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PIB Banco Central

PIB foi mal, mas por motivos nem tão ruins quanto se esperava

Na hipótese animada, PIB deve ter estagnação em 2022

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

O desempenho da economia, do PIB (Produto Interno Bruto), no terceiro trimestre foi ruim, como quase todo mundo já sabia ou já sentiu na carne. Mas, olhando os números por dentro, não foi o pior. O problema é que, mesmo assim, na hipótese otimista, vamos para uma estagnação ou quase isso no ano que vem, 2022.

O PIB deste 2021, o nível médio da produção ou também da renda, vai ficar praticamente na mesma em relação a 2019, ano anterior à epidemia —apenas vamos recuperar o tombo de 2020. Um problema que deve ser também óbvio é que, assim, o PIB (renda) per capita fica no mesmo nível registrado no longínquo 2009. São 12 anos perdidos.

Como a recuperação da atividade no trimestre final deste ano dever ser fraca, a perspectiva básica para 2022 é de estagnação, com risco de recessão para o ano inteiro, "fechado".

O PIB do terceiro trimestre caiu um tico, 0,1%. Não seria lá grande má notícia se o ritmo do PIB do segundo trimestre não tivesse sido revisado para baixo (a queda foi maior do que a anunciada faz três meses).

Trabalhadores em indústria no Paraná - Rodrigo Fonseca - 21.mar.2017/AFP

Houve um tombo maior do que esperado na agricultura, de 8% ante o trimestre anterior —a seca causou grande estrago, um efeito conjuntural e incontrolável. A inflação prejudicou o comércio, bidu, assim como a confiança deprimida do consumidor (que continuou se deprimindo neste último trimestre). Mas o consumo privado em geral cresceu.

A indústria caiu pelo terceiro trimestre consecutivo, apanhando de vários lados: inflação, de insumos e energia caros, além de falta de peças e materiais para produzir. Mas não caiu tanto quanto se previa. A construção civil continuou bem. A recuperação do setor de serviços, em especial educação e saúde, foi razoável.

O que tirou mais pontos do crescimento no trimestre? As indústrias desfizeram estoques (em vez de "produzi-los"). O setor externo levou um tombo (as exportações, vendas para o exterior, caíram ainda mais do que as importações, em números absolutos). O investimento (em novas instalações produtivas, máquinas, equipamentos, residências etc.) caiu um pouco. Dada a mistura de riscos e espessa névoa de incerteza, vai ser difícil que se recupere daqui até 2023 (sim, depois da eleição).

Os problemas climáticos e algum outro tombo no mercado de carne derrubaram a agricultura —os céus não ajudaram (assim como a seca causou mais problemas na produção de energia). A crise externa prejudicou a indústria e teve grande contribuição para o aumento da inflação, carestia que foi piorada pelo desgoverno geral e pelo tumulto político e econômico causado por Jair Bolsonaro e sua turma.

Embora não tenha cara nada boa, 2022 ainda é uma incógnita. Ou, pelo menos, o tamanho da besteira é uma incógnita.

De mais certo, teremos juros mais altos e tumulto financeiro devido à campanha eleitoral. Isso quer dizer, tudo mais constante, retração em investimentos (em expansão da capacidade produtiva, da construção civil etc.). Não sabemos até onde vai a inflação (e, portanto, não sabemos bem até onde vão as taxas de juros). Por ora, a previsão não é boa, mas não dá para descartar surpresas positivas (mais chuva para as hidroelétricas, menos crise mundial de abastecimento da indústria, arrefecimento da crise mundial de energia, tempo bom para a agricultura, volume grande de investimentos "em obras" de estados e municípios).

Por ora, repita-se, a expectativa mais razoável é de estagnação econômica.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto informava incorretamente que houve revisão do PIB do terceiro trimestre. A revisão foi do segundo trimestre. 

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