Bolsonaro teve muito apoio de policiais, e esse pode ser momento frutífero, diz federação

Presidente prometeu reajuste para policiais, e funcionalismo ameaça com greve

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Em meio à campanha para reestruturação da carreira e aumento salarial, o presidente da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), Luís Antônio Boudens, disse que o apoio eleitoral da categoria ao presidente Jair Bolsonaro (PL) é maior que entre militares, que, segundo ele, foram beneficiados durante negociações com o governo federal, por exemplo, na reforma da Previdência.

"Como o presidente [Bolsonaro] teve muito apoio das categorias policiais federais, principalmente Polícia Federal e PRF [Polícia Rodoviária Federal], eu acredito que pode ser um momento frutífero", afirmou Boudens em entrevista à Folha.

Jair Bolsonaro (PL) em cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado 16.dez.2021/Reuters

Bolsonaro prometeu um reajuste para policiais, base eleitoral do presidente, em 2022. Isso deflagrou um movimento com até ameaça de greve no serviço público federal.

Representantes da elite do funcionalismo, como diplomatas, analistas de comércio exterior, Tesouro Nacional, Receita Federal, CGU (Controladoria-Geral da União) e auditores do trabalho, se mobilizam para que Bolsonaro dê um reajuste salarial generalizado. O Ministério da Economia é contra essa concessão.

Boudens nega que os policiais estejam sendo privilegiados pelo governo ou cobrando a fatura pela eleição do presidente Bolsonaro. Essas corporações dizem que há uma defasagem nos salários em relação a outras categorias.

Ele cita que houve muitos prejuízos aos policiais em medidas adotadas pelo governo, como na reforma da Previdência e na reforma administrativa –na reestruturação previdenciária, Bolsonaro interveio e o Congresso aprovou regras mais brandas para essas corporações; e a reforma administrativa ainda não foi aprovada.

"O governo não teve um olhar direcionado para os policiais. É um exagero dizer que teve um privilégio. Se fosse verdade, o governo já teria enviado [previsto a reestruturação das carreiras] desde o início [da discussão do Orçamento", afirmou Boudens.

Ele também faz uma comparação com os militares, que tiveram uma reestruturação das carreiras junto com a reforma da Previdência.

O aumento aos policiais foi um pedido do próprio presidente Bolsonaro. Apenas PF, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Depen (Departamento Penitenciário Nacional), além de agentes comunitários de saúde, obtiveram previsão de reajuste dentro do funcionalismo. O Orçamento prevê R$ 1,7 bilhão para o reajuste para essas corporações.

O plano, que teve apoio também do ministro da Justiça, Anderson Torres, era que a reestruturação dessas carreiras chegasse a R$ 2,8 bilhões no próximo ano. Mas, diante do aperto no Orçamento, a verba foi reduzida. Isso exigirá uma reformulação do projeto.

O apoio político do reajuste salarial a policiais gerou uma pressão para que o governo também dê aumento para diversas outras categorias, que ameaçam com paralisação de um ou dois dias em janeiro e, se a negociação por reajuste generalizado não avançar, deve ser discutida uma greve em fevereiro.

Boudens disse que "buscar recomposição pela inflação é direito de todos servidores". A.
Fenapef, que representa 14,1 mil funcionários públicos, não deve aderir ao movimento grevista. "Há decisões da Justiça que nos impedem de fazer greve. Somos serviço essencial de segurança pública", argumentou.

A Polícia Federal se sente confortável em fazer esse tipo de solicitação [reestruturação da carreira]. Somos um órgão superavitário", afirmou Boudens, se referindo a recursos que vão para os cofres públicos por atuação da categoria, como apreensões, verba recuperada por causa de investigações contra a corrupção, além de taxas cobradas por emissão de passaportes e imigração.

O tratamento diferenciado, após a promessa de Bolsonaro, desperta a indignação das categorias preteridas.

Enquanto o presidente acena com aumentos a 45 mil policiais, cerca de 1 milhão de servidores federais estão sem reajuste há cinco anos.

Na PF, a remuneração de um agente vai de R$ 12.522,50 a R$ 18.651,79 por mês. Os delegados, por sua vez, ganham de R$ 23.692,74 a R$ 30.936,91. Na PRF, os vencimentos vão de R$ 9.899,88 a R$ 16.552,34 mensais.

A pirâmide salarial do Executivo federal, porém, mostra que 4,72% dos servidores ativos recebem até R$ 3.000 mensais. Outros 23,54% ganham entre R$ 3.000 e R$ 6.000.

A pressão por reajuste generalizado cresceu desde a semana passada e a elite do funcionalismo promete se unir numa greve geral caso não avance nas negociações por aumento salarial.

Isso preocupa a equipe econômica. Em mensagens encaminhadas a ministros e membros do governo, o ministro Paulo Guedes (Economia) pediu apoio contra o reajuste amplo aos servidores, que, segundo ele, pode quebrar o país.

Nos cálculos do governo, cada aumento de 1% linear a todos os servidores tem um impacto de R$ 3 bilhões.

Boudens disse que o impacto orçamentário da reestruturação das carreiras policiais é pequeno.

Segundo ele, o movimento de greve geral pode atrapalhar a articulação pela reestruturação das carreiras policiais. "Mas o presidente Bolsonaro tem sido muito firme na consolidação do que ele já se comprometeu a fazer."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.