Maioria dos empresários acha que crise do clima afetará negócios em 2022, diz PwC

Executivos brasileiros veem impacto na venda de produtos, mas não no longo prazo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A maioria dos executivos brasileiros (63%) acredita que as mudanças climáticas devem impactar a venda de produtos e serviços ao longo de 2022. É o que mostra a 25ª edição da pesquisa CEO Survey, feita pela empresa de consultoria e auditoria PwC.

Além do efeito na comercialização, 45% do empresariado acha que o problema vai afetar o aumento de capital, enquanto 39% temem pela interferência do clima no desenvolvimento de produtos e serviços.

O levantamento ouviu mais de 4.400 executivos em 89 países, entre outubro e novembro de 2021. Ao todo, 94% das entrevistas foram conduzidas online e 6% por carta, telefone ou presencialmente.

A preocupação com os efeitos da crise climática nos próximos 12 meses é maior entre os empresários brasileiros, aponta a pesquisa.

No recorte global, são 54% os que esperam impactos nas vendas, e 28%, no aumento de capital. A exceção fica por conta do desenvolvimento de produtos e serviços que, no mundo, é temido por 48% dos diretores-executivos.

Contudo, o levantamento aponta para uma possível contradição. Apesar da preocupação imediata, os líderes brasileiros não veem as mudanças climáticas como uma grande ameaça ao crescimento das companhias no longo prazo.

O empresariado diz temer mais por choques na economia global e ataques digitais do que por questões climáticas ou sociais.

A instabilidade macroeconômica é considerada a principal ameaça aos resultados da empresa por 69%, enquanto os riscos cibernéticos são citados pela metade dos entrevistados. Apenas 36% mencionam as mudanças climáticas, e 38%, a desigualdade social.

Para Mauricio Colombari, sócio da PwC Brasil, é possível que os executivos estejam mais preocupados com riscos físicos imediatos —como secas, enchentes e outros fenômenos climáticos—, o que ajudaria a explicar a aparente incoerência entre preocupação no curto e longo prazos.

"Pegamos uma época onde muitos riscos físicos estão se materializando. Por um lado, temos a crise hídrica, por outro há empresas interrompendo operações pelo excesso de chuvas", diz.

Empresas com metas para zerar emissões ainda são a exceção

Um reflexo do baixo senso de urgência em relação aos efeitos do clima no longo prazo pode ser percebido pela baixa adesão do mercado ao Net Zero —compromisso em zerar as emissões de carbono.

Segundo o levantamento, 27% das companhias brasileiras assumiram alguma meta Net Zero. No recorte global, a média é de 22%.

Entre as empresas brasileiras que firmaram o compromisso de serem carbono neutras, 43% dizem que o objetivo não está alinhado a metas científicas —o que também causa estranheza, segundo Colombari.

"Dizer que possui um compromisso Net Zero, por definição, deveria ser [algo] respaldado por critérios científicos", afirma.

Ele lembra que a COP26, a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, foi a edição com maior participação da iniciativa privada e que, por isso, esperava que os dados refletissem um maior engajamento com a agenda.

"Eu fiquei bastante decepcionado com o resultado da pesquisa, porque quando comparamos com o ano anterior o progresso foi muito modesto."

"A gente percebe que, apesar de tanto se falar em mudanças climáticas e desigualdade social, as temáticas ESG [ambiental, social e governança] continuam atrás de outras", diz Colombari.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.