Brasileiros no exterior enviam volume recorde de dinheiro ao país

Imigrantes aproveitam real barato para comprar imóveis e ajudar familiares

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A desvalorização do real frente a moedas como o dólar e euro tem estimulado brasileiros pelo mundo a remeter quantias recordes de dinheiro de volta ao país, que transformam-se em investimentos como a compra de imóveis e terrenos, abertura de pequenos negócios e ajuda a familiares.

As transferências pessoais com destino ao Brasil de janeiro e setembro atingiram US$ 2,84 bilhões (R$ 15,9 bilhões), maior volume da série iniciada em 1995.

Para quem vive nos Estados Unidos, Canadá ou Europa e recebe salário em moeda local, o dólar na casa dos R$ 5,60 e euro a R$ 6,35 têm contribuído para ajudar familiares no Brasil a atravessar a pandemia.

É o caso de Roni de Souza, 53 anos, caminhoneiro que foi morar nos EUA em 1998. Fez de tudo um pouco: lavou pratos em restaurantes, instalou carpetes e pisos e aprendeu a dirigir caminhões. Hoje é dono de uma empresa na área e coordena frota de nove caminhões e nove trailers, todos dirigidos por brasileiros, em New Jersey.

Roni aparece numa videochamada, na tela de um computador, sorrindo em frente a caminhões
Roni de Souza, 53, caminhoneiro que vive nos EUA e remete dinheiro de volta ao Brasil - Marlene Bergamo/Folhapress

A escassez de caminhoneiros nos EUA torna a profissão uma das mais valorizadas do país. Segundo Roni, os ganhos variam de US$ 900 a US$ 3.000 (R$ 5.000 a R$ 16,8 mil) por semana.

Ele ajuda familiares no Brasil desde que se chegou nos Estados Unidos. "É o que todos que vêm para cá fazem", diz.

Com a alta do dólar, comprou no ano passado uma casa para os irmãos, além de um apartamento em Vila Velha e um terreno em Domingos Martins, ambas no Espírito Santo. Também ajuda a mãe, que vive em Goiás. "Na pandemia, ficou tudo mais difícil para todos. Nós, caminhoneiros, tivemos sorte porque não paramos de trabalhar."

Alissandra Gomes, 30 anos, é bióloga e deixou São Paulo rumo a Vancouver, no Canadá, em maio. Foi com o marido, que recebeu uma oferta de trabalho na área de tecnologia, em busca de uma vida melhor.

"O mercado de trabalho para nossas áreas de trabalho está desvalorizado no Brasil. Morando fora fica mais fácil ajudar minha mãe, que está desempregada. Com o salário mínimo e o real desvalorizado, US$ 100 (R$ 560) tornam-se um bom valor para ajudar minha família no Brasil", diz Alissandra.

Alissandra Gomes, 30, bióloga que vive no Canadá - Marlene Bergamo/Folhapress

Apesar de conseguir ajudar a família, a bióloga torce para a recuperação da moeda nacional.

"A desvalorização do real é muito ruim para o país, pois os produtos e alguns serviços baseados no dólar ficam muito mais caros. Mesmo sem pandemia, ficaria inviável para minha família me visitar, pois as passagens áreas estão muito caras", diz.

"Torço para que o real aumente, assim produtos como os de informática ficarão mais acessíveis para a população [brasileira]."

Há quem também esteja esperando a valorização do real para deixar de vez a vida no Brasil. O caminhoneiro Daniel Gonçalves Chaves, 41, que vive nos EUA desde 2001 e já virou cidadão americano, espera o real se valorizar para deixar a vida de Belo Horizonte definitivamente para trás.

"Antes de ter filho, até pensava em voltar. Agora quero vender minhas coisas no Brasil, mas não está valendo a pena. Estou esperando."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.