Evergrande está em 'default restrita' depois de calote em pagamento, diz Fitch

Grupo deve mais de US$ 300 bilhões e luta para honrar pagamentos e entregas

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Sun Yu Thomas Hale Tom Mitchell
Xangai, Hong Kong e Singapura | Financial Times

A Fitch se tornou a primeira agência de classificação de crédito a declarar que os títulos internacionais do grupo chinês Evergrande estão em "default", depois que a incorporadora de imóveis mais endividada do planeta deixou de fazer um pagamento crucial de juros esta semana.

O anúncio marca o momento mais significativo até agora na imensa crise de liquidez que a companhia vem enfrentando e se espalhou para outras empresas do vasto setor imobiliário da China, alimentando preocupações internacionais quanto ao seu potencial impacto sobre a economia chinesa.

A Evergrande, que tem passivos superiores a US$ 300 bilhões (R$ 1,6 tri), perdeu o prazo de pagamento dos cupons sobre duas de suas emissões de títulos, segunda-feira (6), em valor total de US$ 82,5 milhões (R$ 460,1 mi). O grupo ainda não havia realizado a transferência dos fundos até a quarta-feira (8), em Nova York, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

Vista do prédio da Evergrande em Xangai, China - Hector Retamal - 24.set.2021/AFP

A Fitch declarou que a companhia não respondeu a uma solicitação de confirmação dos pagamentos de cupons, e portanto a suposição é de que eles não tenham sido realizados.

Nem a empresa e nem o governo chinês confirmaram o calote da Evergrande, embora a companhia tenha declarado na sexta-feira (3) que "não havia garantia" de que ela seria capaz de manter o pagamento de suas dívidas ao ingressar em um processo de reestruturação com assistência de funcionários de governos locais.

A Fitch também anunciou na quinta-feira (9) que a Kaisa, outra incorporadora imobiliária chinesa pesadamente endividada, havia deixado de pagar um título de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bi) que venceu na terça-feira (9), e estava em "default" restrita. Uma pessoa informada sobre a situação disse que a Kaisa estava a ponto de assinar acordos de confidencialidade com assessores de investidores.

A crise de dívida da Evergrande vem retendo a atenção dos mercados internacionais de títulos há meses. A empresa obteve grandes empréstimos nos mercados internacionais e tem dívidas a pagar de US$ 19 bilhões, ante US$ 12 bilhões (R$ 66,9 bi) para a Kaisa. A Evergrande deixou de realizar uma série de pagamentos de juros que venceram do final de setembro para cá, mas até esta semana tinha evitado a inadimplência ao transferir fundos antes do final do período de carência de 30 dias para pagamento.

Separadamente, na tarde de quinta-feira (9), Yi Gang, presidente do banco central chinês, disse em um seminário em Hong Kong que o fato de que a Evergrande não estivesse cumprindo suas obrigações era um evento de mercado e que os direitos dos investidores seriam respeitados.

O banco central injetou US$ 188 bilhões (R$ 1 tri) em liquidez no sistema financeiro, na segunda-feira, a fim de atenuar a ansiedade causada pela crise de dívida da Evergrande.

Hui Ka Yan, o presidente do conselho da empresa, resistiu a pressões para levantar dinheiro por meio da venda rápida dos melhores ativos da incorporadora pesadamente endividada, entre os quais terrenos, projetos de redesenvolvimento urbano no delta do rio Zhujiang —a próspera região do sul da China em torno de Hong Kong– e a divisão de administração de imóveis da companhia, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

"Hui deseja manter os ativos mais valiosos da Evergrande a menos que possa vendê-los por bom preço, o que não vai acontecer porque todo mundo sabe que ele está sob pressão", disse uma pessoa próxima das autoridades regulatórias das finanças chinesas.

A Evergrande também acelerou sua campanha de lobby por mais apoio dos bancos estatais, nas últimas semanas, para ajudá-la a evitar o colapso operacional.

A companhia alertou compradores de casas e autoridades dos governos em Wuhan e Nanning, duas capitais provinciais onde ela tem projetos paralisados, de que estava negociando créditos públicos, disseram duas pessoas informadas sobre as negociações entre a companhia e representantes de governos locais.

A Evergrande não respondeu a pedidos de comentário.

Em 22 de novembro, um representante da Evergrande em Wuhan disse que a companhia havia solicitado empréstimos empresariais a instituições estatais de crédito para sustentar suas operações lá, de acordo com minutas de uma reunião vistas pelo Financial Times.

"Se nossos pedidos de empréstimos forem aprovados., consideraremos pagamentos aos nossos fornecedores, desde que completemos os projetos em curso", disse o executivo.

Na segunda-feira, Hui disse que o grupo estava formando um novo comitê de análise de risco, no qual representantes do Estado ocupariam quatro das sete cadeiras.

A Evergrande tem quase 800 projetos em toda a China, muitos dos quais bancados por pagamento adiantados dos compradores de casas.

Os governos locais criaram proteções para os depósitos e outros fundos dos compradores de casas para garantir que os projetos da Evergrande em suas jurisdições sejam concluídos e os subcontratados sejam pagos em dia.

O papel central que companhia exerce no mercado imobiliário da China cria riscos políticos agudos para as autoridades encarregadas de administrar sua reestruturação, e isso sublinha a necessidade urgente de novos financiamentos.

Em setembro, a incapacidade do grupo para manter em dia os pagamentos devidos sobre produtos de gestão de patrimônio adquiridos por investidores pessoa-física causou protestos diante da sede da Evergrande em Shenzhen.

Tradução de Paulo Migliacci

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