Ômicron deixa prateleiras dos supermercados dos EUA quase vazias

Pandemia continua provocando problemas nas cadeias de abastecimento do país

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Delphine Touitou Juliette Michel
Bethesda (Estados Unidos) e Nova York | AFP

"Não é tão dramático como no domingo passado, mas ainda há muitas prateleiras vazias", lamenta Justin Toone, um cliente habitual de supermercados. A pandemia continua afetando as cadeias de abastecimento, e muitos supermercados nos Estados Unidos enfrentam escassez de produtos.

"Durante vários dias seguidos, não havia frutas ou legumes neste Giant (de Bethesda), nem nos outros supermercados do setor, Trader Joe's e Safeway", diz Toone.

Em outras lojas, mel, ovos, leite e carne desapareceram das prateleiras. Em Washington e nos estados vizinhos Maryland e Virgínia, a neve exacerbou esse problema recorrente de escassez desde o início da pandemia de Covid-19.

Lojistas enfrentam prateleiras vazias com problemas na cadeia de abastecimento - Scott Olson - 13.jan.2022/Getty Images/AFP

"Não há caminhoneiros suficientes e como eles estão sujeitos a regulamentações rígidas em relação às horas de trabalho e descanso, eles dizem 'vamos parar', bem, eles param e não nos abastecem", explica um funcionário do supermercado Giant em Bethesda que pediu para não ser identificado.

Quando a neve cai, é ainda pior.

No início da pandemia, por medo de desabastecimento, houve uma avalanche de demanda por alguns produtos como papel higiênico, o que gerou desabastecimento.

"Desta vez é diferente", disse o funcionário.

"A variante ômicron é tão contagiosa que tem um impacto quase simultâneo nos Estados Unidos", enfatiza Patrick Penfield, da Syracuse University.

Muitos funcionários da cadeia de produção de alimentos estão doentes ou em quarentena, interrompendo completamente a rede de suprimentos.

O fenômeno é generalizado em todo o país, mas é mais significativo em regiões que também enfrentam condições climáticas severas, como Washington.

E no caso de produtos frescos e facilmente perecíveis, é impossível armazená-los com muita antecedência, prevendo o mau tempo.

Daí as prateleiras completamente vazias de domingo, na sequência da neve que caiu durante a noite de quinta para sexta. Para o professor, a escassez de alimentos deve durar até o final de março.

Isso, "se tudo voltar ao normal e não houver nova variante", diz ele com cautela.

A Federação Nacional do Comércio (NGA), que reúne membros independentes do setor varejista alimentar, menciona ainda que a escassez de mão de obra continua "a nível nacional, pressionando indústrias essenciais como supermercados e alimentos industriais em geral".

Em uma pesquisa recente com seus 1.500 associados, vários deles "relataram operar suas lojas com menos de 50% de sua capacidade normal de trabalho, por curtos períodos, no auge da onda" de contaminação.

Além disso, a federação alerta os consumidores que ainda devem esperar "interrupções esporádicas", como acontece há um ano e meio.

Surto de ômicron pode desacelerar crescimento temporariamente

O aumento de infecções causadas pela ômicron pode desacelerar o crescimento nos próximos meses e prolongar os desafios da cadeia de suprimentos, mas a economia dos Estados Unidos deve retornar a uma trajetória mais forte após a onda passar, disse o presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams nesta sexta-feira.

Empresas podem sofrer um impacto no curto prazo conforme consumidores se afastam de atividades presenciais e algumas companhias ainda podem ter dificuldades para encontrar trabalhadores, afirmou Williams. Mas as interrupções podem não ser suficientes para desestabilizar a economia norte-americana, que pode crescer 3,5% este ano, segundo ele.

"Quando a onda da ômicron diminuir, a economia deve retornar a uma trajetória de crescimento sólido e essas restrições de oferta na economia devem diminuir com o tempo", disse Williams em comentários preparados para um evento virtual organizado pelo Conselho de Relações Exteriores.

A autoridade do banco central norte-americano afirmou esperar que o mercado de trabalho continue a se recuperar conforme a economia cresce e prevê que a taxa de desemprego cairá para 3,5% este ano.

John William, presidente do Fed de Nova York, durante evento na cidade de Nova York - Carlo Allegri - 6.nov.2019/Reuters

Uma combinação de forte demanda por bens e gargalos de oferta elevou a inflação para níveis "consideravelmente altos", disse Williams.

Mas as pressões de preços podem diminuir à medida que o crescimento desacelera e as restrições de oferta são resolvidas, afirmou ele, acrescentando esperar que a inflação caia para cerca de 2,5% este ano e se aproxime de 2% em 2023.

Formuladores de política monetária devem debater estratégias para elevar os juros e reduzir mais de US$ 8 trilhões em carteira de títulos quando se reunirem daqui a duas semanas. Um número constante de autoridades do Fed, incluindo a diretora do banco central, Lael Brainard, disse esta semana que podem aumentar os juros assim que concluírem seu programa de compra de títulos em março.

Williams disse que subir "gradualmente" a taxa de juros seria o próximo passo para remover a política expansionista, mas não comentou sobre o momento ou o ritmo de potenciais aumentos dos juros, dizendo que essas decisões seriam baseadas em dados econômicos.

(Com Reuters)

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