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Como a alta dos juros nos EUA afeta o Brasil

Investimentos, inflação e empregos podem ser influenciados por decisão do Fed

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São Paulo

O Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) está acelerando o aumento da sua taxa de juros. O aperto na oferta ao crédito iniciado neste ano busca controlar a escalada da inflação no país.

Mudanças na política monetária na principal economia do planeta, porém, têm impacto na flutuação do câmbio e nos preços das ações negociadas nas Bolsas de Valores de todo o mundo. Também afetam investimentos públicos e privados, a geração de empregos e a inflação em diversos países.

Leia nos próximos parágrafos como essas decisões são tomadas e o que faz delas tão influentes.

Fachada da sede do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, em Washington
Fachada da sede do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, em Washington - Joshua Roberts - 26.jan.2022/Reuters

O colegiado responsável por decidir a política monetária nos Estados Unidos é chamado de Fomc, sigla em inglês para Comitê Federal de Mercado Aberto. Esse grupo de conselheiros do Fed discute a meta de juros dos fundos federais em oito reuniões ao longo do ano. A tarefa é semelhante à do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil.

A taxa das operações de mercado do Fed influencia os juros cobrados nos empréstimos que os bancos privados realizam entre si, um instrumento importante para o ajuste de caixa realizado todos os dias pelas instituições financeiras.

Os juros das operações entre os bancos são refletidos no custo do crédito em geral, como nos empréstimos tomados por pessoas físicas e empresas.

Quando os juros estão baixos, o crédito fica mais acessível. O baixo custo do empréstimo estimula pessoas a comprar bens e a consumir. Empresas colocam projetos em curso e geram mais empregos. Economistas chamam isso de política monetária expansionista.

Por isso o Fomc rebaixou a sua meta de juros para um intervalo entre 0 e 0,25% ao ano quando a pandemia de Covid paralisou atividades econômicas globais em março de 2020. A ideia era colocar mais dinheiro em circulação através do crédito frouxo e, assim, evitar uma explosão de demissões.

Passado o momento mais agudo da pandemia, o avanço da vacinação contra a Covid possibilitou a reabertura da economia americana e a oferta de emprego no país passou a ser plena.

Mas a combinação de economia aquecida, crédito barato e escassez de produtos e materiais básicos —reflexo das restrições geradas pela pandemia— resultou na maior inflação em quatro décadas no país. Isso impôs ao Fed a necessidade tirar dinheiro de circulação por meio do aperto no crédito.

A guerra entre Rússia e Ucrânia acrescentou ainda mais pressão inflacionária a esse contexto. A Rússia é uma das principais produtoras de petróleo do mundo. A ameaça de escassez da matéria-prima já provoca a elevação global dos preços dos combustíveis.

Além dos juros, os conselheiros do Fed também discutem quanto dinheiro o banco central dos Estados Unidos precisa investir no mercado financeiro para manter a economia aquecida.

Entre o início da pandemia e o segundo semestre do ano passado, o volume mensal de compras de ativos (nesse caso, títulos do Tesouro e do mercado imobiliário) era de US$ 120 bilhões (R$ 643 bilhões).

Essa dinheirama jorrou nas bolsas de valores americanas, que tiveram ganho recorde ao longo de 2021. Diversos economistas culpam o excesso de liquidez produzido pelo Fed (e por outros bancos centrais) pelo descontrole inflacionário.

Neste ano, também para frear a inflação, o Fed encerrou suas compras de ativos. O corte não ocorreu de forma imediata. Foi feito aos poucos, tendo começado ainda no ano passado.

O afilamento evitou oscilações exageradas nas ações de empresas, pois isso seria prejudicial à economia. Nos Estados Unidos, esse processo é chamado de tapering.

Efeitos nos investimentos

O foco do Fomc é a inflação doméstica americana. Já os efeitos colaterais afetam investimentos de pessoas e empresas em todo o mundo. E isso não mexe apenas com a vida de investidores e empresários. Empregos, salários e o valor da conta do supermercado de trabalhadores, inclusive os brasileiros, estão em jogo.

Em tempos de dinheiro abundante e barato, grandes investidores ficam mais dispostos a comprar ações de empresas de países de economia emergente, como é o caso do Brasil, um tipo de aplicação considerada arriscada devido à instabilidade desses mercados. Os recursos permitem o crescimento de negócios e a geração de trabalho e renda.

O aperto da política monetária nos Estados Unidos reduz as chances de ações de empresas listadas na Bolsa brasileira serem compradas porque, simplesmente, há menos capital disponível. Mas não é só isso.

Ao aumentar os juros, o Fed eleva a recompensa para quem aplica no Tesouro americano, cujo risco de perdas devido a um calote é considerado inexistente.

Com uma opção segura pagando mais, os investidores ficam mais seletivos. Muitos desistem das ações de empresas, principalmente as mais arriscadas.

Outros bancos centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.

O principal problema desse movimento é a falta de liquidez (o dinheiro para de circular), uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo.

Dólar pode subir (ou cair)

A alta dos juros americanos também afeta o câmbio. Os investimentos de estrangeiros no Brasil, sejam eles no mercado de renda variável ou na renda fixa, trazem dólares para dentro do país. Se a moeda entra em menor quantidade, ela fica mais escassa e o seu valor frente ao real tende a subir.

O dólar valorizado é um potencial gerador de inflação no Brasil porque torna mais cara a importação de maquinário e componentes utilizados na indústria local, além de diversos itens de consumo.

Materiais básicos exportados por companhias brasileiras também são precificadas em dólares. O petróleo produzido pela Petrobras é o exemplo mais conhecido. O preço mais alto pago em dólares pelas commodities no exterior também torna esses produtos mais caros para o consumo aqui no Brasil.

O crescimento das exportações pode, eventualmente, favorecer a entrada de dólares no país. Isso depende de onde os exportadores decidem investir os ganhos com as vendas no mercado externo. É nesse ponto que a política ganha importância.

Um cenário político conturbado, com ameaças ao funcionamento de instituições democráticas e de interferência agressiva do governo no mercado financeiro, afugenta investidores.

Há consenso entre analistas de que o temor desse tipo de instabilidade afastou investimentos do Brasil no ano passado, mesmo com um contexto favorável no exterior devido à política expansionista dos EUA e de outras das principais economias globais.

Em 2022, ano de eleições no Brasil, investidores estão especialmente atentos a medidas que podem aumentar os gastos públicos.

Despesas elevadas dificultam a execução do Orçamento, como investimentos em infraestrutura, pagamento das dívidas da União e outras ações planejadas pelo governo no ano anterior. É o chamado risco fiscal.

Mais risco significa menos disposição de investidores para investir no Brasil e nas empresas brasileiras, pois eles avaliam que as condições ficam desfavoráveis para o crescimento do mercado interno.

A escassez de liquidez no exterior dificulta o jogo para o Brasil porque, com menos capital, investidores querem mais segurança e lucros maiores ao decidir onde aplicar.

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