Descrição de chapéu Financial Times

Organizadores de feiras continuam otimistas, apesar do golpe da ômicron

Variante forçou mais adiamentos, mas indústria está pronta para quando a pandemia recuar

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Alistair Gray
Londres | Financial Times

"Quando o mundo parou, você continuou andando." O slogan receberá dezenas de milhares de empresas da indústria da construção, comerciantes e distribuidores que pagaram até US$ 600 (R$ 3.400) cada um para participar da feira World of Concrete (Mundo do Concreto) neste mês em Las Vegas —a menos que a variante ômicron do coronavírus force um cancelamento no último minuto.

Quantas exposições corporativas poderão se manter neste ano é uma dúvida renovada. Justamente quando os executivos tinham começado a preparar suas conferências novamente, após meses de restrições, a cepa de rápida disseminação da Covid-19 provocou mais uma rodada de adiamentos.

Na ExCel, um local no leste de Londres, a feira de tecnologia da educação Bett, o evento ICE do setor de jogos e a exposição de óculos 100% Optical, que teriam grande participação em seus setores, foram adiados no início do ano.

Alguns expositores, enquanto isso, se retiraram de feiras que continuam acontecendo. Amazon, Meta e Twitter estão entre vários grupos tecnológicos que desistiram de participações presenciais na feira CES (Consumer Electronics Show), embora os organizadores estejam determinados a seguir em frente com o evento, que deve começar nesta semana , também em Las Vegas.

Logo da CES (Consumer Electronics Show) em centro de convenções em Las Vegas - Patrick T. Fallon - 3.jan.2022/AFP

Depois de sobreviver a restrições anteriores provocadas pelo coronavírus, executivos inflexíveis por trás de algumas das maiores feiras setoriais estão tentando posicionar suas companhias para ter vantagens quando a pandemia finalmente recuar.

"Efetivamente, estamos agendando, remarcando, negociando, renegociando a cada três meses há quase dois anos", disse Stephen Carter, executivo-chefe da Informa, maior promotora mundial de feiras setoriais.
"Tem sido muito duro para nossas equipes, e muito duro para nosso relacionamento com parceiros de locação e fornecedores."

Mesmo assim, acrescentou ele, "os clientes continuaram muito decididos a participar —quando têm condições".

Carter está tão confiante em seus prospectos que identificou os eventos como uma das áreas prioritárias para expansão da Informa, juntamente com publicações acadêmicas.

Este mês, a companhia de mídia FTSE 100 divulgou planos de oferecer um portfólio de dados e publicações de ativos de consultoria avaliado em pelo menos 1,7 bilhão de libras (R$ 13 bilhões), e reaplicar uma parte dos fundos em seu negócio de eventos.

Os investidores continuam cautelosos. As ações da Informa caíram pelo menos 40% desde o início de 2020, enquanto a GL Events, de Paris, baixou 25% no mesmo período e a Emerald Holding, listada em Nova York, 62%.

No entanto, antes do surgimento da ômicron havia sinais encorajadores para o setor de que os delegados cansados do Zoom estavam ávidos para retornar.

Dados do Centro de Pesquisas da Indústria de Exposições (Ceir) mostram que o índice de cancelamento em exposições de empresas para empresas nos Estados Unidos melhorou de 98% no segundo semestre de 2020 para 19% no terceiro trimestre de 2021.

Apesar de um início lento no ano e de preocupações persistentes sobre o coronavírus, a Ceir estima que 15,3 milhões de pessoas participaram desses eventos nos EUA em 2021 —mais que o dobro do ano anterior, embora menos que a metade dos níveis pré-pandêmicos.

"A retomada mostra que o modelo é forte", disse Paul Thandi, executivo-chefe do grupo NEC, dono do Centro Nacional de Exposições do Reino Unido, em Birmingham. Entretanto, desde a propagação da ômicron "os expositores se tornaram mais avessos a riscos", acrescentou.

"Eles temem gastar milhares em estandes, pessoal e outras despesas", explicou ele.

Os eventos que deveriam ocorrer na NEC no ano novo que foram remarcados incluem a Lamma, uma feira de maquinário agrícola.

Apesar dos cancelamentos generalizados, poucos organizadores de grandes eventos até agora sofreram sérias dificuldades financeiras, em parte porque suas companhias matrizes têm interesses em outros setores que não foram tão duramente atingidos pela pandemia.

Uma exceção é a Comexposium, sediada em Paris, que passou grande parte do último ano em um "procedimento de salvaguarda", embora tenha saído dele em outubro depois que os acionistas injetaram 110 milhões de euros (R$ 713 milhões) no negócio.

Alguns outros organizadores recorreram aos acionistas por dinheiro no início da pandemia, ajudando-os a superar a tempestade. A Informa levantou 1 bilhão de libras (R$ 7,68 bilhões) em uma emissão no ano passado, equivalente a cerca de 20% de seu capital patrimonial.

Esquemas de licenças e outras formas de apoio do governo foram boias de salvamento. Em casos em que as autoridades impuseram restrições que impediram a realização de eventos, os seguros também foram cruciais, apesar de um âmbito de cobertura às vezes limitado.

Cerca de 65 milhões de libras (R$ 500 milhões) em pagamentos de seguro ajudaram a Hyve, outro organizador de eventos de Londres, a voltar a lucrar no ano até o final de setembro.

A pressão nos fluxos de caixa dos organizadores também foi menos intensa do que poderia ser, já que os expositores em geral pagam antecipadamente, disse Dan Assor, consultor da indústria de eventos.

Ele acrescentou que de certa maneira as mais atingidas foram as subcontratadas —geralmente companhias menores que fornecem equipamento como iluminação e mesas de atendimento, além de apoio logístico.

"A cadeia de suprimentos foi dizimada", disse Assor. "Muitos autônomos desapareceram."
Assim como em outros setores perturbados pelo coronavírus, os executivos esperam que algumas mudanças sejam duradouras.

Mark Shashoua, executivo-chefe da Hyve, disse que espera um abalo nas feiras menores. Mesmo antes da pandemia, disse ele, houve uma "atração gravitacional" para o evento maior em qualquer setor —tendência que a pandemia apenas acelerou.

"Se o evento e o setor estavam em ascensão antes da Covid, estão se recuperando muito depressa", disse ele. "Se era uma feira de segunda ou terceira linha, não está se recuperando."

Sarah Simon, analista da Berenberg, prevê que o setor fragmentado se consolidará. "Em curto prazo, em certos mercados, haverá uma disrupção contínua, o que eu acho que vai expulsar mais empresas fracas", disse ela. "Há muitos ativos de médio porte aí que poderão ser interessantes."

Analistas disseram que possíveis vendedores poderão incluir o Daily Mail e General Trust (DMGT), que, além de possuir o jornal de maior circulação no Reino Unido, entre outros títulos, também tem um negócio de eventos.

Seu portfólio inclui a Adipec, exposição da indústria de energia promovida pela Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi. A DMGT foi recentemente privatizada por Lord Rothermere, que estaria concentrado nos ativos editoriais da companhia.

Empresas como a Informa também estão tentando explorar melhor os dados gerados por esses eventos. Elas há muito incentivam os delegados a usar apps especializados, mas as recentes exigências de saúde e segurança tornaram o registro online compulsório em certos casos. Os organizadores estão tentando vender aos participantes serviços digitais mais relacionados, como encontros entre delegados e análises pós-evento.

Diferentemente das conferências, porém, ou pelo menos as discussões no palco que as sustentam, as feiras setoriais não podem ser facilmente recriadas online. É difícil sentir os tecidos, como na feira de moda Pure London, ou sondar remotamente as perspectivas da tecnologia móvel emergente, como na MWC Barcelona.

"É impossível replicar o cara a cara", disse Assor, acrescentando que as feiras facilitaram o comércio desde a Grande Exposição de Londres em 1851.

Chris Skeith, executivo-chefe da Associação de Organizadores de Eventos do Reino Unido, disse que a atração continua constante. "A dica está no nome", disse ele. "Feiras geram comércio."

"Você põe o dedo no pulso de tudo o que está acontecendo em seu setor —todos os concorrentes, os clientes, fornecedores estão em um lugar ao mesmo tempo. É uma maneira incrivelmente eficaz de fazer negócios."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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