Entenda a crise da Evergrande e seu rebaixamento pela Fitch

Leia o que se sabe sobre crise imobiliária que abala economia da China

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Beiyi Seow
Pequim (China) | AFP

Duas incorporadoras imobiliárias chinesas, incluindo a gigante Evergrande, deixaram de pagar empréstimos que totalizam US$ 1,6 bilhão (R$ 8,9 bi) , afirmou nesta quinta-feira (9) a agência de classificação de risco Fitch.

Veja o que se sabe sobre a crise imobiliária que abala economia da China.

O que está acontecendo com Evergrande?

Complexo imobiliário desenvolvido pela Evergrande em Beijing, China - Noel Celis - 8.dez.2021/AFP

O grupo, com uma dívida de cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,6 tri), vem lutando há vários meses para honrar o pagamento de juros e as entregas de apartamentos.

A causa: uma mudança regulatória decretada no ano passado por Pequim no setor imobiliário para reduzir os empréstimos e, portanto, o endividamento. Desde então, Evergrande se viu sem liquidez.

Investimentos amplos e às vezes arriscados —turismo, lazer, digital, carro elétrico— também explicam a situação precária de Evergrande.

No dia 6 de novembro, o grupo deveria ter pago um reembolso de US$ 82,5 milhões (R$ 460,1 mi). Dispunha de um período de carência de um mês, que terminou na terça-feira.

Desde então, "nenhum anúncio foi feito pela empresa ou seus credores em relação ao reembolso", informou a Fitch nesta quinta-feira (9).

Como resultado, a agência rebaixou a classificação da Evergrande em um nível, para o penúltimo nível de sua nomenclatura.

Quais as consequências?

Evergrande diz que emprega 200 mil pessoas e afeta indiretamente 3,8 milhões de empregos na China. Sua falência, portanto, teria consequências catastróficas para a economia chinesa, mas também a nível social, com risco de agitação.

Por isso, "o Estado chinês está seriamente envolvido na gestão da situação", sublinha o analista Shehzad Qazi, do escritório China Beige Book.

No momento, porém, Pequim não está disposta a colocar a mão no bolso para salvar o grupo.

Por outro lado, muitos bens serão vendidos para encontrar liquidez, alerta o analista Chen Long, da consultora Trivium.

O poder comunista conduzirá um "desmantelamento controlado" da Evergrande, acredita Qazi.

Qual o impacto econômico?

O setor imobiliário e a construção respondem por mais de um quarto do PIB da China e funcionam como uma força motriz para muitos outros setores, como aço e móveis.

Os contratempos da Evergrande provocaram uma crise de confiança entre os compradores potenciais. Nos últimos meses, as vendas e os preços dos imóveis caíram em muitas cidades.

A maioria dos analistas, no entanto, considera um cenário "Lehman Brothers" improvável para Evergrande, uma vez que os mercados anteciparam essas dificuldades.

A falência do banco de investimento americano em 2008 lançou o planeta na pior crise financeira desde 1929.

E as demais incorporadoras?

Além disso, há dificuldades de acesso ao crédito. Pelo menos dez incorporadoras lutam ou são incapazes de pagar seus empréstimos.

Sunshine 100 não honrou um pagamento de US$ 170 milhões (R$ 948,1 mi) no domingo (5), além de juros.

A Kaisa, um dos grupos imobiliários mais endividados, deveria ter pago 353 milhões de euros (R$ 2,2 bi) na terça-feira (7). A empresa também "deixou de pagar" esse reembolso, de acordo com a Fitch.

Dos US$ 10,2 bilhões (R$ 56,8 bi) em títulos estrangeiros não reembolsados este ano por empresas chinesas, 36% referem-se a empresas imobiliárias, de acordo com a agência Bloomberg.

Existem precedentes?

A situação da Evergrande tem semelhanças com a do conglomerado chinês HNA, gigante do turismo e da aviação. Muito endividado após aquisições no exterior, o mastodonte privado lançou um processo de falência em janeiro passado.

HNA possui uma companhia aérea e já foi um dos maiores empregadores da China. A justiça aprovou recentemente a divisão do grupo em quatro entidades, sem que isso abalasse os mercados.

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