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José Ronaldo de C. Souza Jr.

Inflação de alimentos: o que houve em 2021 e o que esperar de 2022

Alta de preço dos commodities soma-se à desvalorização do real e encarece alimentação

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José Ronaldo de C. Souza Jr.

Diretor de Macroeconomia do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)

Os alimentos no domicílio representam em média mais de 15% dos gastos no orçamento dos brasileiros.

O peso é ainda maior para as famílias de renda muito baixa (cerca de 25%), que consomem poucos serviços. Em 2020, os alimentos foram os grandes vilões da inflação, com alta de 18% (bem acima da média de inflação). No ano passado, a inflação desse grupo de bens se desacelerou, mas ainda fechou o ano com uma taxa significativa (8,2%) –embora abaixo da média do IPCA (10,1%).

Nos dois últimos anos, as altas dos preços internacionais de commodities agropecuárias somaram-se à desvalorização cambial da moeda brasileira e pressionaram o preço dos alimentos no país. A desvalorização cambial, entretanto, foi bem menor que havia sido no ano anterior.

As altas de preços internacionais, por sua vez, foram fomentadas pelo crescimento da demanda dos países desenvolvidos –que continuaram a utilizar intensamente políticas de estímulo à demanda– e pelos eventos climáticos adversos, que prejudicaram a produção agrícola brasileira e tiveram efeitos significativos sobre os preços no Brasil e no exterior.

Oferta de alimentos no mercado municipal da Cantareira no centro da capital paulista - Rubens Cavallari - 12.nov.2021/Folhapress

Em 2021, o volume de chuvas muito abaixo da média histórica e as fortes geadas prejudicaram a produção de bens importantes como o milho (-15,6%), a cana-de-açúcar (-8,3%) e o café (-22,1%). Mesmo a soja, cuja produção aumentou mais de 10%, teve seus preços elevados devido à forte demanda internacional.

​​O comportamento da demanda deve-se também ao crescimento de países em desenvolvimento, especialmente asiáticos, que tem causado um crescimento sustentado da procura por grãos (como soja e milho) para a ração animal. A China, em particular, viveu uma transformação relevante com a substituição de parte da produção caseira de carne suína por produção em larga escala, que utiliza ração industrializada.

É bom lembrar que os países em desenvolvimento, quando ampliam sua renda per capita, geram aumento da demanda por proteína animal –alimento mais caro e que tem demanda reprimida entre as famílias de renda baixa. Esse movimento, portanto, não parece ser apenas uma questão de curto prazo. Há uma tendência de aumento de demanda por carnes e, por consequência, por grãos usados na ração animal. Isso pressiona, no longo prazo, o nível de preços dos alimentos.

Para este ano, espera-se, no entanto, que os alimentos tenham uma nova desaceleração, fechando o ano com uma alta de 4,5% –um pouco abaixo do esperado para o IPCA. Contribui para essa esperada desaceleração os prognósticos do IBGE e da Conab de nova alta da safra de soja e de uma forte recuperação da safra de milho. Além disso, o Ipea espera um crescimento da produção animal, com destaque para os bovinos (3,6%).

Obviamente, ainda há muitas incertezas sobre a produção agropecuária em 2022.

A frustração de safras em países vizinhos, como Argentina e Uruguai, já tem afetado os preços internacionais dos grãos. Na região Sul do Brasil, as chuvas abaixo do esperado em novembro e dezembro devem afetar negativamente a produção de soja. O excesso de chuvas, por outro lado, pode afetar a produção de soja do Mato Grosso e a pecuária bovina em Minas Gerais.

A segunda safra de milho, por sua vez, tem um grau de incerteza naturalmente mais elevado, pois ainda não se sabe nem qual será efetivamente a área plantada e como deve ser a produtividade. Outro risco para os preços está relacionado às limitações às exportações de países produtores de matérias-primas de fertilizantes e gargalos logísticos podem afetar a oferta interna desse importante insumo do setor agrícola.

Por último, a questão da taxa de câmbio afeta diretamente os preços de bens comercializáveis com o exterior, caso de boa parte dos alimentos consumidos pela população. Como o ano é de eleições, as incertezas relacionadas ao futuro da política econômica podem afetar o valor da moeda nacional e, consequentemente, a inflação brasileira.

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