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Bolsa tem forte alta e resiste a novo tombo das ações nos EUA

Estrangeiros buscam ganhos rápidos com ativos baratos de empresas brasileiras

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira obteve expressiva alta nesta terça-feira (25) com o impulso da entrada de capital de investidores estrangeiros em busca de ações baratas e com potencial de valorização, como papéis de grandes bancos e de alguns dos maiores exportadores de materiais básicos do país. O movimento fez o Brasil descolar de mais um dia de baixas no mercado acionário dos Estados Unidos.

Referência da Bolsa no Brasil, o índice Ibovespa saltou 2,10%, a 110.770 pontos. Essa é a mais elevada pontuação desde o final de outubro do ano passado. Já o crescimento percentual diário na sessão desta terça é o maior desde a alta de 3,66% anotada em 2 de dezembro, quando a aprovação da PEC dos Precatórios no Senado aliviou preocupações sobre a capacidade do governo em cumprir o Orçamento de 2022.

O dólar caiu 1,30%, a R$ 5,4340. Além das aplicações de estrangeiros nas ações brasileiras, ganhos dos exportadores de commodities reforçaram a entrada de moeda americana no país. Isso favoreceu a valorização do real, segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Operadores observam flutuação de índices em monitor na Bolsa de Valores de Nova York (EUA) nesta terça (25)
Operadores observam flutuação de índices em monitor na Bolsa de Valores de Nova York (EUA) nesta terça (25) - Brendan McDermid/Reuters

Em Wall Street, as bolsas rumam na direção oposta à observada por aqui. Após um 2021 de ganhos elevados, as ações americanas passam por forte correção.

Na véspera do anúncio dos próximos passos do ajuste monetário promovido pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para enfrentar a maior inflação no país em quatro décadas, investidores estão liquidando ativos negociados em Nova York com maior possibilidade de desvalorização em um ambiente de crédito mais caro.

A Nasdaq, bolsa que concentra empresas de tecnologia ainda em formação de caixa, desabou 2,28%. Em 2022, o tombo atingiu 13,46%.

O desempenho do setor de tecnologia puxou para o fundo o S&P 500, referência do mercado americano, que caiu 1,22% nesta sessão e, no ano, 8,60%.

Composto por algumas dezenas de grandes empresas de valor, o índice Dow Jones é menos sensível à alta dos juros. O indicador caiu 0,19% nesta terça. A queda anual acumulada é de 5,62%.

No mundo dos negócios, as atenções estão voltadas para a reunião dos membros do comitê de política monetária do Fed. O resultado do encontro, iniciado nesta terça, será apresentado na tarde desta quarta-feira (26).

O ponto central em debate é o ritmo de elevação das taxas dos juros básicos da economia do país, que desde o início da pandemia estão praticamente zeradas. A política monetária frouxa foi adotada no momento em que a paralisação de atividades para enfrentar a transmissão da Covid impunha a necessidade de estimular crédito e geração de empregos.

Agora é a hora do aperto. Os juros precisam subir porque dificultar o crédito é uma das formas de tirar dinheiro do mercado e, assim, esfriar a inflação. Mas também há incertezas quanto à efetividade dessa medida. A inflação que Estados Unidos e a maior parte do mundo tentam combater foi causada pela escassez de produtos gerada pela pandemia, que ainda não acabou.

A dificuldade em prever o rumo da inflação e o nível do aperto monetário vem provocando turbulências. Os principais índices negociados em Nova York fecharam em ligeira alta nesta terça-feira (24) após quase um dia inteiro de fortes baixas. A virada marcou a sessão mais volátil em Wall Street desde outubro de 2020.

Para tornar o cenário ainda mais complexo, a Rússia posiciona tropas em regiões fronteiriças da Ucrânia. Uma invasão poderia desencadear um conflito diplomático e, até mesmo, militar envolvendo Estados Unidos e outras potências econômicas.

A Rússia é um dos maiores produtores de petróleo, cujo preço ronda o patamar mais alto em mais de sete anos. Os rumos do embate podem resultar em escassez, o que pode significar valorização da commodity e alta nos combustíveis. Seria mais um impulso à inflação global.

O barril do petróleo Brent subiu 1,81%, a US$ 87,83. Apesar de também pressionar a inflação por aqui, a valorização da commodity beneficia a Bolsa brasileira porque favorece as ações de algumas empresas do Ibovespa. A principal delas, a Petrobras, disparou 3,26% nesta terça.

Ainda no setor de commodities, as ações da Vale subiram 0,23%, na esteira dos ganhos nos contratos de minério de ferro exportado para a China. A expectativa de uma política expansionista de Pequim, na contramão dos apertos monetários adotados pelas principais economias, vem estimulando os setores de mineração e de siderurgia no Brasil.

O setor financeiro, tradicionalmente atraente aos olhos de investidores estrangeiros devido à solidez dos principais bancos brasileiros, também teve peso importante na alta do Ibovespa. O Bradesco subiu 3,99% e deu a terceira maior colaboração para os ganhos do índice nesta sessão.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, reafirmou que os ganhos na Bolsa brasileira podem ser pontuais. Ele diz que a alta é resultado da entrada de hot money, que no jargão do mercado quer dizer que os investidores estão comprando ações brasileiras baratas para, em seguida, liquidarem essas posições. Eles buscam um ganho rápido. O dinheiro entra e sai depressa, provocando oscilações na Bolsa.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, alertou que o mercado ainda digere a aprovação do Orçamento de 2022 e isso também pode gerar pressão negativa à Bolsa e pressionar a alta do dólar.

Em ano eleitoral, o mercado está especialmente atento aos gastos públicos e à capacidade do governo de cumprir o Orçamento. ​

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