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Bolsa dispara em 2022 enquanto temor de alta nos juros derruba ações nos EUA

Ibovespa tem nova alta e acumula 7,43% no ano; Tesla perde mais de US$ 100 bi

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira manteve a trajetória de alta e fechou no azul nesta quinta (27) pela terceira vez seguida. O Brasil desponta como um dos refúgios de investidores internacionais em um momento da economia global em que Estados Unidos prometem um forte aperto monetário e a China sinaliza medidas expansionistas.

O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, subiu 1,19%, a 112.611 pontos, um pouco abaixo da máxima de 113.057 pontos registrada no dia. O ganho acumulado do indicador atingiu 7,43% em 2022. No ano passado, o índice caiu 11,93%.

Ações de empresas exportadoras de materiais básicos e de grandes bancos perderam força ao longo da sessão, apesar disso, deram as maiores contribuições positivas para o Ibovespa. Petrobras, Vale e Bradesco subiram 0,03%, 0,23% e 0,50%, respectivamente. O Magazine Luiza saltou 6,96%, a maior alta do pregão.

O dólar caiu 0,33%, a R$ 5,4240, depois de ter recuado ao longo da sessão à cotação mínima de R$ 5,3520.

Cédulas e moedas de dólares dos em cofre de um banco em Westminster, Colorado, nos EUA
Cédulas e moedas de dólares dos em cofre de um banco em Westminster, Colorado, nos EUA - Rick Wilking - 3.nov.2009/Reuters

Os ganhos dos investimentos de risco no Brasil contrastam com as perdas no mercado americano. Em Nova York, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,02%, 0,54% e 1,40%.

Na sessão desta quinta, a Tesla deu uma das mais significativas contribuições para a queda do S&P 500, que é o índice de referência nos Estados Unidos. A montadora de carros elétricos deu um mergulho de 11,55% no dia. Resultados pouco animadores em seu balanço do quarto trimestre explicam o tombo.

Com esse resultado, a companhia comandada por Elon Musk perdeu cerca de US$ 109 bilhões (R$ 586,5 bilhões) nesta quinta, segundo a Bloomberg.

Entre a sequência de resultados negativos em Wall Street, a situação da Nasdaq merece destaque. As ações da bolsa de tecnologia americana já cederam 14,65% neste ano. Empresas desse segmento costumam ser as mais sensíveis a altas nos juros. Ainda em formação de caixa, elas dependem de crédito.

O mundo dos investimentos passa por turbulências um dia após a sinalização mais dura do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sobre a expectativa para a elevação dos juros nos próximos meses.

Na véspera, o comitê de política monetária do Fed sinalizou o fim do programa especial de compra de títulos e uma alta dos juros para março. Até lá, a taxa segue praticamente zerada. A notícia era esperada. Mas a entrevista do presidente do banco central americano após a divulgação do comunicado balançou o mercado de ações em Nova York, que fechou em baixa após ter ensaiado uma recuperação ao longo do dia.

Jerome Powell adotou um tom duro e, ao mesmo tempo, pouco detalhado sobre a necessidade de elevar juros para combater a maior inflação enfrentada pelos americanos em quatro décadas.

"Os investidores estão se ressentindo da fala de Powell, que apesar do tom duro no combate à inflação, deixou um cenário muito incerto sobre os próximos passos", comentou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora, diz que a fala de Powell tem levado parte do mercado a considerar que o Fed discutirá aumentos de juros nas próximas sete reuniões dos seus formuladores de política monetária até o fim do ano. Com isso, o mercado estaria considerando até cinco elevações da taxa em 2022.

Dados divulgados nesta quinta pelo governo revelaram que a economia dos EUA registrou em 2021 maior crescimento desde 1984. Se por um lado a forte retomada econômica é positiva devido aos seus reflexos no crescimento de emprego e renda, por outro, sinaliza mais força para a inflação. Os dados reforçam, de certa forma, a necessidade de aumentar o custo do crédito.

Há uma aparente contradição nas altas do Ibovespa e do real frente ao dólar no momento em que o Fed sinaliza medidas que tiram liquidez do mercado global, pois isso deveria desfavorecer investimentos em ativos mais arriscados, como ações de empresas em mercados emergentes.

Parte da explicação está no que uma análise da agência Bloomberg classificou nesta quarta-feira (26) como "nova era", quando a China entrega estímulos econômicos e os Estados Unidos retiram.

Em contraste com o Fed, o Banco do Povo da China anunciou estímulos para aquecer a economia castigada em 2021 por paralisações de atividades para a contenção do coronavírus e por um tombo no mercado imobiliário, provocado pela crise de uma gigante do setor, a incorporadora Evergrande.

Esse contexto favorece exportadores de commodities para a China, como Austrália e seus vizinhos asiáticos, diz a Bloomberg.

O Brasil, além de ser um grande exportador de materiais básicos como o minério de ferro, também tem a China como o seu principal parceiro comercial.

Ainda no campo das commodities, o preço do petróleo segue escalando na esteira da crise envolvendo a Rússia, que ameaça invadir a Ucrânia.

O barril do Brent recuou 0,12%, a US$ 89,85 (R$ 483,44). Apesar dessa leve queda, a cotação segue no maior patamar desde 2014.

"Vale ressaltar que a Rússia é responsável pela produção de 40% do gás na Europa e que o continente está no inverno. As pessoas por lá precisam, literalmente, do gás natural para se aquecer", comentou Pietra Guerra, da Clear.

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