Descrição de chapéu Imposto de Renda

Economia defende deixar de reajustar tabela do IR

Pasta de Guedes diz que medida causa impacto fiscal, no momento em que classe política pressiona por gastos

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Brasília

A equipe do Ministério da Economia defende deixar de reajustar a tabela do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física), de acordo com dois integrantes do governo ouvidos pela Folha. O entendimento é que a medida vai causar impacto fiscal no momento em que a classe política avança sobre o Orçamento em busca de mais gastos.

Além disso, a equipe do ministro Paulo Guedes vai se posicionar de forma contrária ao projeto apresentado nesta semana no Congresso pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA), que corrigiria a tabela e elevaria o teto de isenção para quem ganha até R$ 3.300 por mês (hoje, o limite é de R$ 1.903,98).

Em sua proposta, Coronel também acaba com uma das faixas de cobrança do IRPF, a que prevê uma alíquota de 7,5%. Nas outras faixas, haveria reajustes de 13,3% a 73,3%.

Homem de cabelos brancos e terno preto, com gravata amarela, tendo um painel azul e branco ao fundo
Ministro da Economia, Paulo Guedes, participa de cerimônia no Ministério da Economia - EDU ANDRADE - 1.dez.21/Ascom/ME

A renúncia é estimada em R$ 35 bilhões. Mas, segundo o senador, a própria Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia já apontou que a recuperação econômica e a inflação promoverão um crescimento estrutural da arrecadação do IR em R$ 60 bilhões anuais.

Na prática, a correção da tabela reduz o pagamento de impostos pela população e, por isso, reduz a arrecadação para os cofres públicos.

No atual entendimento do Ministério da Economia, a correção feita pelo governo deveria ser a que foi inserida no projeto de lei apresentado em junho para alterar as regras do Imposto de Renda. O projeto foi colocado na geladeira pelo senador, que era relator do texto.

O programa defendido pelo governo promovia um reajuste mais brando que o texto do senador e também continha medidas que geravam receitas, como o início da tributação sobre dividendos (parcela do lucro paga pelas empresas aos seus donos ou acionistas).

Em meio às dificuldades com o andamento da reforma tributária, a equipe econômica chegou a cogitar uma correção da tabela por meio de uma MP (Medida Provisória), o que legalmente seria possível –mas a ideia não foi adiante. A visão agora é que a tabela não deve ser corrigida de forma separada.

Defasagem atinge contribuintes de menor renda e gera R$ 149 bi ao governo

Como mostrou a Folha nesta semana, a defasagem acumulada na tabela passa de 130% e levará os contribuintes a pagarem R$ 149 bilhões a mais do que seria devido, caso a tabela tivesse sido reajustada integralmente pela inflação desde 1996.

Foi no segundo ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que a atualização anual deixou de ser feita e passou a ser esporádica, conforme a vontade de cada governante.

A partir da gestão tucana, a correção começou a ser realizada de maneira inconstante, como em 2002 e, nos governos do PT, entre 2005 e 2015 —último ano em que houve reajuste.

A Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal) diz que a defasagem da tabela afetará em especial 15,1 milhões de pessoas de menor renda em 2022. Essa parcela da população poderia estar livre da tributação caso, a faixa salarial tivesse sido atualizada integralmente.

O presidente da Unafisco, Mauro Silva, diz que a falta de atualização significa aumento de impostos e que o presidente Jair Bolsonaro descumpre uma promessa de campanha. Quando candidato, o presidente prometeu elevar a isenção para todos que ganham R$ 5 mil por mês.

"Quando ele assume em 2019, ele já tinha que editar uma MP com a inflação de 2018 e todo ano deveria fazer a mesma coisa", afirmou. "Não fez isso".

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