A Airbus aumentou na última quinta-feira (20) as apostas em uma disputa com a Qatar Airways , importante cliente da empresa, sobre jatos A350 estacionados e não entregues, anunciando que revogou outro contrato de 50 jatos menores A321neo que a companhia aérea pretende usar em novas rotas.
A medida amplia uma disputa que se aproximou de um raro choque em tribunal no dia 20, sobre um pedido da Qatar Airways de mais de US$ 600 milhões em indenização por falhas no A350. Uma audiência processual está marcada para a semana de 26 de abril em Londres.
A Airbus revelou que estava desistindo do contrato dos A321neo em discussões apresentadas numa sessão de agendamento sobre a disputa dos A350 em uma divisão da Suprema Corte britânica, segundo pessoas inteiradas da questão.
"Confirmamos que cancelamos o contrato para entrega de 50 A321 com a Qatar Airways de acordo com nossos direitos", disse um porta-voz da Airbus depois de um registro definindo argumentos provisórios, antecipado pela Bloomberg News.
No mesmo dia do anúncio do cancelamento, a Qatar Airways intensificou a disputa ao divulgar um vídeo mostrando danos aparentes na superfície de sua aeronave Airbus A350.
A empresa deverá lutar contra o término do contrato dos A321neo dizendo que ainda planeja receber os jatos, embora esteja se recusando a pegar mais modelos A350 até que seja resolvida uma disputa sobre desgaste superficial nos jatos maiores.
A companhia aérea disse em um registro no tribunal que está "elucidando as consequências práticas" da decisão sobre os A321, acrescentando que a Airbus não tem o direito de declarar uma "moratória cruzada" com base na recusa da Qatar em aceitar mais A350 na disputa principal.
A Qatar Airways não tinha comentários imediatos sobre o contrato, que tem origem em uma encomenda feita há dez anos no valor de US$ 4,6 bilhões (R$ 25,3 bilhões) a preços de tabela, originalmente para uma versão menor.
A Qatar Airways disse que os A321 vão ajudá-la a lançar voos para novos mercados onde não há atualmente demanda suficiente para aeronaves maiores, mas que estão fora do alcance dos A320 menores.
O primeiro A321neo da Qatar deverá ser entregue em fevereiro de 2023, segundo o documento da companhia. Especialistas da indústria dizem que o modelo de alta vendagem pode ser facilmente revendido, em contraste com a queda na demanda por jatos grandes como o A350, agravada pela pandemia.
Disputa paralisante
As duas companhias estão em disputa há meses pelos danos aos A350, incluindo bolhas na pintura, rachaduras em caixilhos de janelas ou áreas com rebites e desgaste de uma camada protetora contra raios elétricos.
A Qatar Airways disse que seu regulador nacional ordenou que 21 de seus 53 jatos A350 parassem de voar quando os problemas surgiram, provocando uma disputa amarga com a Airbus, que disse reconhecer os problemas técnicos, mas que não há problema de segurança.
A Qatar Airways quer US$ 618 milhões (R$ 3,4 bilhões) em indenização pelos 21 jatos estacionados, mais US$ 4 milhões (R$ 22 milhões) por dia enquanto a disputa se arrasta. O desenvolvimento do A321 poderá aumentar essa reivindicação.
A transportadora do Golfo também está pedindo que juízes britânicos ordenem que a Airbus, sediada na França, não tente entregar mais desses jatos até que seja resolvido o que ela chama de defeito de projeto.
A Airbus disse que vai "negar totalmente" a queixa e acusou a Qatar Airways, um de seus clientes mais cortejados, de classificar erroneamente o problema como uma preocupação de segurança.
Ela indicou que vai afirmar que a estatal Qatar Airways influenciou seu órgão regulador para imobilizar os jatos e obter indenização, enquanto a Qatar questionou o design e acusa a Airbus de não apresentar estudos, disseram as fontes.
A Qatar Airways disse que seu regulador local está conduzindo decisões de segurança de forma independente e não pode avaliar a validade dos jatos afetados sem uma análise mais profunda da Airbus.
A Agência de Segurança na Aviação da União Europeia, que é responsável pelo projeto geral, mas não a navegabilidade dos aviões em serviço, regulada localmente, disse que até agora não encontrou problemas de segurança nos A350 que inspecionou.
O Catar é até agora o único país a estacionar alguns dos jatos.
Mas uma investigação da Reuters em novembro revelou que pelo menos outras cinco companhias descobriram falhas na pintura ou na superfície desde 2016, levando a Airbus a criar uma força-tarefa interna antes da disputa com o Catar, e a explorar um novo design antirraios para o A350.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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