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Bolsa cai com correção do mercado após duas semanas de ganhos

Wall Street resiste às pressões de juros e crise entre Rússia e Ucrânia

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São Paulo

As ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira caíram nesta segunda-feira (24), quando investidores resolveram liquidar ativos após os ganhos obtidos no mercado doméstico nas duas últimas semanas.

O Ibovespa caiu 0,92%, a 107.937 pontos. A correção já era esperada por analistas após o principal índice da Bolsa ter acumulado altas na contramão da tendência de baixa dos mercados globais. O dólar fechou em alta de 0,93%, a R$ 5,5060.

No exterior, os mercados tiveram um dia de volatilidade em meio a preocupações com a crise entre Rússia e Ucrânia e, principalmente, com a expectativa de que o pronunciamento do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), na próxima quarta-feira (26), indique elevações dos juros nos Estados Unidos.

Prédio do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, em Washington DC
Prédio do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, em Washington DC - Daniel Slim/AFP

A autoridade monetária dos Estados Unidos deverá anunciar os passos seguintes das suas ações contra a mais alta inflação no país em quatro décadas. O mercado vem apostando em uma sequência de elevações agressivas da taxa de juros do país.

Esse movimento valoriza os títulos do Tesouro americano, fazendo com que esse investimento, considerado extremamente seguro, se torne mais interessante do que as arriscadas aplicações em ações de empresas.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam em leve alta, porém, após passarem a maior parte da sessão desta segunda no vermelho. O pregão desta segunda foi o mais volátil desde outubro de 2020, quando anúncios de testes de vacinas contra a Covid e a disputa eleitoral sacudiram Wall Street, conforme destacou o Financial Times.

A oscilação deverá marcar o ano de 2022, um período de correção das Bolsas americanas após as altas históricas de 2021, dizem analistas.

A Nasdaq, Bolsa que concentra empresas de tecnologia, chegou a cair 4,9% no pior momento do dia e fechou em alta de 0,63%. Esse é o mercado que mais tem sofrido com a tensão gerada pela provável elevação dos juros, pois tem mais companhias em formação de caixa e, portanto, que dependem mais de crédito.


O S&P 500, indicador de referência do mercado americano, subiu 0,28%. O Dow Jones avançou 0,29%, depois de cair 3,25% à tarde. Segundo o jornal The Wall Street Journal, foi a primeira vez na história que o índice se recuperou de uma queda de mil pontos durante o pregão e fechou em alta.

Desde o final do ano passado, a Nasdaq já afundou 11,44%. No mesmo período, Dow Jones e S&P 500 caíram 5,43% e 7,47%, nessa ordem.

Ainda sem enxergar o fundo após semanas de mergulho, analistas do mercado americano comentam que a sequência de quedas estava fazendo investidores contrariarem a estratégia de comprar ações quando o mercado está em baixa.

​"A mentalidade de comprar na queda abandonou o mercado neste momento", disse Michael Mullaney, diretor de pesquisa de mercados globais da Boston Partners, ao Wall Street Journal.

A mobilização militar da Rússia nas proximidades da fronteira da Ucrânia também preocupa investidores. A Otan (aliança militar ocidental) anunciou o reforço das defesas do Leste Europeu contra o que considera ameaça iminente de invasão.

Analistas avaliam que possibilidade crise envolvendo a Rússia, um dos maiores produtores do petróleo, pode elevar o preço da commodity no mercado internacional. Isso eleva o risco de inflação e, consequentemente, de alta nos juros.

A crise pode, porém, beneficiar ações de exportadores brasileiros justamente pelo seu potencial de restringir a oferta e, consequentemente, valorizar o produto.

Nesta segunda-feira, os mercados de commodities também foram sacudidos pelas turbulências geradas pelas preocupações sobre a política monetária nos EUA, declarou o analista Giovanni Staunovo, do UBS Group, à Bloomberg.

Valorizado pela perspectiva de alta dos juros americanos, o dólar se tornou mais atrativo do que o setor de materiais básicos, como o petróleo, segundo o analista.

O barril do Brent, referência mundial, chegava ao final do dia caindo 0,99%, a US$ 87,02 (R$ 477,77). A cotação segue no patamar mais alto desde o segundo semestre de 2014.

As ações preferenciais da Petrobras subiram 0,57%.

A maior pressão negativa para a abertura do Ibovespa nesta semana, porém, vinha da queda dos contratos do minério de ferro, contrariando o movimento de altas das últimas semanas que impulsionaram o mercado doméstico. A Vale recuou 1,22% e exerceu a maior pressão negativa sobre a Bolsa nesta segunda.

No cenário político, o presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve no Orçamento de 2022 uma reserva de R$ 1,7 bilhão para reajustar salários de servidores. Bolsonaro havia prometido dar o aumento a policiais federais, categoria que pertence à base eleitoral dele. Essa promessa vem gerando mobilizações de diversos setores do funcionalismo.

Aumentos dos gastos públicos podem pressionar Bolsa e câmbio devido à percepção de investidores sobre o crescimento do risco fiscal, ou seja, de que o país terá dificuldade para cumprir seu Orçamento.

Na semana passada, a Bolsa brasileira alcançou a sua segunda alta semanal. Ações locais, cujos preços estavam bastante descontados, foram beneficiadas por investidores estrangeiros em busca de oportunidades em meio às seguidas baixas em Wall Street, onde dois dos três principais índices tiveram a pior semana desde o início da pandemia.

O mês de janeiro vem apresentando recorde de investimentos estrangeiros, com cerca de R$ 15 bilhões aportados. Analistas avaliam que houve um movimento rebalanceamento de portfólio no exterior.

Investidores buscam se reposicionar nos mercados globais diante das expectativas de que as principais bolsas dos Estados Unidos e da Europa passarão longe de repetir os ganhos registrados em 2021.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, alertou que as duas altas semanais seguidas do Ibovespa não podem ser vistas como tendência. Ele acredita que o ganho será de curto prazo.

Liquidações de papéis que tiveram forte crescimento nos últimos dias são, portanto, esperadas.

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