Ômicron atrapalha o fim de ano da economia americana

Analistas reduziram previsão de crescimento do primeiro trimestre de 2022 de 5% para 2%

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Julie Chabanas
Washington | AFP

Espetáculos de Natal cancelados, pedidos de autoridades para evitar navios de cruzeiros, aviões que não podem decolar: a variante ômicron do coronavírus multiplicou os problemas para a economia dos Estados Unidos, podendo contribuir para a escassez de mão de obra e, inclusive, para o aumento da inflação.

"Começamos a ver os primeiros sinais do impacto da ômicron na economia", principalmente no setor de serviços, como é o caso de bares e restaurantes, explicou Oren Klachkin, economista da Oxford Economics, em entrevista à AFP.

A maior economia do mundo esperava deixar para trás a pandemia de Covid-19, mas, na véspera do Ano Novo, o coronavírus volta a assustar.

Após ser detectada há um mês, a variante ômicron —extremamente contagiosa— fez o número de casos disparar.

Passageiros esperavam para serem atendidos no Aeroporto Internacional Ronald Reagan, em Washington - Roberto Schmidt - 27.dez.2021/AFP

A situação levou os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) a desaconselhar na quinta-feira (30) as viagens em navios de cruzeiros, ao apontar que "o risco de contrair Covid-19" nesses barcos "é muito elevado", até mesmo para os vacinados.

Nesse sentido, cerca de 5.100 casos foram reportados em águas territoriais americanas entre 15 e 29 de dezembro, enquanto no período entre 30 de novembro e 14 de dezembro foram apenas 162.

No entanto, ainda é difícil quantificar as consequências econômicas desta variante, "especialmente porque é a temporada de festas de fim de ano, o que afeta os dados", detalhou Oren Klachkin.

Por sua vez, os analistas da agência Moody's reduziram recentemente sua previsão de crescimento para o primeiro trimestre de 2022 por causa da ômicron, de 5% para 2%.

Efeito ômicron

O "temor do contágio" e a queda nas reservas dos restaurantes "são apenas uma parte da equação", advertiu a economista Diane Swonk, de Grant Thornton, em uma publicação no Twitter.

Segundo ela, está sendo complicado encontrar mão de obra devido ao número de pessoas doentes. "Não é algo novo, mas amplificado pela ômicron", destacou.

A falta de trabalhadores, amplificada por quarentenas depois de um teste positivo ou contato com doentes, pode paralisar amplos setores da economia.

O transporte aéreo também enfrenta dias difíceis, com milhares de voos cancelados devido ao volume de pessoal que teve que se isolar, em um momento de demanda aquecida pelas festas de fim de ano.

Para limitar as ausências, o governo de Joe Biden decidiu, na última segunda-feira (27), reduzir a duração da quarentena recomendada, de dez para cinco dias.

Essa falta de mão de obra poderia agravar uma situação que já vem de alguns meses: não há trabalhadores suficientes nos Estados Unidos para preencher todos os postos vagos, particularmente devido ao elevado número de aposentadorias antecipadas desde o início da pandemia.

Impacto 'modesto' sobre a inflação

"Prevemos que o mercado de trabalho continuará se recuperando em 2022, com cerca de cinco milhões de novos postos criados, pouco mais de 400 mil por mês", antecipou Nancy Vanden Houten, economista da Oxford Economics.

Contudo, a especialista indicou que isso não quer dizer que não haverá escassez "em alguns setores".

A taxa de desemprego e o número de postos criados nos Estados Unidos em dezembro serão anunciados em um relatório a ser divulgado em 7 de janeiro.

Alguns economistas temem também que as perturbações associadas à nova variante agravem a inflação, que registra seu maior aumento desde 1982, pressionada por problemas em fábricas e no transporte em escala planetária, entre outros.

"A inflação em muitos serviços e nos preços de energia pode diminuir, pelo menos temporariamente, mas existe o risco real de que as variantes sejam agora mais inflacionárias do que deflacionárias", explicou Swonk.

Mark Zandi, economista-chefe da Moody's, espera um impacto "modesto" da ômicron na inflação.

"As empresas fizeram progressos significativos para atenuar os gargalos nas cadeias de abastecimento mundiais", destacou.

"Além disso, apesar de mais trabalhadores ficarem doentes com a ômicron [...], eles podem, por ser uma forma menos severa, voltar ao trabalho mais rapidamente", acrescentou.

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