Descrição de chapéu tecnologia mercado de trabalho

Nova leva de cursos tenta suprir aumento da demanda por profissionais de TI

Projeção aponta que 67% de quase 800 mil novas das vagas que serão criadas até 2025 podem não ser preenchidas por falta de qualificação

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São Paulo

O setor de tecnologia deve criar 797 mil novas vagas de trabalho no Brasil até 2025, segundo projeção da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais). A entidade estima, no entanto, que faltarão profissionais para ocupar 532 mil dessas vagas.

Os números reforçam o gargalo do déficit de profissionais de TI no país, piorado pela aceleração digital impulsionada durante a pandemia. Com a alta demanda, instituições de ensino têm apostado em novos cursos e propostas didáticas que visam atrair estudantes para a área.

Até agosto, o país quase dobrou o número de profissionais cuja contratação era esperada até o final de 2021. O alto número de contratações durante a crise sanitária fez com que a organização atualizasse as projeções até 2025.

Cerca de 53 mil estudantes se formaram no Ensino Superior em cursos da área em 2019, segundo os dados mais recentes do Inep. Se o número se mantiver estável nos próximos anos, a Brasscom estima que a oferta de profissionais deve continuar abaixo do necessário.

Em 2025, por exemplo, os cerca de 50 mil formados na área ao ano no país serão menos de um quarto do necessário para ocupar as 206.940 mil vagas projetadas para aquele ano.

Para tentar suprir a demanda da área, instituições tradicionais têm investido em novos cursos voltados para o setor.

No Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), que se consolidou com o oferecimento de cursos na área de administração e negócios, o curso de engenharia da computação é oferecido desde 2015.

A faculdade lança agora um curso de ciências da computação, mais voltado para suprir a demanda específica por desenvolvedores no país, com uma proposta didática inovadora.

A nova graduação é direcionada para a resolução de problemas reais de pessoas e corporações. Já no primeiro semestre, 80% da carga horária é destinada à criação, em equipe, de um software que auxilie clientes com problemas do dia dia.

Ao longo do curso, os alunos simularão o processo de trabalho de desenvolvedores profissionais, com ciclos curtos de projetos em que aprenderão a escrever códigos, aplicar metodologias para resolução de problemas e liderar equipes. No final da faculdade, os alunos farão projetos de inovação em parceria com grandes empresas do setor, voltados para áreas como inteligência artificial e machine learning.

Além dos cursos específicos para a área, a faculdade busca fomentar o desenvolvimento de habilidades tecnológicas também em alunos de outras carreiras.

"Todo aluno de graduação do Insper agora tem que aprender a programar, mesmo aqueles de cursos como Direito", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper.

A ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), reconhecida pelos cursos de comunicação e marketing, também inaugurou em 2018 um campus voltado para a tecnologia e passou a oferecer o curso de Sistemas de Informação.

O curso em nota máxima no MEC e Enade e, além da formação técnica, oferece aulas de networking, competências socioemocionais e ferramentas de aprendizagem.

Em janeiro , a instituição oferecerá cursos de férias presenciais e online voltados para a área de tecnologia, como Big Data para análise de relações internacionais, Introdução aos filtros de realidade aumentada do Instagram e Gestão de acessibilidade digital.

Conhecido pela capacitação de mão de obra para a indústria, o Senai oferece agora cursos como análise e desenvolvimento de sistemas e segurança cibernética. Para garantir que a capacitação oferecida não torne-se rapidamente obsoleta, como é comum na área, têm feito parcerias com gigantes da tecnologia como Google, Microsoft, Oracle, Cisco e Huawei.

A Faculdade de Tecnologia do Senai em São Paulo lançou em setembro um novo curso superior de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, disponível a partir de 2022.

O curso é voltado para a capacitação de desenvolvedores versáteis que combinem tecnologia da informação com automação industrial e possam trabalhar em postos da indústria 4.0. Segundo a faculdade, é o único do país a oferecer a combinação.

Os Institutos Federais, voltados para a formação profissionalizante, também incluíram em seu Plano de Desenvolvimento Institucional do quinquênio 2019-2023 a criação do bacharelado em Sistemas de Informação em todos os 38 campi pelo país.

Em março, o campus de Votuporanga (SP) passou a ofertar o seu, com quatro anos de duração e disciplinas que inovam ao capacitar os alunos a empreender na área. O ensino é híbrido, com 85% da carga horária presencial e o restante à distância.

Mas os cursos de tecnologia ainda padecem de baixa procura, poucas matrículas e alta evasão, segundo o documento da Brasscom lançado nesta quarta (1). Há cerca de 2,4 candidatos por vaga ofertada nos cursos que capacitam para as Tecnologias de Informação e Comunicação. Entre os candidatos, apenas 24,85% são admitidos.

A associação alerta ainda que cerca de 39% dos alunos da área na rede privada abandonam o curso. O mesmo acontece com 26,6% daqueles matriculados na rede pública. Para a Brasscom, a comparação das taxas mostra que há um viés de insuficiência econômica responsável pela evasão e baixa oferta de profissionais na área.

Por isso, defende que o aumento da oferta de profissionais para a área exige melhorias nas grades curriculares de cursos correlatos, que podem originar futuros profissionais da tecnologia, como matemática, engenharias e ciências.

A necessidade de formar profissionais para um mundo em que habilidades como a programação serão exigidas em diferentes áreas une-se agora ao imperativo de garantir que profissionais de outras áreas possam migrar para vagas de tecnologia no futuro.

Requalificação é palavra de ordem entre os especialistas nesse mercado, que veem no formato uma maneira de suprir a baixa oferta de profissionais de tecnologia pelas faculdades tradicionais.

"Temos que preparar os jovens, mas nosso maior desafio é requalificar adultos a partir de 30 anos para que possam atuar na área de tecnologia" diz Gustavo Leal, diretor de operações do Senai.

O engenheiro ressalta que o déficit de profissionais para a área não é restrito ao Brasil, mas um fenômeno global que se alastrou com a rapidez com que as novas tecnologias foram adotadas. "É uma demanda no mundo inteiro. Os países serão tão exitosos na economia do conhecimento quanto forem capazes de responder aos desafios de formação e requalificação".

Atraído para a área pela maior oferta de vagas e salário médio que ultrapassa o dobro da média nacional (R$ 1.971), o economista Eduardo Dias, 30, migrou em 2020 para a área da tecnologia.

Matriculou-se no curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo) e, no primeiro ano do curso, passou a receber um treinamento remunerado em desenvolvimento de apps de uma grande empresa da área.

"Antes, era comum que enviasse diversos currículos ao dia e não tivesse muitos retornos. Agora, as empresas e recrutadores me ligam e vêm até mim", conta.

Eduardo aparece sorridente numa tela de computador do tipo notebook, em frente a um fundo de parede pintada em branco e amarelo.
Retrato via Zoom de Eduardo Dias, economista que mora em Campinas e decidiu virar desenvolvedor por ver mais oportunidades na área de tecnologia - (Foto: Bruno Santos/ Folhapress)

Eduardo escolheu uma segunda graduação e o caminho mais tradicional para migrar para a tecnologia, mas há outros –inclusive mais curtos.

Iniciativas que visam capacitar estudantes e trabalhadores de outras áreas para atuarem no setor incluem programas de formação oferecidos por empresas, como o Apple Academy, e cursos online de plataformas como Alura.

Movimentos sociais como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) também criaram núcleos de tecnologia que oferecem cursos de capacitação na área em regiões periféricas.

A Revelo, plataforma de recrutamento voltada para a área de tecnologia criada em 2014, criou um programa voltado para capacitação de curto prazo de profissionais em parceria com 42 startups de educação tecnológica.

A empresa financia a formação de um novo profissional para cada contratado pela plataforma, que oferece vagas em empresas como Natura e Ambev. "Entendemos que o recrutamento é importante no curto prazo, mas a capacitação é essencial", diz Lucas Mendes, um dos fundadores da empresa.

Segundo a Revelo, a procura por profissionais da área na plataforma cresceu 670% em 2020, em relação a 2019. Entre janeiro e outubro de 2021, o aumento foi de 480%, em relação ao mesmo período do primeiro ano da pandemia.

Os profissionais mais procurados são aqueles que desenvolvem sites (chamados de dev web) e os desenvolvedores full stack, que podem contribuir em todas as etapas de um novo projeto de app.

As empresas buscam profissionais com capacidade técnica e alguma experiência. E, na área, o trabalho remoto teve alta adesão entre os profissionais e veio para ficar. "Avisamos as empresas que, se insistirem em levá-los de volta ao escritório, perderão equipes", diz Lucas.

Onde encontrar os novos cursos

Graduação em Ciência da Computação, com foco em projetos e resolução de problema

  • Onde: Insper (R. Quatá, 300, Vila Olímpia, São Paulo)
  • Duração: 8 semestres
  • Mensalidade: R$ 5.240,00

Bacharelado em Sistemas de Informação

  • Onde: ESPM (R. Joaquim Távora, 1240 - Vila Mariana - São Paulo)
  • Duração: 8 semestres
  • Mensalidade: R$ 4.121,00

Curso superior em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, com integração entre áreas de TI e automação

  • Onde: Faculdade de Tecnologia Senai-SP Armando de Arruda Pereira (r. Santo André, 680, Boa Vista, São Caetano do Sul)
  • Duração: 4 semestres
  • Mensalidade: R$ 881,68

Bacharelado em Sistemas de Informação

  • Onde: Institutos Federais (diversas localidades)
  • Duração: 8 semestres
  • Mensalidade: Gratuito (ingresso via SISU)

Profissões com mais vagas em tecnologia

  • Desenvolvedor full stack (que cuidam tanto da interface quanto do código do app)
  • Desenvolvedor de sites para a web
  • Desenvolvedor back-end (criam e gerenciam a área que armazena os dados do app ou software)
  • Desenvolvedor front-end (cuidam do design e experiência do usuário)
  • Técnico em informática
  • Analista de sistemas
  • Analista de suporte
  • Analista de testes
  • Analista de infraestrutura
  • Gerente de projetos
  • Designer
  • Analista de Business Inteligence
  • Gerente de TI

Fonte: Banco Nacional de Empregos, Insper e Revelo

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