Descrição de chapéu inflação

EUA registram 7% de inflação em 2021, a mais alta desde 1982

Alto custo de vida pesa no índice de aprovação do presidente Joe Biden

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Lucia Mutikani
Washington | Reuters

A inflação nos Estados Unidos encerrou 2021 com uma alta acumulada de 7%, o maior valor em quase quatro décadas, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (12). O resultado pode reforçar as expectativas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) comece a elevar os juros já em março.

O avanço no acumulado em 12 meses é o maior observado desde junho de 1982. Na variação mensal, o índice de preços ao consumidor subiu 0,5% em dezembro ante novembro, após alta de 0,8% em novembro, informou o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,4% para o índice no mês e salto de 7% na base anual.

Loja da Target em Westbury, Nova York - Shannon Stapleton - 20.mai.2021/Reuters

A economia norte-americana está enfrentando uma inflação alta à medida que a pandemia de Covid-19 obstrui as cadeias de abastecimento e o país enfrenta pressões salariais. O governo norte-americano informou na última sexta-feira (7) que a taxa de desemprego em dezembro caiu para 3,9%, menor valor em 22 meses, sugerindo que o mercado de trabalho está no pleno emprego ou próximo a ele.

O alto custo de vida está pesando no índice de aprovação do presidente Joe Biden. A inflação nos EUA está bem acima da meta de 2% do Fed.

Ao comentar os dados, o presidente americano ressaltou que sua administração está "obtendo progressos em desacelerar a taxa de alta de preços", mas reconheceu que o resultado reforçou que "há mais trabalho a ser feito", com as altas de preços ainda em patamares muito altos pressionando o orçamento das famílias.

Para combater a inflação, a Casa Branca tem buscado reduzir gargalos em portos chave, atacar comportamentos anti-competitivos em alguns setores, como o de carnes, e incentivar uma produção maior de petróleo globalmente. Por outro lado, o governo americano tem evitado outras medidas que poderiam segurar os preços, como remoção de tarifas de importações vindas da China.

"A lista de razões para o Fed começar a remover sua política monetária expansionista está crescendo", disse Ryan Sweet, economista sênior da Moody's Analytics. "A inflação precisaria desacelerar rapidamente para tirar parte da pressão sobre o Fed e é improvável que isso ocorra."

Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o índice subiu 0,6% no mês passado, após alta de 0,5% em novembro.

Nos 12 meses até dezembro, o chamado núcleo do índice de preços ao consumidor acelerou a 5,5%. Esse foi o maior ganho anual desde fevereiro de 1991, após avanço de 4,9% em novembro.

O núcleo da inflação está sendo impulsionado pelo aumento dos preços de serviços, como aluguéis, e bens escassos, como veículos —o valor de carros usados acumula alta de 40% em 12 meses até dezembro. Na outra ponta, custos de energia e gasolina caíram no mês em comparação com novembro.

Para analistas, a taxa do núcleo do índice em relação a um ano antes deve atingir o pico em fevereiro.

"O primeiro trimestre deve observar um pico de inflação, com preços menores de energia e um declínio na inflação de alimentos e automóveis permitindo uma alta mais lenta dos preços para o restante do ano", disse David Kelly, estrategista-chefe global do JPMorgan Funds em Nova York.

Os dados foram divulgados um dia após Jerome Powell, presidente do Fed, alertar em discurso que a inflação é uma "ameaça grave" à recuperação do mercado de trabalho, reforçando as intenções do BC americano de redução dos juros.

"O Fed está atualmente atrasado, então a urgência que você ouve na voz de Powell ao comentar a inflação é ele correndo atrás", diz Tom Porcelli, economista-chefe para Estados Unidos da RBC Capital Markets.

Na avaliação de Eric Winograd, economista sênior de renda fixa da AllianceBernstein, não há nada nos dados divulgados nesta quarta que sugira que a inflação esteja se dissipando de forma significativa.

Aumentar juros para combater inflação pode aprofundar desigualdade, diz FMI

Aumentos de juros com o objetivo de combater a inflação podem exacerbar a divergência econômica "perigosa" e "cada vez mais profunda" entre economias avançadas e em desenvolvimento, disse nesta quarta-feira a diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva.

Georgieva disse que a inflação não é um fenômeno universal, mas é um problema em vários países, especialmente nos Estados Unidos.

Em evento organizado pelo Centro para o Desenvolvimento Global, ela disse que o Fed e outros bancos centrais sabem como lidar com a inflação, mas essa tarefa pode ser um ato de equilíbrio delicado.

"O efeito de contágio nos mercados emergentes pode colocar mais lenha na fogueira da divergência [econômica]", afirmou.

(Com Financial Times)

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