Países discutem fim de uso do petróleo, mas ainda dependem dele

COP26 responsabilizou combustíveis fósseis pelas mudanças climáticas

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Julien Mivielle
Paris | AFP

Com a crise climática, o fim do uso do petróleo está no centro das discussões como nunca antes, mas pôr fim à dependência mundial desta commodity vai exigir esforços colossais.

"Em 2021, vários acontecimentos demonstraram, claramente, que esta indústria não tem futuro", disse Romain Ioualalen, da ONG Oil Change International.

Há alguns meses, a AIE (Agência Internacional de Energia) publicou um relatório, defendendo o fim imediato de qualquer novo investimento em combustíveis fósseis. Foi uma guinada de orientação por parte de uma instituição fundada em plena crise do petróleo dos anos 1970 com o objetivo de garantir a segurança energética dos países ricos.

Outro destaque deste ano foi a cúpula do clima COP26, em Glasgow, na Escócia, na qual uma coalizão de países (sem incluir grandes produtores de petróleo) se comprometeu a abandonar as energias fósseis.

Trabalhadores coletam óleo vazado na praia de Riviere des Creoles, nas Ilhas Maurício - Fabien Dubessay - 15.ago.2020/AFP

Representando 80% da energia consumida atualmente, os combustíveis fósseis foram apontados, na COP26, como responsáveis pelas mudanças climáticas.

"Dependência"

"Há vários anos que se sabe que o fim do petróleo está próximo", disse Moez Ajmi, da firma EY. "Mas o mundo está pronto para viver sem petróleo? A dependência ainda é muito forte, do meu ponto de vista", completou.

A AIE também considera que a demanda mundial por petróleo continuará se recuperando até atingir níveis pré-Covid-19 no ano que vem, em torno de 100 milhões de barris por dia.

Além disso, o preço do petróleo se recuperou nos últimos meses, e os países produtores esperam continuar se beneficiando dessa receita.

"Os discursos sobre um setor que ficará no passado e que todos os novos investimentos em petróleo e gás vão acabar estão errados", declarou o secretário-geral da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Mohammed Barkindo.

"A transição vai acontecer. Estou convencido disso, porque há uma verdadeira tomada de consciência, mas vai levar tempo", afirmou o presidente da gigante francesa do petróleo TotalEnergies, Patrick Pouyanné.

Para ele, as discussões atuais se concentram no fim da oferta de petróleo antes de uma revolução nas formas de consumo. A demanda por combustíveis fósseis "vai declinar, porque os consumidores receberão coisas novas, como veículos elétricos", disse Pouyanné.

No primeiro semestre de 2021, os carros elétricos representaram 7% das vendas mundiais de automóveis, de acordo com a BloombergNEF. Uma parcela ainda muito minoritária, mas com forte dinamismo.

"Os argumentos das companhias de petróleo e dos grandes países produtores são de curto prazo e cínicos: procuram todos os meios possíveis para justificar um curso que não é durável", lamentou Romain Ioualalen.

Qualquer que seja o horizonte para o fim do petróleo, as grandes empresas do setor estão se preparando, queiram ou não, sob uma pressão crescente. Antes relutantes, as petrolíferas americanas ExxonMobil e Chevron anunciaram este ano, por exemplo, investimentos na transição energética.

"2022 tem o potencial para ser um verdadeiro ano de transformação", previu Tom Ellacott, da consultoria Wood Mackenzie.

Segundo ele, "permanecer à margem do caminho da descarbonização não é uma opção".

Na agenda do novo ano, dizem especialistas, há mais investimentos em energia eólica, ou solar, assim como em tecnologias de captura de carbono, ou hidrogênio.

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