Em 2015, greve no funcionalismo paralisou aulas e atrasou benefícios do INSS

Médicos peritos cruzaram os braços por mais de quatro meses, e agências fecharam

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São Paulo

A última grande mobilização dos servidores públicos federais no Brasil foi em 2015, ainda no início da segunda gestão Dilma Rousseff (PT) na Presidência. Naquela época, como agora, a mobilização buscava a inclusão de reajuste salarial no Orçamento federal para o ano seguinte.

Iniciado entre maio e julho, o movimento foi ganhando adesão de servidores e resultava, no fim de agosto, a dificuldade no agendamento de benefícios previdenciários, paralisações em universidades e escolas técnicas e a suspensão das atividades de fiscalização em portos, aeroportos e fronteiras.

Ao todo, os servidores federais somaram, naquele ano, 12,1 mil horas parados, segundo monitoramento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Foi o maior tempo de paralisação em desde o início da série histórica da entidade iniciada em 1983.

Não era, no entanto, um movimento coordenado, unificado.

Nas universidades federais, 2015 foi aquele da mais longa greve da história, que durou 139 dias e terminou no início de outubro. Em 2022, os professores titulares do ensino superior também aderiram à mobilização dos servidores.

Porém, na avaliação do técnico do Dieese Rodrigo Linhares, que monitora os movimentos grevistas, houve certa desmobilização nas universidades desde então, agravada pela pandemia. "Houve uma sequência de greves de longa duração, que desorganizou os calendários das universidades. Depois, crises econômicas e agora pandemia e aulas remotas", afirma.

No INSS, a greve dos servidores durou quase três meses e chegou a resultar no fechamento de agências. Antes de os técnicos e agentes do seguro social voltarem ao trabalho, os médicos peritos cruzaram os braços, e assim permaneceram por mais de quatro meses.

Somente no início de 2016 os atendimentos voltaram a ser realizados, o que atrasou a concessão de benefícios por incapacidade que demandam esse tipo de exame.

Servidores públicos federais em greve durante manifestação em frente ao Ministério do Planejamento, em agosto de 2015 - Pedro Ladeira-27.ago.15/Folhapress

As diversas categorias que pararam naquele ano voltaram ao trabalho depois de aceitar a proposta do governo de reajuste de 5,5% em 2016 e de 5% em 2017, o que, na época, compensava a inflação do período.

Antes dessa, em 2015, outra grande greve de grande adesão havia sido realizada em 2012. Era o segundo ano do primeiro mandato do governo Dilma, e o servidores fecharam acordo para receber 15,8% de reajuste até 2015, parcelado em três vezes.

​Agora, em 2022, avalia o técnico do Dieese, situação de animosidade da gestão Jair Bolsonaro (PL) em relação aos servidores públicos acaba criando um cenário favorável a uma novo movimento de grande adesão.

"Diante de um governo que se recusa a negociar e que não só hostiliza a figura do servidor como cria um desconforto ao conceder reajuste apenas a uma parte, o risco de uma nova greve vai ficando maior", diz.

Para ele, o governo federal acaba cometendo um erro estratégico ao estabelecer o antagonismo como prática, o que acaba dando unicidade às reivindicações.

"O governo federal tem uma dificuldade imensa em negociar. Existe uma má vontade e uma postura de repúdio inclusive em relação àqueles que são funcionários diretos do Executivo. O acirramento de ânimos está dado e não partiu dos sindicatos", afirma.

Um ponto em comum das greves, diz Linhares, seja no âmbito público ou privado, é que elas majoritariamente têm início nas reivindicações por salários melhores. Quando os movimentos partem de trabalhadores da iniciativa privada, o segundo motivo frequente é a paralisação por atraso de salário.

Entre os servidores públicos, além de aumento salarial, os funcionários do Estado pedem a implantação ou cumprimento de plano de cargos e salários e melhoria nas condições e no local de trabalho.

Em 2022, o estopim para o início das mobilizações foi a decisão de Bolsonaro de conceder reajuste apenas aos policiais federais, categoria importante para a base política do presidente.

Desde o fim de dezembro, servidores da Receita Federal começaram a entregar cargos de chefia, e a mobilização se espalhou por outras categorias, chegando também à base do funcionalismo federal.

O levantamento do Dieese mostra também uma aceleração no número de greves no funcionalismo —nos âmbitos federal, municipal e estadual— a partir de 2013, ano marcado por uma série de manifestações de rua em todo o Brasil. Naquele ano, 796 greves de servidores foram realizadas em todo o Brasil, 37 deles no funcionalismo federal.

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