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BuzzFeed enfrenta êxodo de investidores às vésperas de estreia na Bolsa

Ações da empresa devem começar a ser negociadas na Nasdaq na segunda (6)

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Anna Nicolaou Nikou Asgari
Nova York | Financial Times

O BuzzFeed seguirá com seus planos ambiciosos de construir um gigante da mídia online, apesar do êxodo de quase todos os investidores de seu fundo Spac (companhia com propósito especial de aquisição) enquanto ele se prepara para abrir o capital.

Os investidores do Spac que está levando o BuzzFeed à Bolsa sacaram 94% de seu dinheiro, indicando desconfiança sobre as perspectivas do grupo de mídia e destacando o quanto os Spacs caíram em desgraça.

"Acho que a expressão 'em curto prazo o mercado de ações é uma máquina de votar, em longo prazo é uma balança' é verdadeira", disse ao Financial Times o fundador do BuzzFeed, Jonah Peretti. "A mídia digital ainda sofre uma certa ressaca do estouro da badalação cinco anos atrás. Minha opinião é que deveria ser mais valorizada do que o mercado avalia hoje."

Ilustração do BuzzFeed para a 'Síndrome de Havana'
BuzzFeed levantou US$ 288 milhões (R$ 1,6 bilhão) de investidores no início deste ano - Reprodução

As Spacs funcionam como cheques em branco: levantam dinheiro de investidores e se alistam no mercado de ações, com a promessa de encontrar uma empresa privada atraente para se fundirem. Como os acionistas inicialmente não sabem que empresa o veículo vai comprar, eles podem sacar seu dinheiro se não quiserem investir no alvo escolhido.

Depois de levantar US$ 288 milhões (R$ 1,6 bilhão) de investidores no início deste ano, o veículo com propósito especial de aquisição 890 Fifth Avenue Partners anunciou sua fusão com o BuzzFeed em junho. A empresa vai acabar recebendo apenas US$ 16 milhões (R$ 89,6 milhões) daquele valor original, mais US$ 150 milhões (R$ 840 milhões) de um título conversível.

"Isso não muda a nossa estratégia", disse Peretti. "Não sou um especialista em Spacs, apenas as vejo como um meio para um fim para nós."

As ações da empresa devem começar a ser negociadas na Nasdaq na segunda-feira (6). O BuzzFeed, que é conhecido por seus textos curtos em forma de lista, preparou um questionário-teste para a ocasião chamado: "Você deve comprar ações do BuzzFeed?" O "quiz" é "puramente satírico", disse Peretti.

Peretti criou o BuzzFeed 15 anos atrás como um laboratório para ver que tipo de conteúdo se tornaria popular na internet. O site cresceu rapidamente, conquistando o público mais jovem com vídeos de ação, como explodir uma melancia com elásticos, e postagens virais como "O Vestido". A empresa também investiu em jornalismo, conquistando um Prêmio Pulitzer.

Mas o setor de mídia online tem dificuldades financeiras. Peretti quer usar o dinheiro do mercado aberto para reunir participantes menores em um megagrupo. "Quando temos essas empresas privadas que receberam investimentos [em capital de risco] e todo mundo fica imaginando quanto elas valem, é difícil fazer uma transação", disse ele. "Abrir o capital vai facilitar muito."

O BuzzFeed recentemente concordou em comprar a Complex, editora digital focada em moda de rua, cultura pop e esportes, por US$ 200 milhões em dinheiro e US$ 100 milhões em ações, após adquirir a HuffPost no ano passado.

Peretti havia tentado no ano passado fazer um IPO tradicional, mas desistiu desse plano assim que surgiu a pandemia. Em junho, o BuzzFeed aceitou um acordo com a 890 Fifth Avenue Partners para abrir o capital com uma avaliação de US$ 1,2 bilhão, ou US$ 1,5 bilhão (R$ 8,4 bilhões) incluindo a Complex.

A empresa conseguiu US$ 150 milhões por meio de títulos conversíveis, em vez do típico investimento privado em financiamento público de capital (Pipe), movimento apelidado de "o beijo da morte" por Michael Ohlrogge, professor de finanças corporativas na Escola de Direito da Universidade de Nova York.

"O ideal é encontrar investidores Pipe a US$ 10 cada. Se você não conseguir, dê um desconto. Se ainda não conseguir, tente vender notas conversíveis", disse ele, acrescentando que os juros de até 8,5% que os investidores do BuzzFeed podem ganhar mostram que "será um negócio ainda mais difícil do que a maioria dos Spacs".

Peretti também concordou em reservar 1,2 milhão de ações do BuzzFeed, parte das quais será cedida ao acionista NBCUniversal se o preço das ações cair abaixo de US$ 12,50 (R$ 70).

Os Spacs, que já foram o produto de investimento mais quente de Wall Street, despencaram em popularidade nos últimos meses. Os investidores têm retirado dinheiro em ritmo cada vez maior, enquanto os Pipes também secaram, obrigando as empresas a encontrar fontes de financiamento mais caras.

A taxa média de resgate no terceiro trimestre foi de 52%, acima dos 10% nos primeiros três meses do ano, de acordo com dados da Dealogic.

O Spac do BuzzFeed permite que os primeiros investidores, incluindo a NBCUniversal, finalmente lucrem. A startup, fundada em 2006, atraiu mais de US$ 500 milhões de capitalistas de risco e empresas de mídia, que anunciaram o BuzzFeed como o futuro do jornalismo. No entanto, o BuzzFeed e seus pares tiveram dificuldade para seguir essa suposta tendência, resultando em um período de avaliações reduzidas, demissões de funcionários e consolidação.

A estreia do BuzzFeed no mercado ocorre num momento em que a empresa enfrenta uma batalha de anos contra seus jornalistas, que se sindicalizaram, por causa de salários. Alguns deles deixaram o trabalho em protesto na quinta-feira (2).

"Há uma tensão natural sobre como recompensar pessoas que fazem um trabalho tão importante para o mundo, quando também há realidades financeiras quanto ao que podemos pagar como empresa", disse Peretti. "Um Pulitzer não traz receita, e tudo bem, faz parte da missão. Mas também precisamos garantir o rigor fiscal."

O BuzzFeed se saiu melhor do que o esperado durante a pandemia, encerrando 2020 com US$ 4 milhões (R$ 22,4 milhões) em receita líquida, em comparação com um prejuízo líquido de US$ 29 milhões (R$ 162,4 milhões) em 2019.

O BuzzFeed projeta que dobrará a receita de US$ 520 milhões (R$ 2,9 bilhões) este ano para US$ 1,1 bilhão em 2024, ajudado por seu negócio de comércio em rápido crescimento, no qual vende produtos que vão de espátulas a brinquedos sexuais.

"A mídia digital foi supervalorizada e depois subestimada, e agora está em um lugar onde será avaliada mais como uma empresa", diz Peretti. "Não é 'Isso é quente ou não?', mas que tipo de crescimento, receita e lucro está gerando? Fizemos US$ 500 milhões em receitas este ano."

Traduzido por Luiz Roberto M. Gonçalves

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