Ômicron faz Google adiar retorno ao escritório e frustra planos de outras empresas

Executivos pensam em novos modelos de trabalho diante de preocupação com nova variante

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Ben Klayman
Reuters

Executivos de empresas estão começando a avaliar modelos diferentes de trabalho permanente para seus funcionários, enquanto a pandemia de coronavírus e a disseminação da variante ômicron desestabilizam seus últimos planos de retorno aos escritórios.

Com a ômicron tão nova, as empresas se debatem para compreender como a variante poderá afetar suas operações e seus lucros. A maioria adotou uma posição de esperar para ver, enquanto avalia a velocidade com que a variante pode se espalhar e seus potenciais danos, embora a Google, da Alphabet, esteja adiando indefinidamente seu plano de volta aos escritórios em todo o mundo.

Jim Montesano, diretor de pessoal da Lixil, fabricante de banheiros de luxo, disse à conferência Reuters Next nesta semana que a companhia se desviou da rígida estrutura de trabalho japonesa, descartando o horário de trabalho fixo e as reuniões matinais e repensando como deve ser o escritório.

Logo da Google - Robyn Beck - 8.jan.2020/AFP

"Não é mais o lugar para trabalhar... qualquer lugar onde você possa trabalhar é onde você trabalha", disse Montesano durante uma discussão em grupo sobre o futuro do trabalho. "O que queremos é reinventar o escritório."

Os países agiram rapidamente esta semana para impor proibições ou regras mais duras sobre testes em viagens depois que a variante ômicron foi descoberta no sul da África.

"Nós quase poderíamos compará-la com uma situação de guerra", disse Jazek Olczak, CEO da Philip Morris, à Reuters na conferência. "Todo mundo finge que as coisas estão se normalizando, mas não estão. Todos nós mudamos."

O doutor Neal Mills, diretor médico da firma de consultoria de benefícios Aon, disse que sua equipe tem se reunido com clientes a semana toda para discutir alternativas possíveis.

"Eles estão reconhecendo que vão precisar rever muitas decisões já tomadas. Se isso mudar a eficácia dos tratamentos, qual é o nível de risco que a organização está disposta a tolerar ao trazer os funcionários de volta em janeiro?", disse ele à Reuters.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) disse que conforme mais países relatam novos casos, a nova variante da Covid-19 carrega um risco global "muito alto" de surtos. Cientistas disseram que poderá levar semanas para compreender sua gravidade, embora os primeiros indícios sejam de que a maioria dos casos é branda.

A perspectiva de uma variante de rápida disseminação levantou temores de um retorno a restrições como as que fecharam uma série de indústrias em 2020.

"As companhias nesta altura criaram cronogramas para as pessoas voltarem ao escritório, e depois os adiaram tantas vezes que o que estou ouvindo é que elas estão procurando não se comprometer até que haja certeza", disse Jeff Levin-Scherz, diretor-gerente da firma de consultoria de benefícios Willis Towers Watson.

Mais da metade dos empregadores dos EUA (57%) pesquisados pela Willis Towers Watson exigem ou pretendem exigir vacinação dos empregados, segundo uma pesquisa divulgada na terça-feira (30), mas que foi realizada antes da descoberta da ômicron.

Além disso, a pesquisa descobriu que pouco mais de um terço dos empregados estavam trabalhando remotamente —e esperava-se que o número caísse para 27% no primeiro trimestre de 2022.

Os bancos de Wall Street, por exemplo, não estão modificando imediatamente seus planos de retorno ao trabalho, mas, como muitas indústrias, monitoram de perto a situação. As companhias aéreas globais se preparam para a possibilidade de serem obrigadas a modificar toda a programação.

"Estamos no que se poderia chamar de modo avanço lento, mas várias preocupações podem aparecer a qualquer momento, e precisamos adaptar nossos cronogramas de acordo", disse o presidente da Emirates Airline, Tim Clark, na conferência da Reuters.

O CEO da Coca-Cola, James Quincey, disse que a empresa aprendeu durante a pandemia.

"Cada onda sucessiva de lockdown teve menor impacto em nossos negócios", disse ele esta semana na conferência de CEOs Redburn. "Essa adaptabilidade e flexibilidade nos faz sentir melhor."

Empresas no limbo

Enquanto isso, companhias que operam nos Estados Unidos estão sendo espremidas entre o governo do presidente Joe Biden, que pressionou as empresas para que exijam a vacinação, e os tribunais.

Na terça, dois tribunais bloquearam o governo de impor ordens que exigem que milhões de trabalhadores americanos sejam vacinados contra a Covid.

Biden revelou regulamentos em setembro para aumentar a taxa de vacinação de adultos nos EUA como meio de combater a pandemia, que já matou mais de 750 mil americanos e prejudicou a economia.

O regulamento mais abrangente, uma ordem de vacinar ou testar para empresas com pelo menos cem empregados, foi temporariamente bloqueado por um tribunal de apelação federal no início de novembro.

As ordens tinham sido vistas como dando cobertura para as companhias exigirem que os trabalhadores se vacinem, e a decisão judicial as deixa no limbo enquanto elas pressionam os trabalhadores para que voltem ao local de trabalho.

É claro que para algumas companhias o escritório ainda é o local preferido.

"Quase dois terços dos meus clientes são homens que compram joias para suas namoradas, mulheres, avós ou filhas. E sabemos que homens que compram joias precisam de ajuda", disse Alexander Lacik, CEO da joalheria Pandora, na conferência da Reuters.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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