e farão com que as preocupações com a sustentabilidade da dívida se intensifiquem.

"Os riscos serão aumentados se as taxas de juros globais subirem mais rápido do que o esperado e o crescimento vacilar", escreveram as autoridades.

"Um aperto significativo das condições financeiras aumentaria a pressão sobre os governos, famílias e empresas mais endividados. Se os setores público e privado forem forçados a se desalavancar simultaneamente, as perspectivas de crescimento serão prejudicadas."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.