Descrição de chapéu Folha ESG sustentabilidade

Brasileiro está mais cético sobre a agenda sustentável das empresas, diz pesquisa

Percepção sobre o cumprimento das responsabilidades socioambientais caiu em todos os setores econômicos

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Belo Horizonte

Os brasileiros estão mais céticos sobre o grau de comprometimento das empresas com a sustentabilidade. É o que mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Akatu em parceria com a consultoria GlobeScan.

Segundo o estudo, a percepção dos consumidores sobre cumprimento das responsabilidades socioambientais pelas companhias caiu de forma generalizada entre 2020 e 2021. A avaliação piorou em todos os 19 setores produtivos analisados, sendo que nove deles tiveram resultado negativo.

O segmento com o pior desempenho foi o de petróleo e gasolina, que saiu de -13% em 2020 para -47% neste ano, seguido por mineração (-43%) e indústria química (-39%). O cálculo considera o saldo das respostas positivas menos as negativas.

A pesquisa foi feita de forma online, entre junho e julho deste ano, com aproximadamente mil brasileiros.

Alguns setores tiveram pontuações melhores, mas viram a avaliação sobre seu comprometimento com o meio ambiente e a sociedade despencar mais de 20 pontos percentuais.

Um dos exemplos é a indústria farmacêutica, que saiu de 41% no ano passado para 19% em 2021. Caso semelhante aconteceu com o segmento de tecnologia e computadores, que permanece positivo no ranking, mas caiu de 38% para 13%.

O estudo considerou duas hipóteses para explicar a queda generalizada na avaliação feita pelos consumidores brasileiros. A primeira diz respeito à maior exigência da população em relação às responsabilidades socioambientais das empresas, especialmente após 2020, ano em que o mundo corporativo foi mais ativo devido à pandemia.

Outra hipótese é de que as empresas teriam, de fato, apresentado um desempenho sustentável inferior em 2021.

"A expectativa do consumidor cresceu na pandemia e as companhias fizeram menos em 2021. Isso causou uma defasagem em termos de cumprimento de responsabilidade socioambiental", afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu e colunista da Folha.

Segundo ele, os dados são interessantes, pois mostram que os brasileiros estão atentos e esperam uma contribuição significativa por parte do setor privado.

"As empresas são vistas como muito poderosas e, como contrapartida, deveriam se responsabilizar por questões socioambientais."

Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu e colunista da Folha - Patricia Stavis/Folhapress

A queda da confiança do consumidor coincide com o boom do ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança) no mundo corporativo. Na visão do diretor, as duas coisas podem estar relacionadas.

Mattar diz que há uma enorme variedade de temas sobre os quais as empresas precisam se debruçar na pauta ESG. Isso faz com que a agenda sustentável delas seja necessariamente diversificada, o que pode influir no ceticismo dos brasileiros.

"A percepção [sobre o compromisso sustentável] cai quando a vulnerabilidade do consumidor já não é tão grande, como ocorre neste segundo ano de pandemia, e quando as empresas fazem investimentos fragmentados em ESG, e não mais concentrados numa área ou outra", afirma.

A pesquisa também comparou a percepção dos brasileiros com outros 18 países. Segundo o levantamento, a avaliação por aqui tende a ser mais negativa do que a média global.

"No Brasil, chama a atenção o saldo de 15 ou mais pontos percentuais inferiores ao da média dos países em diversos setores, possivelmente decorrente de maior expectativa de desempenho socioambiental pelo consumidor brasileiro. São exemplos: agricultura, tecnologia, bancos, vestuário, mobília e automóveis", destaca o estudo.

Em comparação a média global, os brasileiros também sentem maior necessidade de apoio das empresas. Cerca de 50% dizem que a falta de contribuição do setor privado é um impedimento para levar uma vida mais sustentável. No mundo, essa proporção é de 34%.

Para Helio Mattar, outro achado interessante da pesquisa é sobre a alta demanda da população. Ele conta que os entrevistados foram questionados sobre como as organizações poderiam ajudá-los a ter uma vida sustentável —e todos os tópicos foram marcados.

Aproximadamente dois terços dos brasileiros disseram que as 18 ações listadas são muito úteis, o que envolve desde ajudar a economizar água e energia até fazer produtos que reduzam o impacto nas mudanças climáticas e garantir o bem-estar dos animais.

"O consumidor está dizendo claramente: 'a empresa é poderosa, já mostrou o que pode fazer, então venha e faça, porque é isso que estamos esperando'."

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