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ESG pode ofuscar agenda ampla de sustentabilidade, diz pesquisador

Para Aron Belinky, o desenvolvimento sustentável vai além do que a sigla da moda é capaz de abranger

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Belo Horizonte

O sucesso do ESG (sigla em inglês para os princípios ambientais, sociais e de governança) no mundo corporativo pode estar atrapalhando a criação de uma agenda de desenvolvimento sustentável mais ampla.

Essa é a conclusão de um artigo feito pelo consultor e pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Aron Belinky e disponibilizado pela Agência Bori. Segundo ele, o compromisso empresarial não deveria se esgotar no que preconiza a sigla —e seguir a atual onda pode até ser um risco para a sociedade e para os negócios.

"As pessoas estão tratando ESG como sinônimo de sustentabilidade, mas não é isso. O ESG é um olhar de negócios sobre essas questões. Tem muita coisa que fica de fora [desse olhar] e que precisa de atenção do mesmo jeito", diz.

Aron Belinky, consultor e pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em sua casa, em São Paulo. Segundo ele, o ESG não é bala de prata e pode ofuscar a importância de uma agenda mais sustentável mais ampla - Eduardo Anizelli/Folhapress

No estudo, o pesquisador lembra que a onda ESG surge como expressão do chamado "business case" da sustentabilidade. Esse modelo prega que incorporar boas práticas socioambientais também traz benefícios financeiros para a empresa. Daí o lema: bom para os negócios, bom para o planeta e para os indivíduos.

O problema, ele diz, é que a agenda de desenvolvimento sustentável não consegue ser totalmente contemplada por essa visão, visto que temas importantes podem ser desvantajosos para as companhias em termos competitivos.

Belinky cita a atenção a pessoas idosas em situação de pobreza e a defesa de animais ameaçados de extinção como exemplos. Na visão dele, essas causas dificilmente serão incluídas como relevantes para uma empresa, a menos que acompanhadas de algum tipo de retorno reputacional.

"O risco principal é usar o ESG como resposta para todos os desafios do desenvolvimento sustentável e, com isso, as pessoas, as empresas e os governos deixarem de dar atenção ao que não está coberto pela agenda", afirma.

Apesar das críticas, Belinky acredita que a disseminação da sigla é algo positivo, pois traz o setor privado para discussões importantes.

Por outro lado, na visão do pesquisador, o "tsunami ESG" já está ofuscando o desenvolvimento sustentável.

No artigo, Belinky compara o interesse do setor privado pelo ESG com a Agenda 2030 da ONU, que reúne os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e é considerada a principal referência de sustentabilidade em nível macro.

Um levantamento feito pelo pesquisador mostra que, no contexto de negócios e finanças, a popularidade da sigla no Google teve um salto significativo de 2020 para cá, ultrapassando com folga o interesse no termo ODS.

Na visão dele, a Agenda 2030 é mais ampla e deveria orientar a gestão, as práticas e os resultados das empresas

O artigo compara as duas abordagens. Enquanto o ESG parte do tripé da sustentabilidade (pessoas, planeta e resultados financeiros), os ODS se baseiam nas cinco letras P: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias.

Além disso, a perspectiva ambiental, social e de governança mantém o foco na competitividade e na capacidade das empresas em gerar valor para acionistas e investidores. É a ideia de "se dar bem fazendo o bem".

Ao passo que a Agenda 2030 da ONU almeja criar uma sociedade próspera e sustentável para todos, "sem deixar ninguém para trás".

"A perspectiva ESG tem de fato grande afinidade com a ambição de sustentabilidade hoje abraçada pela maior parte da sociedade mundial. No entanto, se orientada apenas pelo business case da sustentabilidade, a gestão ESG tem um alcance limitado", diz Belinky.

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