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Alta global de juros afeta investidor no Brasil; saiba como e o que fazer

Fundos internacionais listados na B3 permitem alinhar proteção e oportunidades

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São Paulo

A virada do ano traz desafios adicionais para os investidores. Os principais bancos centrais do mundo confirmaram apertos monetários para conter a inflação global, ao mesmo tempo em que a variante ômicron da Covid-19 gera questionamentos sobre a retomada econômica.

Ventos incertos levaram Bolsas dos Estados Unidos e da Europa a operar sem direção. Analistas ainda estão tateando um ambiente pouco comum na história recente das finanças em países desenvolvidos.

Ao mesmo tempo, há um cenário interno instável para os brasileiros que estão Bolsa por causa da disputa eleitoral do próximo ano que, em diferentes aspectos, já contamina negativamente os ânimos. .

Monitor na Bolsa de Nova York mostra pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante anúncio sobre política monetária - Andrew Kelly - 9.set.21/Reuters

Bolsas de Valores de países emergentes, como o Brasil, são duplamente prejudicadas pelos dois movimentos anunciados na quarta-feira (15) pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

O primeiro desses movimentos é a aceleração do tapering, o que significa o afilamento mais rápido do fluxo de bilhões de dólares que o governo vinha colocando no mercado por meio de compras de títulos desde o início da pandemia.

O programa será encerrado em março e não mais em junho, como estava previsto.

Isso diminui a quantidade de recursos para investimento ou, como se diz no jargão do mercado, reduz a liquidez. Menos dinheiro significa menor disposição para aplicar em mercados mais arriscados.

A segunda medida é a elevação dos juros, prevista para ocorrer em três etapas a partir de março. Isso significa que o investimento mais seguro do mundo, o título do Tesouro americano, passa a ser mais rentável.

Bolsas em todo o mundo ficarão menos atrativas —e as de países em desenvolvimento tendem a perder mais, explica Marcos Mollica, gestor do Opportunity Total. "A aproximação de alta de juros vai aumentar a volatilidade, especialmente, no mercado de ações e em mercados emergentes", disse.

Em resumo: "A perspectiva de alta do juro americano mais cedo do que o esporado gera um fluxo de capitais para os Estados Unidos, piorando o cenário para emergentes", afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

O efeito de um ciclo de alta de taxa de juros no exterior também corrige distorções provocadas pelo processo inverso, como foi o boom de ações de tecnologia e dos criptoativos, segundo João Beck, economista e sócio da BRA.

"A taxa de juros muito baixa, e por muito tempo, estimula investidores a recorrerem a empresas de tecnologia e criptoativos em busca de rentabilidade. Poderemos ver durante um tempo a reversão dessa tendência", comenta Beck.

Compreendida a nova dinâmica do mercado, convém calibrar a cesta de investimentos.

Embora analistas recomendem algum reforço em renda fixa, para aproveitar a tendência de alta dos juros, que no Brasil começaram a subir com força antes de o movimento ocorrer no exterior, não significa zerar posições em renda variável.

"É preciso evitar decisões binárias. Vamos ter renda fixa e variável o tempo todo", recomenda João Vitor Freitas, analista da Toro Investimento.

Beabá da cartilha de analistas financeiros, a diversificação das aplicações é indicada para diminuir a volatilidade nesses tempos de dúvidas. Mas não é só isso. Sofisticar a carteira com a introdução de ativos que melhor refletem a tendência dos mercados globais pode colocar até mesmo investidores conservadores em linha com as oportunidades trazidas pela crise

Considerando que a renda variável no Brasil enfrenta múltiplos desafios, uma exposição bem estruturada a ativos no exterior traz vantagens.

Participar de fundos de investimentos que facilitam a aplicação em índices dos principais mercados globais por meio dos ETFs (Exchange Traded Funds) listados na B3, a Bolsa de Valores brasileira, é a opção mais simples e acessível.

Por replicar o índice S&P 500, que reúne as 500 principais empresas listadas na Bolsa de Nova York e na Nasdaq, o IVVB11 tem presença certa em quase qualquer carteira que busca uma participação equilibrada no mercado acionário global.

Empresas consolidadas tendem a sofrer menor impacto da alta dos juros, diferente do que ocorre com pequenas companhias do setor de tecnologia com grande potencial de crescimento cuja expectativa é de formação de caixa futuro. Por isso a Nasdaq, mercado que concentra esse tipo de empresa, oscila mais ante a expectativa de alta dos juros.

Abrir mão das empresas de grande crescimento, porém, pode significar perder oportunidades de ganhos devido a uma nova guinada na política monetária dos Estados Unidos. O agravamento da crise sanitária pode mudar os planos de aumento dos juros, conforme deixou claro o presidente do Fed, Jerome Powell.

O ETF Investo USTK, que segue o índice MSCI US Investable Market Information Technology 25/50, é a opção recomendada por Freitas para que o investidor brasileiro mantenha sua participação no mercado de tecnologia americano.

A vantagem desse índice é a participação de pequenas, médias e grandes empresas, o que aumenta sua capacidade de oscilar menos em períodos instáveis.

Freitas alerta que a composição da carteira de renda variável deve ser feita de forma simultânea à construção de uma reserva de emergência baseada em renda fixa.

Reserva de emergência

O volume a ser aplicado depende do perfil de cada pessoa. Veja as orientações do analista João Vitor Freitas, da Toro Investimentos:

  • Aposentados e pensionistas

    Reservar de 3 a 6 meses do benefício

  • Trabalhadores CLT

    Acumular de 6 a 12 salários mensais

  • Autônomos

    Reunir mais de 12 meses da renda mensal média

  • Onde aplicar

    Fundos de LFT (Letra Financeira do Tesouro) ou Tesouro Selic e CDBs de liquidez diária são opções acessíveis com boa proteção contra a inflação

Meio termo entre renda fixa e variável, fundos multimercados com exposição a títulos do Tesouro americano são opções simplificadas para diversificação focada na alta dos juros nos Estados Unidos. "Nesse caso é preciso conhecer bem o perfil e a política do fundo antes de investir", alerta Freitas.

Investimentos no exterior ainda trazem uma camada de proteção à variação do câmbio, que deve continuar pressionado pela expectativa de aumento do risco fiscal em 2022.

Reserva de longo prazo para proteção do patrimônio, o ouro também é acessível por meio de um ETF listado na B3, o GOLD11.

"Em momentos de instabilidade em diferentes partes do mundo, investidores correm para o Tesouro americano e para o ouro", comenta Freitas.

Cinco dicas para enfrentar a alta dos juros

  1. O investimento em Bolsa deve ser pensado no longo prazo. Evite liquidar ações nas quais você acredita devido a variações momentâneas
  2. ETFs são formas simplificadas de investir em fundos no exterior, permitindo proteção contra riscos internos e quanto à alta do dólar
  3. O setor de commodities ganha com a alta do dólar e isso compensa o aumento do custo operacional devido à elevação dos juros no Brasil
  4. A diversificação geográfica com ações de empresas com operações em diversas partes do mundo ajuda a carteira a absorver choques locais
  5. Invista conforme o seu perfil. Conservadores que aumentam muito a exposição ao risco tendem a perder dinheiro quando a Bolsa cai
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