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É hora de parar de chamar a inflação de transitória, diz Yellen

Secretária do Tesouro dos EUA afirma que nova variante de Covid pode levar a novos aumentos de preços

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Alan Rappeport Madeleine Ngo
Washington | The New York Times

Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, disse na quinta-feira (3) que acreditava que era hora de deixar de caracterizar a inflação como temporária e deu a entender que a variante ômicron do coronavírus pode prolongar o problema da alta de preços.

Yellen disse que no trimestre passado parecia que a pandemia estava recuando e que a economia em breve se normalizaria. Mas a difusão de novas variantes do vírus alterou esse quadro, afirmou.

"Agora, a nova variante, ômicron, significa que a pandemia pode continuar conosco por um bom tempo, com sorte sem sufocar a atividade econômica, mas afetando o nosso comportamento de maneiras que contribuem para a inflação", disse Yellen, falando em um evento patrocinado pela Reuters.

As declarações de Yellen ecoaram as de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, que afirmou no começo da semana que a inflação era mais que um problema de curto prazo.

Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, no Capitólio, em Washington, EUA - Elizabeth Frantz - 30.nov.2021/Reuters

"Estou pronta a abandonar o uso do termo ‘transitória’", disse Yellen. "Aceito que essa não é uma descrição adequada daquilo que estamos enfrentando".

Yellen afirmou que era cedo demais para dizer que impacto a variante ômicron poderia ter sobre a economia. Ela pode causar problemas adicionais nas cadeias de suprimento, apontou a secretária, mas, se resultar em uma redução no crescimento econômico, pode também conter os aumentos de preços. Yellen advertiu, porém, que a variante poderia causar "problemas significativos".

"Estamos muito inseguros, a esta altura, sobre o grau de ameaça que ela representa", disse Yellen. "Com sorte não será algo que retardará significativamente o crescimento econômico".

Yellen, que já presidiu o Fed, disse que o banco central estava decidido a usar os recursos de que dispõe para conter a inflação, mas afirmou que havia pouco que a instituição pudesse fazer para desemaranhar as cadeias de suprimento desordenadas. Ela disse que a sugestão de Powell esta semana de que o Fed poderia acelerar seus planos para retirar seu apoio financeiro à economia "faz sentido".

"O que não queremos ver se desenvolvendo é uma espiral de preços e salários, na qual a inflação se torne um fenômeno autoalimentado e que poderia se tornar crônico na economia dos Estados Unidos, algo endêmico", disse Yellen.

Os comentários dela surgiram depois que mais dirigentes do Fed sinalizaram preocupação crescente de que a inflação, cuja meta de longo prazo no banco central é de 2% ao ano em média, esteja se provando mais duradoura do que se esperava anteriormente.

No mês passado, o Fed anunciou que começaria a reduzir em US$ 15 bilhões (R$ 84,5 bi) por mês suas aquisições mensais de US$ 120 bilhões (R$ 676 bi) em títulos, o que significaria que seu programa de apoio estaria encerrado por volta de junho. Essas compras de títulos em larga escala fazem com que o dinheiro continue a circular nos mercados financeiros.

Randal Quarles declarou em seu último discurso como membro do conselho do Fed, na quinta-feira (2), que ele "certamente apoiaria" encerrar o programa de compra de títulos mais cedo. Quarles deixará sua posição no banco central americano no final do ano.

Ele declarou que a alta da inflação "pode já não se dever a gargalos de suprimento", e que o Fed talvez tivesse de reagir mais rápido a fim de controlar a demanda.

"Não estamos falando de uma questão de procura em nível pré-Covid e de oferta que está demorando um pouco a voltar à sua capacidade anterior à Covid", ele disse, em um evento organizado pelo American Enterprise Institute. "Em lugar disso, estamos vendo demanda mais alta sustentada".

Mary Daly, presidente do Federal Reserve de San Francisco, disse em um evento organizado pelo Instituto Peterson de Economia Internacional que o Fed pode precisar acelerar o fim de seu programa de compra de títulos e começar a "preparar um plano" para ao menos considerar uma alta das taxas de juros, que estão perto do zero desde o começo da pandemia.

Daly disse que o banco central não teria por objetivo retirar completamente o apoio, "mas começar a reduzir a quantidade de acomodação que estamos provendo, em um momento em que a economia parece estar a caminho de se sustentar sem ajuda".

Raphael Bostic, presidente do Federal Reserve Bank de Atlanta, disse no evento da Reuters quinta-feira (2) que a inflação alta e os avanços no mercado de trabalho tornavam apropriado que o Fed encerrasse suas aquisições de títulos até o final do primeiro trimestre do ano que vem. Se previsão é de que as taxas de juros venham a atingir até 4% no ano que vem, ele disse, haveria "um bom argumento" para que o banco central adiantasse sua elevação dos juros.

Tradução de Paulo Migliacci.

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