Principais bancos centrais do mundo escolhem caminhos diferentes para saída de estímulos

Reino Unido aumenta juros, enquanto Banco Central Europeu só restringe estímulo dado na pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

William Schomberg Balazs Koranyi Howard Schneider
Londres | Reuters

O Reino Unido se tornou nesta quinta-feira (16) a primeira economia do G7 a aumentar as taxas de juros desde o início da pandemia, com o banco central norte-americano também sinalizando planos de aperto monetário em 2022, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) apenas restringiu ligeiramente o estímulo.

Os diferentes caminhos percorridos por esses importantes bancos centrais sublinham as profundas incertezas sobre como a variante ômicron do coronavírus, de rápida disseminação, atingirá a economia global e suas visões divergentes sobre a inflação persistentemente alta e os obstáculos nas cadeias de abastecimento internacional.

Eles também refletem o impacto desigual da pandemia nas principais economias do mundo. O presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), Jerome Powell, previu na quarta-feira (15) que os Estados Unidos estão caminhando para o pleno emprego, aconteça o que acontecer –perspectiva remota para a maioria dos mercados de trabalho europeus.

Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt, Alemanha - Kai Pfaffenbach - 12.mar.2016/Reuters

As autoridades do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) aumentaram nesta quinta a taxa de referência de 0,1% para 0,25%, confundindo expectativas dos economistas de que ficaria em pausa. O BoE disse que a inflação deve atingir 6% em abril, três vezes a meta.

"O Comitê continua julgando que há riscos bilaterais em torno das perspectivas de inflação no médio prazo, mas que algum aperto modesto da política monetária ao longo do período de projeção provavelmente será necessário para cumprir a meta de inflação de 2% de forma sustentável", afirmou a autoridade monetária britânica, que também cortou suas projeções de crescimento para dezembro e para o primeiro trimestre de 2022 devido à disseminação da ômicron.

O BCE, que viu a inflação ficar abaixo da meta na maior parte da década passada, por sua vez, manteve as taxas de juros e anunciou que acabará em março com seu programa emergencial de compra de ativos adotado durante a pandemia.

Mas o banco central da zona do euro prometeu apoio contínuo conforme necessário por meio de seu há muito em operação Programa de Compra de Ativos (APP, na sigla em inglês), confirmou sua visão relaxada sobre a inflação e sinalizou que qualquer saída de anos de política monetária ultra acomodada será lenta.

A presidente da instituição, Christine Lagarde, disse ser improvável que o BCE ente as taxas de juros no próximo ano, embora não tenha descartado a possibilidade.

"A disseminação de novas variantes do coronavírus está criando incerteza", disse, citando impactos sobre empresas do setor de hospedagem e de outros segmentos se novas restrições à atividade forem necessárias. Lagarde acrescentou que os obstáculos da cadeia de abastecimento global que surgiram com o aumento da demanda após os lockdowns de 2020 já estavam limitando a recuperação. "Esses gargalos permanecerão conosco por algum tempo, mas devem diminuir em 2022", afirmou.

Com a economia da zona do euro agora de volta ao tamanho pré-pandemia, está aumentando a pressão sobre o banco para que ele siga seus pares globais e feche as torneiras de dinheiro. Mas as autoridades estão preocupadas com a possibilidade de que um recuo acelerado do estímulo possa desfazer anos de esforços para reacender a inflação, antes anêmica.

O BCE dobrará as compras para 40 bilhões de euros (R$ 257 bilhões) no âmbito do APP no segundo trimestre de 2022, antes de desacelerá-las para 30 bilhões de euros (R$ 192,8 bi) no terceiro trimestre. A partir de outubro, as compras serão mantidas em 20 bilhões de euros (R$ 128,5 bi) pelo "tempo necessário" para reforçar o impacto acomodatício de suas taxas de juros, disse o banco.

"O Conselho do BCE avalia que o progresso na recuperação econômica e em direção à sua meta de inflação de médio prazo permite uma redução passo a passo no ritmo de suas compras de ativos nos próximos trimestres", disse o órgão em comunicado.

Na quarta-feira (15), o Fed afirmou que encerrará em março o programa de compras de títulos em curso desde o início da crise sanitária, abrindo caminho para três aumentos de 0,25 ponto percentual cada nas taxas de juros até o fim de 2022, de forma a acabar com as políticas implementadas no período.

Powell, o chefe da autoridade monetária americana, afirmou que a ômicron aumenta a incerteza sobre o curso da economia e que não está claro qual será o seu efeito na inflação, no crescimento ou nas contratações. Mas avaliou que as pessoas estão "aprendendo a conviver" com cada onda do vírus.
"A economia não precisa mais de quantidades crescentes de apoio da política monetária", disse. "Em minha opinião, estamos fazendo rápido progresso em direção ao pleno emprego."

Já o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) deve anunciar sua decisão de política monetária nesta sexta-feira (17). Com a inflação ao consumidor permanecendo praticamente nula, apenas uma ligeira redução nas compras de ativos corporativos está em discussão na reunião.

O banco central da Noruega, que havia subido os juros em setembro na esteira de uma recuperação econômica, deu mais passos nessa direção com nova alta de juros nesta quinta-feira (15), como esperado, e disse que é provável que haja mais.

Também nesta quinta-feira, o Banco Nacional da Suíça manteve sua postura ultra flexível com uma taxa básica de juros negativa fixada em -0,75%. A inflação suíça –embora esteja em alta para os padrões locais– ainda deve ficar muito mais baixa do que em outros lugares, em apenas 1% no próximo ano e em 0,6% em 2023.

No Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou, na última reunião, a taxa de juros Selic a 9,25% ao ano e indicou nova alta de 1,5 ponto percentual em fevereiro, para 10,75%. Na terça (14), o BC indicou ainda que Selic deve ficar acima do esperado pelo mercado até 2023.

Antes da reunião do Copom, economistas esperavam que a taxa de juros avançasse a 11,75% ao longo de 2022 para depois iniciar um ciclo de queda, com 11,25% até dezembro e 8% ao fim de 2023, segundo a pesquisa Focus. Esse foi o cenário utilizado na simulação do BC.

Com isso, a autoridade monetária indica que os juros devem ficar acima de 11,75% no próximo ano e de 8% ao final de 2023.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.