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Bitcoin e criptoativos têm 2022 desafiador; veja rendimentos e o que esperar

Inflação global é obstáculo para reprise dos ganhos excepcionais de 2021

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São Paulo

Criptoativos entregaram ganhos extraordinários em 2021. Mas ao trocar a vista do retrovisor pela do para-brisas, o cenário deste início de 2022 se apresenta desafiador para esses ativos. A crise no Cazaquistão, um dos principais polos de mineração de bitcoin, e os efeitos da inflação na política monetária global prejudicam dois elementos importantes para a ascensão desses ativos: publicidade positiva e abundância de liquidez no mercado financeiro.

Dificuldades que não precisam ser motivos de desestímulo para novos investidores, mas servem de alerta para que decisões sobre como e quanto aplicar sejam cuidadosas. Entender a lógica desse mercado é o primeiro passo para equilibrar os riscos.

Representação da criptomoeda bitcoin diante de gráficos de flutuação de ativos
Representação da criptomoeda bitcoin diante de gráficos de flutuação de ativos - Edgar Su - 14.jun.2021/Reuters

Enquanto uma moeda tradicional pode hipoteticamente ser emitida infinitamente por vontade de bancos centrais ou governos, os principais criptoativos são programados para serem limitados.

Para emitir esse ativo, programadores devem decifrar e encadear blocos de códigos lançados na internet por desenvolvedores. Por isso essa tecnologia é chamada blockchain, uma corrente de blocos.

Mineração é como ficou conhecido esse trabalho de validação de criptoativos. A atividade requer a resolução de problemas matemáticos complexos, que exigem a utilização de computadores interligados e com alta capacidade de processamento.

Projetados por diferentes desenvolvedores, esses ativos têm sua valoração afetada pela confiança de investidores quanto à qualidade da programação que cada um deles carrega, além da aceitação deles para a realização de transações.

Isso explica porque o bitcoin é o mais valioso. É considerado uma moeda, de fato, por especialistas desse mercado. "É um projeto seguro, que está completamente pronto", diz Lucas Passarini, analista de negócios do Mercado Bitcoin.

A maturidade do projeto também justifica a valorização inferior em relação a muitos dos seus pares. Em 2021, a cotação em reais do bitcoin subiu 69%, segundo dados do Mercado Bitcoin.

O ganho supera largamente o de investimentos tradicionais. Mas não chega perto da alta de 448% do ethereum, cujo projeto é considerado robusto, mas em um grau de maturação inferior ao do bitcoin.

Desenvolvido para funcionar como unidade de monetização de um jogo de videogame, o Axie Infinity Shards —que não é uma moeda, mas é um criptoativo com utilidade específica— teve sua cotação elevada em 18.537% em 2021. Subiu de R$ 2,81 para R$ 523 no ano.

Outros criptoativos registraram valorizações extraordinárias ao longo do ano passado. São projetos cuja capitalização de mercado partiu de patamares baixos, mas que ganharam visibilidade ao receber aportes generosos para desenvolvimento, conseguindo assim a atenção de investidores, segundo Passarini.

A condição para isso foi facilitada pelo elevado nível de liquidez no mercado financeiro em 2021. Bancos centrais em todo o mundo afrouxaram a política monetária para manter a economia aquecida durante as piores fases da pandemia de Covid-19.

Reduções nas taxas de juros combinadas a programas de compras de ativos negociados no mercado deram estímulo e dinheiro para investidores aplicarem em mercados arriscados, segundo Rodrigo Soeiro, fundador da Monnos Cryptobank.

Os tempos da fartura podem estar no fim. Autoridades monetárias de todo o mundo, como é o caso do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), estão encerrando esses programas de estímulo para tentar frear uma inflação global que vem ganhando força.

Apertos monetários são considerados por especialistas como um obstáculo mais importante aos criptoativos do que crises em regiões com participação importante na mineração, como é o caso do Cazaquistão.

O país é a segunda maior mineradora de bitcoins do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas quase sumiu do mapa de prospecção da moeda na última quarta-feira (5).

O presidente Kassim-Jomar Tokaiev mandou cortar a internet e a telefonia celular do país. A medida tentava desarticular manifestações contra o preço dos combustíveis.

Diante da instabilidade, mineradores liquidaram ativos e provocaram desvalorização diária de 5,21% do bitcoin. O pessimismo contaminou o mercado e outros criptoativos também cederam.

"O histórico de tensões sociais e geopolíticas em locais de concentração de mineração leva mineradores a liquidar posições para arcar com os custos da paralisação, que eles não sabem quanto vai durar, e também com os custos da transferência para outros países", diz Passarini.

O problema no Cazaquistão é pontual. Fazendas de mineração podem ser transferidas para outras regiões. Já as notícias sobre conflitos entre governos e mineradores podem soar desencorajadoras a investidores.

Um exemplo de conflito que ganhou projeção com a crise no Cazaquistão é sobre o consumo de energia. Segundo reportagem do Financial Times, cidades de seis regiões do país enfrentaram​ apagões em meio ao inverno no país diante da sobrecarga no sistema causada pela mineração. A operadora local disse que racionaria a energia destinada à atividade.

Diferente de como 2022 está começando, o ano de 2021 ofereceu um pacote de boas notícias para os criptoativos. A mais chamativa foi a decisão de El Salvador em se tornar o primeiro país a adotar oficialmente o bitcoin como moeda, embora isso tenha gerado alguns protestos no país.

O país localizado na América Central, que é do tamanho do estado de Sergipe, ​também anunciou a criação de uma cidade voltada à mineração de bitcoin. A demanda energética exigida nessa atividade seria suprida pela geração termal provida pelo vulcão Conchagua.

O fato é que, assim como outros investimentos de renda variável, criptoativos estão sujeitos a condições políticas, econômicas, sociais, geográficas, entre outras. Além disso, há agravantes para o risco, como a ausência de regulamentação, a falta de conhecimento da maioria dos investidores e a presença de golpistas dispostos a tirar proveito de entusiastas.

A regra é aplicar pouco: entre 1% e 5% da carteira, segundo Rodrigo Monteiro, diretor-executivo da ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia).

"Comece com pouco para ganhar confiança. Faça um teste com R$ 10, com R$ 100, depois com R$ 1.000. Compre, venda, transforme em dinheiro. Leia a respeito e entenda a lógica nos primeiros meses", diz Monteiro.

Corretoras estabelecidas e com boa reputação no mercado devem ter a preferência do investidor iniciante. "É como qualquer outro investimento. Você só deve aplicar naquilo que confia e acredita", afirma.

​​Quanto mais novo e desconhecido é o ativo, menor deve ser o valor aplicado, diz Passarini, do Mercado Bitcoin. "Para quem não sabe nada, é importante ir naquilo que a gente sabe que é bom. O bitcoin e o ethereum não vão mais subir a 16.000%, mas eles certamente não irão a zero em um curto espaço de tempo", diz.

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