Descrição de chapéu 5g tecnologia internet

Companhias aéreas cancelam voos com temor de 5G nos EUA

Empresas e governo do país alertam que frequência do serviço pode interferir em funções de aeronaves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tim Hepher Jamie Freed David Shepardson
Reuters

Companhias aéreas do mundo todo cancelaram ou remarcaram dezenas de voos depois que o lançamento "indeciso" do celular 5G nos Estados Unidos provocou o que um piloto chamou de "pesadelo" de agendamentos para as empresas, que enfrentam rápidas mudanças de restrições.

A decisão de duas companhias de celular americanas de adiar a ativação das poderosas novas torres de telecomunicações perto de aeroportos, depois de protestos de companhias sobre possível interferência, chegou tarde demais para evitar uma onda de cancelamentos na quarta-feira (19).

Companhias aéreas de toda a Ásia e várias do Oriente Médio e da Europa disseram que cancelariam alguns voos ou trocariam modelos de aviões, com a maior parte da disrupção inicial atingindo o Boeing 777, durante décadas um campeão das viagens de longa distância.

Bancadas de atendimento da Emirates vazias no Logan Airport, após a companhia ter cancelado todos os voos no aeroporto por preocupações com a instalação do 5G - Brian Snyder - 19.jan.2022/Reuters

A Emirates, de Dubai, principal usuária do minijumbo da Boeing, deu início a uma série de cancelamentos da indústria ou mudanças de aeronaves no final da terça-feira, dizendo que suspenderia nove rotas nos Estados Unidos.

O presidente veterano da companhia, Tim Clark, disse à CNN que a empresa não estava ciente da extensão do problema até terça e chamou o episódio de "um dos mais delinquentes, totalmente irresponsáveis" que já viu, segundo tuitou um repórter da CNN.

A disrupção é o apogeu de semanas de disputas entre companhias aéreas e de telecomunicações sobre a velocidade de implantação dos serviços de celular 5G nos EUA, refletida por tensões entre os reguladores dessas indústrias economicamente sensíveis.

As companhias aéreas americanas e a FAA (Administração Federal de Aviação) advertiram que as frequências e a força de transmissão utilizadas nos EUA poderiam interferir na leitura precisa de altitude, necessária para pousos em clima adverso em alguns jatos.

Os reguladores europeus dizem que não encontraram riscos em outros locais.

A AT&T e a Verizon concordaram na terça em adiar o acionamento do 5G perto de aeroportos importantes, mas estão pressionando com a mobilização mais ampla na quarta-feira de serviços destinados a dezenas de milhões de pessoas nos EUA.

No final da terça, a FAA começou a atualizar a orientação sobre que aeroportos e modelos de aeronaves serão afetados, numa medida que deverá reduzir drasticamente o impacto de quase 1.500 avisos de restrições do 5G já emitidas pelo órgão regulador.

Mesmo assim, dezenas de voos tiveram de ser cancelados ou alterados, fazendo as ações das companhias europeias de longo alcance caírem cerca de 2%.

"O adiamento no último minuto aconteceu tarde demais para impedir que as tripulações fossem enviadas para o voo de hoje (de retorno). Isso criou simplesmente um pesadelo", disse um piloto de uma grande companhia europeia.

Baixa temporada

Analistas disseram, entretanto, que uma queda nos voos de longo alcance causada por restrições nas fronteiras devido à pandemia limitaria o impacto imediato.

"É a baixa estação, por isso em janeiro e fevereiro as companhias aéreas vão perder dinheiro, sem contar o impacto da pandemia. No momento elas estão lutando pela sobrevivência", disse James Halstead, sócio-gerente da Aviation Strategy, sediada no Reino Unido.

"O que poderia prejudicar é que algumas companhias estão usando as mesmas aeronaves de longo alcance para transporte de carga", acrescentou ele.

Avião da Spirit decolando no Logan Airport - Brian Snyder - 19.jan.2022/Reuters

A Korean Air Lines disse que trocou de aviões em seis voos de passageiros e carga para os EUA; a China Airlines de Taiwan remarcou alguns voos e a Cathay Pacific, de Hong Kong, disse que mudará os tipos de aeronaves se necessário.

As japonesas All Nippon Airways e Japan Airlines disseram que vão reduzir os voos de Boeings 777 depois de um aviso da Boeing de que os sinais de 5G podem interferir com o altímetro de rádio.

Após o anúncio dos cancelamentos, porém, as companhias voltaram atrás e disseram que retomariam o serviço da aeronave para os Estados Unidos na quinta-feira. Ambas as empresas disseram que foram informadas pela FAA que não há problemas de segurança após a redução da implantação.

Os altímetros de rádio dão leituras precisas sobre a altitude acima do solo na aproximação e ajudam em pousos automáticos, assim como verificam se um jato pousou antes de permitir o empuxo reverso.

A Boeing disse que está trabalhando com todas as partes em uma "solução orientada por dados para longo prazo que garanta que todos os modelos de aviões comerciais podem operar seguramente enquanto o 5G é utilizado".

No ano passado, o 777 foi o segundo avião de corpo largo mais usado em voos de e para aeroportos dos EUA, com cerca de 210 mil voos, atrás do mais antigo 767, segundo dados do FlightRadar24.

Em outra disrupção, a Lufthansa, da Alemanha, disse que cancelou um voo e estava mudando de aeronaves em outros.

A Air India disse que seus quatro voos nos EUA seriam reduzidos diante das mudanças de tipo de aeronave a partir de quarta-feira.

A Singapore Airlines disse que mudou o avião usado em determinadas rotas nos EUA.

A British Airways mudou seu voo diário para Los Angeles do Boeing 777 para um Airbus A380 e cancelou ou modificou outros voos para os EUA.

As companhias de carga AeroLogic e Polar se desviaram de Cincinnati para Atlanta, segundo o site de voos FlightRadar24, que disse que Atlanta não está sujeita a restrições ligadas ao 5G.

Nem todos os voos do 777 foram afetados. A Emirates disse que continuará voando o 777 para Washington, que até agora não oferece problemas.

A Qatar Airways e a Air France disseram que as rotas dos EUA estão operando normalmente, e a El Al de Israel e a Etihad Airways, de Abu Dhabi, informaram que seus serviços não foram afetados. A Kenya Airways disse que estava tomando as precauções recomendadas pela Boeing e a FAA.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.